— Preciso ir.
— Mas já? Pensei que conversaríamos mais.
— Não posso, Saetele. Eu... começo... Eu começo a ter várias dúvidas. E não sei se os pensamentos que formulo estão em conformidade com a minha essência.
Ele tamborilou os dedos sobre o balcão, tecendo muitos pensamentos.
— Olha... eu sei o que você precisa fazer dia e noite, por meses, séculos e milênios. Mas lembre-se da sua essência original.
— Saetele... — as palavras a incomodaram bastante. — ...eu não posso pensar e nem agir assim.
— Faça ao seu modo. Não há porque ser de outra forma. — Ele lhe sorriu.
Ela devolveu o sorriso e falou:
— Não quero que me condene quando eu não falo o que penso e guardo isso dentro de mim. É porque estive onde estive e vi o que vi, e tudo isso me integra.
— Não estou aqui como um juiz. Eu não te julgo. Ninguém que chegou aqui jamais foi julgado. Estou diante de você como um mero atendente.
— Pelo que muito te agradeço, Saetele.
— Os Halls de Brasholais sempre estão de portas abertas para recepcionar bons negócios.
Com mais organização nos pensamentos ela quis saber:
— Falando em negócios, e sobre aqueles materiais?
— Ainda não tenho resposta. Meu senhor tem saído com grande frequência e não consegui falar com ele.
— Há algum acontecimento extraordinário em andamento?
— Não sei te dizer ao certo. E nada nos foi passado até agora.
— Certo.
— Bem, e em que podemos servi-la dessa vez?
— Estou com dúvidas quanto ao uso dos despojos.
— Qual é a dúvida?
— Posso fazer uso sem ser localizada pelos antigos proprietários?
Ele riu para ela:
— Nunca pegou despojos, não é?
Ela meneou negativamente a cabeça:
— Nunca.
— Certo. Olha: não há possibilidade alguma de rastreio... — ela sorriu satisfeita — ...mas se você aparecer diante de alguém que tenha interesse na peça, bem, isso pode ser um problema.
— Terei que lutar? — Se preocupou a pequena.
— Não usarei esse termo: "lutar". Mas terá que manter o seu item de alguma forma.
— Temo a chegada de um momento como esse.
— Não é vergonha temer. Apenas prepare-se para quando acontecer.
— Não sinto qualquer vontade de fazer isso.
— Seus consortes são demônios. Se desconfiarem que você tem algo que possa ser útil a eles, não hesitarão em investir contra você. Essa é a natureza deles. E não se engane: os santos anjos também poderão fazer isso.
As palavras eram duras e realistas.
— Se a hora chegar eu vejo como farei.
— Não me preocuparia tanto. Considerando a característica de camuflagem da bolsa e da capa com capuz, dificilmente outro celeste vai conseguir te perceber.
— Certeza?
— Sobre as características, sim. Sobre o seu uso, esteja atenta.
— Agradeço mais uma vez.
— Se precisar de algo, volte.
As palavras ficaram na mente de Boin quando ela jogou a capa por cima desi e desapareceu diante dos olhos do atendente.
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BOIN - Amor das Profundezas
RomanceMissões, missões, missões. Boin se entediava, tanto com o tempo gasto, como com o seu papel nelas. Por isso que nelas, buscava se distrair de todas as formas, mas nem sempre conseguia. É quando conhece Pedro. Não! Espera... Ela não conhece Pedro, el...