🌊 De volta para casa 🌊

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Muito além da selvagem imensidão do azul
Tão longe além das paredes gélidas incolores
Tão muito no poente do horizonte
Finalmente as canoas vazias regressam cansadas para o lar

Muito além da selvagem imensidão do azulTão longe além das paredes gélidas incoloresTão muito no poente do horizonte Finalmente as canoas vazias regressam cansadas para o lar

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Por mais grave que isto possa parecer, para que vovó não se preocupasse, combinamos de manter guardado em sigilo as âncoras passadas. Fiquei um pouco aflita de ter que mentir, mas entendi a precisão da mentira, embora concordasse em meu íntimo que nenhuma mentira era necessária, mas por meus receios da consequentemente aceitei que deveria mentir.

A viagem foi longa, chata e cansativa. Não tive ânimo algum para terminar a leitura do livro, nenhuma música me parecia interessante e as paisagens lá fora me chateavam por serem tão rápidas, não conseguia as apreciar com exatidão, não pude dormir, pois meu estômago reclamava, por vezes precisei usar o saquinho. Tentei cantarolar, mas ânsias me vinham. Tentei pensar, mas sufocos me perturbavam, mente vazia morada do diabo, suplico em sofreguidão que acabe este meu anseio de ilusão, caleidoscópio de aptidão.

 Tentei pensar, mas sufocos me perturbavam, mente vazia morada do diabo, suplico em sofreguidão que acabe este meu anseio de ilusão, caleidoscópio de aptidão

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Enfim, chegamos depois de várias horas de tédio e inércia. Era madrugada, mas Tia Rosa nos esperava. Depois de alguns abraços e conversas paralelas tomei um banho e me joguei na cama. Dormi, dormi e dormi.

Acordei meio zonza, um pouco molenga, extirpada de minhas noções. Caminhei sem precedentes até o banheiro, tudo parecia tão opaco e sem vida. Não ouvi o mar, não ouvi o pássaros e também não ouvi a voz do vento contando-me novidades. Fiquei em estado de hipnose enquanto diversas fotografias se passavam pela minha mente. Canoas vazias voltando para casa e a noite vestida de neblina, fumaça do desconhecido, repentino, súbitos e eloquentes contos de amor. A voz me falha ao ver Benjamin estendo a mão para a jovem e bela Alice, convidando-a para um passeio de canoa. O grande mar rugindo, parece ofegante, raivoso, temeroso. Grito! O fogo do mar percorre-me os músculos. Dentes cerrados e cacho de acácias. Os dois, eternos apaixonados, namorados, amados que sorriem na luz serena do céu à benevolência do sol, toque de jasmim; o puro amanhecer. Tão conectados, por vidas, almas, correntes. Chuva de estrelas. Suspiros de amor, calor da paixão morte e vida. Sinto minhas pernas fracassarem, falta me o ar, vista limitada, a canoa longe se vai. Em meio ao meu devaneio caio pelo chão molhado do banheiro. O chuveiro que estava ligado jorra a água fria caia sobre minha cabeça molhando o meu cabelo ressecado pela água do mar de outrora, o zangado Noronha. Impaciente, o belo Atlântico enamorado pela costa do nordeste, belíssima enseada, orla de Iemanjá. Ali permaneço, fora de mim até que ouço Ella Fitzgerald tocando no rádio lá em baixo. Summertime sempre foi um das canções favoritas de mamãe. Ouvi-la rasga-me a alma, carne e pele. Onde estará mamãe agora? Foi tão doloroso, injusto e incompreensível, para mim, quando o mar a levou. Levou para longe de mim.

OCEANO EM SEUS OLHOSWhere stories live. Discover now