Reais motivos

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Ruas de Páris (23:40hrs)

Finalizamos o dia voltando a pé para casa. Por debaixo de uma noite serena e estrelada, a lua se ilumina como uma grande lamparina no céu! Sem nenhuma nuvem para atrapalhar. 

Ao caminhar pelas ruas pisamos em vestígios da comemoração de hoje, que agora desandou para o outro lado de Páris. Ainda pode-se ouvir a música.

Dimitry anda ao meu lado enquanto Sophia vem atrás, cambaleando nos braços de Vladimir, totalmente bêbada.

No final não consegui o número de telefone do duque, acho que falhei. Sophia falou pra mim não me preocupar porque provavelmente ele vai dar um jeito de me procurar.
Aguardo ansiosamente.

Eu e Dimitry andamos lado á lado, devagar, aproveitando a serenidade das ruas. O momento é desconfortante, já que depois da cena de hoje nós não nos resolvemos.

— A gente precisa conversar. — Diz ele quebrando o silêncio.

— Diga...

— Eu... quero que saiba que tudo que eu falei é mentira! Eu não penso aquilo de você, falei porque estava com raiva — Esfrego meus braços arrepiados ao sentir o frio batendo —, E... — ele tira seu paletó e gentilmente coloca sob meus ombros percebendo que estou com frio — quero te pedir perdão.

Ele vira seu rosto em minha direção, me dando o deslumbre de enxergar o reflexo da lua em seus olhos. Posso ver que está realmente arrependido, mas não consigo deixar de perguntar:

— Raiva? Eu não diria que aquilo foi raiva Dimitry, você simplesmente me viu flertando com um homem e teve uma crise, pra mim isso tem outro nome. — Sou clara e objetiva.

Ele estremece, sendo pego de surpresa. Espero sua resposta pacientemente pois sei que ele está pensando numa maneira de encontrar uma saída da situação.

— O-o que? Ciúmes? Eu não tenho ciúmes de você Annya. — Não sinto firmeza em sua frase.

— Não é o que parece.

— Eu só prefiro que você não se envolva com ninguém enquanto não alcançarmos nosso objetivo. Porque além de se distrair você pode perder o foco nos estudos. — Parece uma resposta pláusível.

— Se esse é o problema posso te garantir que o motivo de eu estar aqui é para reencontrar minha família; e nada vai impedir isso, nem mesmo um homem.

— Eu acredito em você.

— Então se você sabe disso, e não tem ciúmes não vejo o porquê de você querer interferir. 

— Certo, sendo assim eu não vou mais intervir na sua vida pessoal.  — Fico surpresa, não esperava essa reação.

Vida pessoal... até ontem nem eu, nem ele e muito menos o Vlad tinhámos vida pessoal. Estávamos só nós três dividindo os mesmos acontecimentos, os mesmos assuntos e a mesma vida, está claro que isso está começando a mudar. 

Não sei se quero que isso aconteça.
O silêncio volta a reinar entre nós dois, ele suspira agoniado e diz:
— Annya... já se perguntou o porque eu e Vladimir a trouxemos até aqui?
— Sim! Porque vocês me acharam e decidiram ajudar, me trazendo de volta. 

Dimitry para no caminho e me segura pelos ombros, em frente a paisagem da Torre Einfell.

— Então você é mais inocente que pensei. — Faz um sinal para que Vlad ande na frente com Sophia.

— Cuidado com o que fala Dimitry. — Avisa Vladimir, nos ultrapassando.
— Inocente? — questiono.

— Annya, eu não quero que criemos laços porque — suspira — eu vou embora. — Meu coração para de pulsar por alguns segundos.

— Eu não estou te entendendo Dimitry. — Ele me olha fixamente, como se procurasse uma maneira menos dolorosa de me falar.

— Nós te trouxemos aqui pela recompensa que vamos receber, assim que te entregarmos. — Eu não posso ter ouvido direito...

Recompensa? Então tudo isso foi por dinheiro? Como eu sou burra! Como isso nunca passou pela minha cabeça?

— Vladimir... eu não posso acreditar que ele tenha concordado com isso. — maneio cabeça sem acreditar.

— No início sim, mas ele não quer mais, pela Sophia.

— E você quer!? — eu o afasto dando um empurrão forte em seu peito, sinto meu sangue fervendo.

— Pense pelo lado bom Annya! Nós dois vamos sair ganhando! Você a sua vó, e eu o dinheiro. — Viro de costas, sem coragem de olhar pra cara dele. 

Vou respirando fundo tentando me acalmar.

Eu queria tanto dizer a ele! Dizer que gosto dele e que eu não sairei ganhando se ele não ficar aqui, comigo.

Minha vontade agora é de me acabar em lágrimas! Dizer tudo que sinto e que as coisas não precisam ser dessa forma. Mas pra quê? Pra quê me humilhar se ele acaba de deixar claro que não podemos nos envolver? Que seu objetivo desde o começo é pegar o dinheiro e ir embora.

Não é possível que tenha sido ilusão, que o que aconteceu hoje naquele restaurante não tenha sido uma crise de ciúmes e apenas preocupação. Que nada do que eu senti em todos esses dias não tenha sido recíproco.

— Porque você está assim Annya? O que eu te falei não tem nada de muito errado. — ele se aproxima apoiando suas mãos quentes em meus ombros.

E realmente é verdade! Não tem nada de errado, não tem  motivo para eu ficar nervosa com isso. Porém não posso dizer o mesmo sobre a tristeza que está agora apertando meu peito.

Não consigo! Não posso mais guardar isso comigo.

— Dimitry eu... — me viro de frente para ele, deixando transparecer as lágrimas que tanto me esforcei para segurar. As mesmas agora umedecem minhas bochechas e borram minha maquiagem.

— Diga. — Ele coloca a palma de sua mão em meu rosto e me olha com ternura.

Que se dane.

— Eu não saio ganhando Dimitry! Não ganho nada se não estiver com você ao meu lado. Você não vê que eu sou completamente apaixonada por você?

Duquesa Anastásia - Era Uma Vez Em DezembroWhere stories live. Discover now