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Ao final do expediente, ainda no corredor que dava acesso do palco para os fundos, o dono do estabelecimento a encontrou e foi bem direto com ela:

— É a sua última semana conosco.

Melissa ficou sem chão. Sabia que não ia bem, mas não imaginava ser tanto. Por isso ficou sem palavras para o momento.

O proprietário não quis entrar em qualquer outro detalhe. Ele estava ocupado com a lista de reposição de estoque para o dia seguinte e ainda precisaria contratar uma garota para dançar à noite. O funcionamento do estabelecimento era bem simples: vender bebidas. Tá. É claro que não ficava apenas nisso. Para que os clientes consumissem mais ele tratou de contratar garçonetes, faxineiras e dançarinas. Todas essas tratavam de seduzir os clientes, aumentando o tempo de estadia e, consequente, o consumo. A estratégia vinha funcionando relativamente bem, fazia alguns meses. Outra coisa que ele tinha que fazer com boa frequência era avaliar a atratividade das garotas. Uma delas que estivesse em "baixa", colocava em risco todo o estabelecimento. Logo ele a substituía.

Trêmula, indo para a sala das dançarinas, uma linha de raciocínio se desenvolvia na mente de Melissa:

"Virar garota de programa na calçada? — Era uma possibilidade que ela evitaria. — Pra arrumar um cafetão ou um policial corrupto para me defender dele mesmo?"

Entrou e se sentou, tentando manter o foco no trabalho que executaria. Não conseguiu. Ainda mais vendo que as outras dançarinas nem a olhavam, como se a desprezassem mais que nos demais dias. Nem se "desmontou" totalmente, apenas pegou suas coisas e ganhou as ruas frias da cidade. Na mente avaliava o show, que fora tão ruim quanto nas demais noites. A preocupação bateu forte e, com umas poucas notas, passou em uma distribuidora de bebidas perto da boate, e pegou uma garrava de conhaque. O que faria com a pressão daquele dia? A afogaria no álcool.

BOIN - Amor das ProfundezasOnde as histórias ganham vida. Descobre agora