Depois daquele banho quentinho, que a gente geralmente toma no finalzinho das tarde frias, eu quis tomar mais um banho, mas dessa vez um banho de luar.
Pelos corredores ouvi um burburinho. Vovó dizia baixinho: — Talvez ela precise de um acompanhamento psiquiátrico.
— Ah mãe, eu havia pensando num psicólogo mesmo. Eu já acho suficiente. Não acho que seja nada assim... Nada que seja neste aspecto...
— Tenho medo por ela. Essas coisas que ela fica criando na cabeça dela. —, ela quase cochichava.
— Mas é porque ela fica lendo muitos livros, mãe. —, tia Rosa respondeu. — Aqueles livros cheios de ideias de fantasias. Eu já falei disso.
— Fala baixo, sua bocuda! —, vovó temia ser ouvida. Temia ser ouvida justamente por quem estava as ouvindo.
— Desde menina pequena, a Cecília só fica com esses livros na mão. Isso não é normal gente. —, baixou o tom da voz. — Não se via ela com amiguinhos... Esses coleguinhas de escola mesmo. Sabe? Ah eu acho esquisito isso.
— Mas ler é uma coisa boa, minha filha.
— Não quando você se dedica única e exclusivamente a isso. É ótimo, mas não é saudável ficar com a cara metida nas palavras e não ter uma vida social. E isso ela não tem, não adianta querer negar que...
— Rosa, eu não estou querendo nada. Não sei o que você está insinuando. —, incomodos flagelados.
— Sabe o que eu acho? —, minha tia parecia exaltada. Eu digo isso julgando pelo seu tom de voz.
— O que você acha? —, vovó também estava perdendo a estribeiras.
— Que a pobrezinha cresceu muito jogada. —, falou num impulso impetuoso.
— Isso não é verdade. —, negas. — Todo o carinho e afeto que eu pude dar pra ela eu dei. Deus é prova disso.
—Mas não é sobre você. É sobre os pais dela. —, parece que titia estava suspirando. Tomando alguma coragem.
— Helena nunca teve consideração suficiente que uma mãe precisava ter. Toda a atenção e assistência que ela precisava receber da mãe ela recebia da senhora.
— Não fale assim da sua irmã, Rosa. —, vovó se alterou. — Ela não está mais aqui pra se defender das suas acusações.
— E nem quando ela esteve aqui ela estava presente pra própria filha dela. —, titia afiada rebateu. — Suas motivações sempre foram egoístas, centradas no EU, voltadas pro próprio umbigo. Quem teve que trocar fralda dessa menina foi a senhora e não ela. Ela não experimentou o que é ser mãe. Ela não tinha propriedade pra isso e nem se importava com isso. E no fim tudo isso culminou em calamidade. Toda aquela vontade de ser livre e descompromissada, mesmo quando ela tinha compromissos arcáveis aliás, terminou em tragédia, fatalidade.
— As águas passadas não movem moinhos, Rosa. Deixa disso já! —, ordenou vovó.
— Movem. —, desobedeceu. — E como movem. Se não fosse todo os descaso da Helena e toda a solidão materna que ela proporcionou à Cecília, hoje ela não estaria assim tão problemática. A criança necessita disso. Precisa da aprovação, da atenção, da presença, da dedicação dos pais. A coitadinha foi abandonada pela Helena. E a senhora não finja que não sabe disso. Percebe-se e é entendido. Negar esse fato é inviabilizar os traumas dela e eu sinto que a Senhora não precisa disso pra proteger a maravilhosa sem defeitos da Helena. —, deu o veredito e então todos os silêncios se fizeram.
Controlando a minha respiração e na ponta dos pés, eu dei meia volta de volta ao meu quarto. Eu queria estar lá, de baixo da cama, pra ver como seus corpos gesticulavam e suas expressões faciais. Naquela noite eu não conseguia dormir. Parece que eu só sabia pensar. Uma coisa ruim apertando o peito, um amargor no âmago, uns olhos pesados. Ficou nessa ruindade até de madrugada, quando enfim peguei no sono depois de tanto matutar.
CZYTASZ
OCEANO EM SEUS OLHOS
RomansAs ondas inconstantes do mar, com seu vai e vem, indo e vindo, trouxeram para um novo e inesperado amor para Cecília. Sua vida, se transformará completamente a medida que se encanta, fascina e apaixona pelos mistérios da existência de Benjamin. Um...