CAPÍTULO 14

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ANNIE

A noite, estávamos todos na boate do hotel, conforme havíamos combinado. Eu havia acabado de chegar com a Sarah, e lá dentro encontramos o Chris e alguns outros colegas de nossa classe. Eu vestia uma saia jeans rasgada, com uma camiseta por dentro e uma jaqueta de couro por cima. Utilizava acessórios prateados que combinavam com a jaqueta e calçava sapatos de salto. Antes que eu conseguisse pegar uma bebida pra mim no bar, que estava lotado, meu celular tocou. Olhei pro visor e vi o nome de meu pai. Merda.

Sai correndo pelo meio da multidão, tentando alcançar a saída ou algum lugar aberto para que pudesse atender sua ligação. A primeira porta que encontrei foi a da área de fumantes, que era basicamente uma varanda do local, com poucas mesas e algumas pessoas em pé.

- Alô? - atendi assim que cheguei no silêncio -

- Anastasia! - ele gritou - Por que diabos você não me ligou?

- Me desculpe, pai. Chegamos no resort e tivemos programação durante o dia todo. Acabei esquecendo. - informei, com sinceridade -

- Esqueceu? Você esqueceu? - ele berrou - Como pode esquecer uma promessa que me fez? Como pode não honrar sua palavra com seu próprio pai?

- Pai, também não é pra tanto... é só uma ligação! - expliquei -

- Não, não é só uma ligação! Eu estive preocupado com você durante todo o dia! Você sequer me avisou que tinha chegado em Palm Springs e a Sarah também não atendeu nenhuma das ligações que fiz pra ela! Como você acha que eu me senti?

- Eu sinto muito. - pedi, tentando encerrar aquela ligação -

- Mas é óbvio que você sente. Você é igualzinha à sua mãe. Irresponsável e imprudente! Eu quase morri de preocupação! É isso que você quer? Que eu morra? Quer ficar órfã de uma vez por todas? - meu coração doeu com as palavras dele e meus olhos se encheram de lágrimas. Ele sabia que mesmo que eu não tivesse conhecido minha mãe, aquelas palavras me machucariam -

- Não diga isso. Não é justo. - pedi, enxugando as lágrimas -

- Arrume suas coisas. Amanhã de manhã o meu motorista irá te buscar. Se você não tem responsabilidade para lembrar de me fazer uma ligação, também não tem maturidade para viajar sozinha. - informou com rigidez e desligou o telefone. Eu funguei, tentando conter as lágrimas, até que fui surpreendida por uma voz familiar -

- Problemas no paraíso, Flor? - olhei para o lado assustada e me deparei com o Luke, encostado na parede, com um cigarro na mão -

- Oi, Luke. - enxuguei o resquício das lágrimas que estavam no meu rosto, numa tentativa inútil de que ele não percebesse que eu estava chorando - Não tinha visto que você estava ai. - ele se aproximou de mim, encostando os braços na sacada, assim como eu -

- Você está bem? - questionou ao tragar o seu cigarro, parecendo interessado na resposta -
- Estou. Caiu um cisco no meu olho. - ele riu -

- Essa desculpa já funcionou com alguém? - eu sorri com o seu comentário -

- Está tudo bem. - informei, dessa vez com mais sinceridade na voz - Apenas alguns problemas com meu pai.

- A noite é uma criança, Flor. Mande o seu pai ir à merda e aproveite-a. - sugeriu, me olhando nos olhos -

- Pode ter certeza que essa alternativa passou mil vezes pela minha cabeça enquanto estava no telefone com ele. É só que... ele sabe exatamente o que dizer para me machucar e eu acabo perdendo a razão.

Eu não sabia exatamente porque estava falando com ele sobre aquilo, mas de certa forma me confortava saber que ele estava, pela primeira vez, me escutando atentamente sem fazer nenhuma piada ou ser arrogante.

- Não fica aí se lamentando, não... Olhe para mim, veja, sou exemplo. Saia, descubra, machuque muitas pessoas, beba sem limite, preocupe-se somente com você. O resto não passa de resto. - ele sorriu, tragando novamente o cigarro -

- É uma filosofia de vida bem corajosa. - eu sorri de volta -

- Tem dado certo pra mim. - ele deu de ombros. Subitamente percebi que estávamos perto demais um do outro - Você fuma? - me ofereceu, e eu balancei negativamente a cabeça, o que fez com que ele guardasse o maço de cigarros e o isqueiro no bolso novamente -
- Que cicatriz é essa que você tem? - perguntei espontaneamente, me arrependendo logo em seguida. Por que quando eu estava com ele eu sempre tinha que falar tudo que vinha na minha mente? -

- Você vai precisar ser mais específica, Flor. Eu tenho várias. - eu ri -

- Essa em cima da sua sobrancelha. - eu falei, quase tocando seu rosto -

- Ah, essa. - ele levou a mão à cicatriz - Foi numa briga em um bar no ano passado. Um cara tentou acertar meu olho com uma faca. - eu arregalei os olhos -

- Que horror! - eu falei, espantada -

- Por que? O cara errou. - ele me cutucou com os ombros, me fazendo rir novamente com seu comentário -

- As outras cicatrizes eu suponho que tenham sido adquiridas da mesma forma. - informei, tentando conter minha curiosidade -

- A maioria delas eu ganhei nos ringues, lutando de forma "legal", por assim dizer. Eu não ando por aí fazendo mal a ninguém, se é o que você pensa. Eu só não deixo que façam mal a mim. - ele jogou o cigarro no chão e pisou, apagando- o -

- Mais uma filosofia de vida digna de ser lembrada.

- Digamos que eu faço o que quero, quando quero, e até que vivo bem. - sorriu, finalizando - Eu vou entrar. Você vem?  - me olhou, convidativo -

- Não, preciso voltar pro quarto e arrumar minhas coisas. Vou voltar pra casa amanhã de manhã. - informei, com tristeza na voz - Aliás, pode dar esse recado pra Sarah, por favor?

- Eu até poderia. Mas sinceramente... seu pai está tentando criar um pássaro dentro de uma gaiola. Ele nunca vai conseguir. É difícil aprisionar os que têm asas. - sorriu, entrando na boate -

Proibida Pra MimOnde as histórias ganham vida. Descobre agora