Duquesa Anastásia - Era Uma Vez Em Dezembro

No mês de dezembro

Sinto uma vibração dentro de mim! Algo que nunca senti antes. Uma voz me dizendo para explorar mais, conhecer mais esse lugar.

Ouço uma canção em minha mente, fico em silêncio, fecho os olhos tentando me concentrar no toque da música, no tipo de vibração que ela produz no meu corpo. Um som tão... calmo, elegante, que parece carregar lembranças. Começo a girar e rodopiar com a mão no coração, minhas batidas se igualam ao som da bela canção. Não são pianos tocando, nem violinos... são como uma caixinha de música, emitindo um som tão contagiante. Eu já sonhei com essa canção, a única lembrança de que tenho dela é que... alguém a cantou! No mês de dezembro..., mas não consigo me lembrar quem.

Ouço bem a letra, a voz que canta. E assim meus pés se deixam levar para esse tipo de música sedutora. Começo a ter visões, tempos passados, dias de felicidade, cavalos na tempestade... tudo que diz a música, eu posso ver.

E assim ela diz... que foi no mês de dezembro.

Eu posso recordar... vejo um imenso salão! O mesmo que estou, só que aparentemente anos mais novo e limpo, várias e várias pessoas dançando valsa, mulheres com vestidos lindos e brilhantes, de gala. Homens com seus ternos brancos, vermelhos e pretos, cheios de medalhas de ouro.

Atrás de mim, a enorme escada! Lá surge dois grandes tronos. Com um rei e uma rainha. Eles se sentam e começam a me olhar, atrás veem três damas e um menino. Descendo do pedestal, e vindo em minha direção. As três belas mulheres também têm coroas nas cabeças. São da realeza! Elas começam a girar em minha volta, sorrindo, cantando. Eu estou vendo coisas...

— Venha querida! Dance conosco... — a que parece mais velha diz sorrindo. Eu fico confusa com tudo isso, mas eu estando envolvida pela música, acabo não dando muita atenção.

Eu começo a rir com o toque delas em meus braços. É como se houvesse algum tipo de intimidade, como se fossemos próximas. Elas me puxam para o meio do salão, onde as pessoas dançam sem perder o ritmo. Olho para elas como se as conhecessem....

Lembro-me... Olga, Maria, Tatiana... e aquele menininho lá no fundo... Alexey. Eu sorrio! Eu as reconheço, são as meninas do quadro. Me envolvo no ritmo da música. E começo a cantar...

Tatiana me coloca um colar de pérolas brancas. Olga me põe uma linda coroa de brilhantes...

Maria pega minha mão e me rodopia. Um brilho forte me cobre como uma grande cortina dourada! Em poucos segundos me vejo dentro de um lindo vestido amarelo, de fitas azuis, coberto de cristais. Meus saltos dourados, e meu cabelo preso em um enorme laço azul. Eu me sinto... linda.

E assim a música aumenta, continuo a cantar e a dançar por toda a extensão do salão. Alguém de repente me pega pela cintura e me cola ao seu corpo. Um homem! Loiro, e belo de olhos azuis. Ele começa a dançar comigo, eu nem o conheço, mas acabo me deixando levar pela canção.

— Dias de felicidade, e os cavalos na tempestade... são imagens a dançar que eu posso recordar. — Canto baixo, ditando apenas o que surge em minha mente.

Quando chegamos a metade do salão ele me solta, me fazendo rodopiar e parar nos braços de um negro, lindo! De cabelos pretos cacheados e olhos castanhos. Sorrio a ele que me cola contra seu corpo e dança comigo.

— Muito tempo passou, disso eu sei que me lembro, você vai vir pra mim... foi no mês de dezembro. — Assim como o outro, ele me gira, me fazendo parar nos braços de um ruivo, alto de olhos esverdeados. Esse me agarra sem querer me soltar. Ele pega na minha mão e me leva ao interior do salão, canto as palavras que veem a minha cabeça.

A canção que nos faz nos movimentar no ritmo certo, e assim começo a desenhar seu rosto em minha mente. Ele tem um sorriso encantador...

As pessoas começam a parar de dançar, e a se juntar no canto do salão de baile. Ficamos só nós dois com aquele imenso espaço, e todos nos encarando. Ele então me solta e se afasta fazendo reverência. Olho para o lado vendo um senhor me dando a mão para dançar... o imperador. A canção começa a ficar mais lenta, chegando ao seu fim. Eu cedo minha mão a ele e ele se aproxima pegando minha cintura e dançando comigo lentamente, apenas alguns passos.

Seu perfume, seu rosto, até mesmo sua roupa me faz ter algum tipo de atração. Eu sinto que o conheço! E ele me conhece, ele sabe sobre mim... ele pode me ajudar. E novamente, a música me impede de perguntar.

Eu sei que me lembro... a canção de alguém... foi no mês de dezembro...

E assim, paramos a dança, a música me deixa terminar num som calmo e agudo. Ele beija minha testa, e se afasta lentamente.

"Eu te amo An..."
...

— Ei! Você! O que está fazendo aqui? — levanto a cabeça num susto.

Me encontro sentada no chão, no meio do enorme salão, ah não! Eu estava dormindo. Olho para a direção de onde vem a voz que me grita, vendo um homem alto no pedestal da escada. Onde fica os tronos.

Ele desce as escadas correndo, vindo em minha direção.

Droga! Tenho que sair daqui agora.

Saio correndo! Ele parece estar nervoso... vai me machucar. Me levanto saindo em disparada em direção ao outro pedestal, ele corre mais rápido quase me alcançando...

— Ei! Espera! Calma! Volta aqui!

— Me deixe em paz. — Subo as escadas, quando ele segura meu braço, me fazendo parar. Eu sem pensar dou um tapa certeiro em sua cara... fazendo ele me soltar. Eu apenas paraliso no lugar, não sei o que fazer. Será que eu o machuquei muito?

— Aiii! Inferno! Fica calma! Eu não vou te machucar! — diz segurando seu rosto que ficou com a marca do meu tapa. — Como foi que você entrou a... aqui.... — Ele gagueja quando olha para meu rosto. Fica me encarando que nem um louco! Qual é o problema desse cara?

Será ele o tal Dimitry?

Nem ouso perguntar, o jeito que ele me encara não me deixa muito confortável, é como se estivesse vendo um fantasma! Fica me olhando, boquiaberto. Isso está começando a ficar estranho...

— Você...— diz sem ao menos piscar, estou começando a ficar assustada. — Você é...