Capítulo 060

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— Preciso ir.

— Mas já? Pensei que conversaríamos mais.

— Não posso, Saetele. Eu... começo... Eu começo a ter várias dúvidas. E não sei se os pensamentos que formulo estão em conformidade com a minha essência.

Ele tamborilou os dedos sobre o balcão, tecendo muitos pensamentos.

— Olha... eu sei o que você precisa fazer dia e noite, por meses, séculos e milênios. Mas lembre-se da sua essência original.

— Saetele... — as palavras a incomodaram bastante. — ...eu não posso pensar e nem agir assim.

— Faça ao seu modo. Não há porque ser de outra forma. — Ele lhe sorriu.

Ela devolveu o sorriso e falou:

— Não quero que me condene quando eu não falo o que penso e guardo isso dentro de mim. É porque estive onde estive e vi o que vi, e tudo isso me integra.

— Não estou aqui como um juiz. Eu não te julgo. Ninguém que chegou aqui jamais foi julgado. Estou diante de você como um mero atendente.

— Pelo que muito te agradeço, Saetele.

— Os Halls de Brasholais sempre estão de portas abertas para recepcionar bons negócios.

Com mais organização nos pensamentos ela quis saber:

— Falando em negócios, e sobre aqueles materiais?

— Ainda não tenho resposta. Meu senhor tem saído com grande frequência e não consegui falar com ele.

— Há algum acontecimento extraordinário em andamento?

— Não sei te dizer ao certo. E nada nos foi passado até agora.

— Certo.

— Bem, e em que podemos servi-la dessa vez?

— Estou com dúvidas quanto ao uso dos despojos.

— Qual é a dúvida?

— Posso fazer uso sem ser localizada pelos antigos proprietários?

Ele riu para ela:

— Nunca pegou despojos, não é?

Ela meneou negativamente a cabeça:

— Nunca.

— Certo. Olha: não há possibilidade alguma de rastreio... — ela sorriu satisfeita — ...mas se você aparecer diante de alguém que tenha interesse na peça, bem, isso pode ser um problema.

— Terei que lutar? — Se preocupou a pequena.

— Não usarei esse termo: "lutar". Mas terá que manter o seu item de alguma forma.

— Temo a chegada de um momento como esse.

— Não é vergonha temer. Apenas prepare-se para quando acontecer.

— Não sinto qualquer vontade de fazer isso.

— Seus consortes são demônios. Se desconfiarem que você tem algo que possa ser útil a eles, não hesitarão em investir contra você. Essa é a natureza deles. E não se engane: os santos anjos também poderão fazer isso.

As palavras eram duras e realistas.

— Se a hora chegar eu vejo como farei.

— Não me preocuparia tanto. Considerando a característica de camuflagem da bolsa e da capa com capuz, dificilmente outro celeste vai conseguir te perceber.

— Certeza?

— Sobre as características, sim. Sobre o seu uso, esteja atenta.

— Agradeço mais uma vez.

— Se precisar de algo, volte.

As palavras ficaram na mente de Boin quando ela jogou a capa por cima desi e desapareceu diante dos olhos do atendente.

BOIN - Amor das ProfundezasOnde as histórias ganham vida. Descobre agora