ato XXVIII: catastasis

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[🎭] 2014 [🎭]

- Catástase.

Essa é a primeira palavra que o nosso professor de atuação dita, enquanto deposita os livros na bancada acima do palco.

Abro os olhos, estou de volta às Belas Artes, dois mil e catorze, mais calouro do que nunca.

Há um pequeno palco em nossa frente, em miniatura, refletindo o tamanho do nosso sucesso enquanto ainda estamos aprendendo sobre a arte da atuação.

Estamos sentados em cadeiras da cor vermelha, vermelha como sangue, seus braços estão tão gelados como o ar condicionado, proporcionando um frio esquisito em meus cotovelos.

Há um ponto bom nisso tudo: minha cabeça não dói mais. E sim, eu literalmente passei dois dias de ressaca, uma ressaca infernal.

Uma ressaca digna de alguém que nunca tomou um porre na vida, uma ressaca de alguém que nunca vomitou no gramado da mansão dos Kang's.

O professor está vestindo uma camisa azul escura, seus braços fortes cobertos por um casaco de lã, há também uma boina em seus cabelos.

Tudo que sei é que seu nome é Jackson, ele tem vinte e oito anos, e seus cabelos possuem mais gel do que fios soltos.

Meu cabelo parece desgrenhado, não estou tão bonito quanto parecia estar, e meu colega de quarto, Haechan, me acordou aos gritos.

Estou tendo o primeiro melhor dia de aula da minha vida: tomei um porre, não penteei os cabelos como deveria, e só estou de olhos abertos por conta do café.

- O que vocês imaginam, pensam, sonham sobre a palavra: catástase? - Ele indaga, arregaçando as mangas.

Todos ficamos calados, talvez, amedrontados demais para responder e correr o risco de errar, da garganta falhar, de estar entalado.

Ele cruza os braços, esperando uma resposta positiva, qualquer interação, mas estamos em total sintonia com a opção de não o responder.

Uma voz vibra atrás de mim, em uma das cadeiras do fundo, uma voz rouca, mas aveludada, uma voz grossa, mas bem acentuada, uma voz incrível de se ouvir.

- É a terceira parte da camada da tragédia clássica, posterior a prótese e epítase, na qual os acontecimentos se esclarecem e sofrem o seu desenredo.

Todos viram a cabeça na direção da voz, nessa altura do campeonato, impressionado com tamanho conhecimento.

E de fato, eu deveria estar. Meu destino nunca me beneficiou em questões de conhecimento sobre o teatro, já que fui alvo de um caça talentos.

- A catástase faz apologia ao último ato, ao momento em que você percebe que você chegou ao fim, o clímax ou o desfecho que nos leva a epifania - Ele continua, soando extremamente confiante.

E então, eu resolvo olhar para trás, me apoiando no encosto da cadeira, virando o rosto gentilmente para observar aquela pessoa tão inteligente.

- Excelente, Sr. Jeon! Perfeita definição.

Meus olhos se arregalam, porque ali, no fundo da sala, com o corpo jogado na cadeira e o semblante sério, está o cara que me abraçou ontem.

Ele mantém seus olhos na direção do professor, ignorando os espantos de todos diante da sua fala impecável, como se não ligasse para a opinião de nenhum de nós.

Como se fosse inalcançável, ou de certa forma, inabalável.

Seus olhos continuam no mesmo escuro, seus cabelos cobertos pelo boné, na extensão de sua aba, uma argola acinzentada, seu torso coberto por uma camisa social escura, um pouco maior que o seu corpo.

Disorder  | Jikook (Incompleta)Where stories live. Discover now