Dia do Armistício

72 11 0
                                    

Ela surge ao lado de Sophia, que como sempre esbanja sua felicidade por onde passa. As duas aparecem de mãos vazias, o que me surpreende! Já que ficaram o dia todo fazendo compras..

Meus pensamentos são interrompidos quando Annya me estende a mão esperando que eu pegue, e assim faço.

— Você está linda. — Acabo dizendo sem pensar. Droga! Devo estar com a maior cara de bobo apaixonado.

Concentre-se Dimitry.

— Obrigada! Você também está. — Suas bochechas coram. Eu assinto como forma de agradecimento e ela entrelaça seu braço no meu, afinal estou de acompanhante.

— Onde estão suas compras querida? — pergunta Vladimir — pela demora de vocês duas achei que tivessem comprado toda Paris.

— Eu às dei para o motorista levá-las para casa pompom. — Responde Sophia. Acho graça do apelidinho fofo que ela deu a ele.

— Nós não íamos de carro até o restaurante? — questiono

— Carro? Para quê carro quando se tem o festival do "dia do Armistício"? — Sophia responde entre risos e sorrisos.

— Dia do Armistício? — indaga Annya.

— Sim querida! Aqui em Paris celebramos o dia em que se assinou o tratado de paz que daria por finalizada a primeira guerra mundial. — Ela tem razão! Hoje é 11 de novembro, dia do Armistício. Esse evento ocorreu em 1918, quando foi cessada a primeira guerra aqui na França, porém ela continuou se alastrando na Rússia até 1921, ou seja, a quase 4 anos atrás. Como nosso país ainda está se reestruturando não tem muito o que comemorar, já que a guerra mesmo depois de finalizada deixou muitas sequelas a população.

— Quanto mais conheço esse lugar, mais gosto dele. — Murmura Annya, encantada ao ver fogos de artifício explodindo no céu noturno, do lugar onde estamos podemos avistar a lua prateada brilhando as margens do rio sena, onde também pode-se ver a torre Einfell, o ponto principal de Paris.

— Aah minha querida... seja bem-vinda à Paris...— Sophia passa à nossa frente e compra duas pequenas rosas de uma florista com uma cesta cheia delas —, onde quem leva a flor..., é feliz.

Ela entrega uma flor a mão de Annya e a outra coloca no bolso do smoking de Vladimir. Annya faz o mesmo comigo, e logo segura meu braço novamente. Passo a mão sob a flor rosa achando graça em seu gesto.

Todos andamos juntos pelas ruas de Paris, ao caminho vamos encontrando os mais diversos tipos de loucuras! Acaba de passar por mim uma mulher carregando uma onça pintada na coleira.

Esfreguei meus olhos por achar que estava enganado, mas não! Era exatamente isso que vi, e não qualquer mulher! E sim Josephine Baker, mais conhecida como "a deusa crioula", dançarina e a primeira estrela negra das artes cênicas, essa mulher é um ícone! Não acredito que estou vendo-a nas ruas de Paris.

À cada passo dado vou encontrando muitos rostos conhecidos que jamais pensei que veria, me sinto realizado. Principalmente por ver Annya olhando para tudo com um sorriso estampado, parece estar sendo a melhor noite de sua vida.

Olho para os lados procurando algo de mais incrível para ver.

Há um homem sentado na calçada pintando um quadro semelhante à "noite estrelada" de Van Gogh, diversos palhaços fazendo manobras e distribuindo doces as crianças e confetes coloridos espalhados por toda parte.

Tem muito espaço para carros passarem, mas no momento não vi nenhum, talvez Sophia não seja a única a não querer ir de carro. E não tiro a razão dela, tudo aqui tem algo admirável de se ver.

As ruas lotadas, o céu transbordando fogos de artifício e bailarinos e figuras animadas por toda parte. O que não falta é música! A música é o que mais está se destacando por parecer estar sendo cantada por toda Paris.

Caminhamos em meio a uma multidão que anda na mesma direção cantando. Vou olhando aos lados onde vejo pessoas famosas se misturando com os outros sem chamar atenção, dá para ver que é uma data realmente importante.

Estão cantando em francês, mas com pouco esforço consigo traduzir em minha mente a letra da música:

A chave pro seu coração
Paris pode pôr na sua mão.
A cidade é sua, vá curti-la na rua
E logo Paris vai cantar para você

Uh-lalá!
Uh-lalá!
Uh-lalá!

Paris é o lugar de l'amour,
cuidado onde você for...

O amor está no ar,
lá em Follies Begere,
O amor, em Paris, é uma arte!
E quem vem para cá toma parte

Uh-lalá!

Se quer le alegrar,
Vá ao Le Moulin!
Em Paris ninguém se sente só.
Fique logo tonto,
Com o can can.

Todo mundo dança, você vai dançar!
Hei! Hei! Hei!

Paris abre o seu coração,
será très jolie nesse chão.
Você vai dançar,
até o dia raiar.

Na cidade luz!
Tudo aqui lhe seduz!
A chave para o seu coração
Paris pode por...

Na sua... Mão!

Uh-lalá!
Uh-lalá!

A música acaba e todos batem palmas e riem. Mesmo que cada país tenha seus defeitos é como se aqui não existisse isso.

— Queria poder entender o porquê ainda sinto falta da Rússia, quando Paris é o sonho de qualquer pessoa.

— Porque lá é seu lar. — Annya surpreendentemente me responde, só aí percebo que acidentalmente falei em voz alta.

— Eu não tenho boas lembranças de lá...

— E eu não tenho nenhuma! E ainda sim sinto saudades, por saber que é minha nação! É onde nasci e cresci e onde tenho um passado, eu sou o que sou graças a Rússia! E lá sempre será minha casa, apesar de tudo. — Algo cintila no rosto dela por uma fração de segundos.

Só agora percebo o porquê ela tem essa "fixação com lar". Não porque não se lembra de sua família, e sim porque ela ama seu país.

Que ironia, ela ama o país, mas não sabe que é a legítima herdeira ao trono.

— Me desculpe...

— Pelo que? — seus olhos reluzentes se fixam em mim, eles me prendem de uma forma absurda... é como se só existisse nós! Mais nada, e mais ninguém.

— Por ter dito no navio que você só falava de lar porque nunca teve um! Agora eu entendo, você ama a Rússia porque faz parte dela... — e ela parte de você —, nunca pensei por esse lado. — Ela sorri para mim de forma prazerosa, e eu sorrio por tê-la feito sorrir.

Mais uma vez.

[...] 

Duquesa Anastásia - Era Uma Vez Em DezembroWhere stories live. Discover now