Capítulo 37 - O que tem atrás das cortinas

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— Sério? — debochou, e Neji riu com sarcasmo antes de devolver o sorriso cínico.

— Sério. Entra logo e fala com ele antes do ensaio. Vai por mim, é importante. Eu não perderia meu tempo te arrastando se não fosse.

Sasuke suspirou, os dedos massagearam as têmporas, mas Neji já havia saído de perto e entrava na outra porta antes que tivesse a chance de reclamar. O amigo o conhecia; se Neji ficasse ali para discutir consigo, conseguiria ir embora por pura teimosia, mas agora... sozinho... era obrigado a pensar se queria ou não abrir aquela porta. E a verdade era que sim... o anel em seu dedo era a prova disso, a prova de que queria falar com Naruto, ouvi-lo, acreditar nele e voltar a deixar que Naruto invadisse sua vida com todas as suas notas e cores.

Respirou fundo ao se xingar e virar a maçaneta. Entrou na sala com os ouvidos lamentando o silêncio, não era acostumado à imagem de Naruto tão quieto... Seus olhos acharam-no rápido, no canto da sala, de pé, o corpo apoiado na parede enquanto ele batia os dedos na coxa e movia os lábios acompanhando a letra lenta da música que devia estar ouvindo nos fones de ouvido. A cabeça pendia ao lado, encostando na outra parede, e Sasuke achou a visão um tanto quanto triste. Naruto normalmente tinha um sorriso no rosto, mesmo quando estava concentrado nas músicas, mas não naquele dia. O pianista estava formalmente vestido já, a calça social preta, a camisa branca abotoada até mesmo nas mangas, os cabelos continuavam rebeldes, a expressão parecia melancólica, e as olheiras no rosto dele indicavam quase eram um reflexo das que também cultivava na face.

Quis tocá-lo. O coração havia acelerado nem sabia quando, e, para sua própria surpresa, seu primeiro impulso ao estar sozinho com Naruto em uma sala não era fugir, não era recuar, não estava acuado! Queria ir até ele, segurar-lhe o rosto entre as mãos, queria beijá-lo e enterrar naquele selar de lábios a desconfiança, todos os pensamentos que os tinham afastado. Mas não conseguia... seus pés pareceram pregados no chão no momento em que Naruto abriu os olhos.

Seu corpo tencionou, em medo, na incerteza sobre o motivo de estar ali. A mão direita automaticamente achou o bolso da jaqueta que usava, não queria que Naruto notasse o anel ainda presente, não quando não sabia decifrar o olhar que recebia. Sentia determinação nos olhos azuis, via a confiança com que ele andava em sua direção sem nem mesmo desviar os olhos dos seus e esperou, mudo, sem voz porque não sabia o que dizer ou como começar aquela conversa.

Tinha medo de que Naruto estivesse ali para enfim decidir o que fariam, existia uma pequena parte de si, que depois de algumas taças de vinho com Shikamaru havia descoberto que não era tão pequena assim, que temia a rejeição, que temia fortemente que Naruto o olhasse arrependido, com pena, com... nojo.

— Você parece cansado — Naruto comentou com preocupação.

— Olha quem fala — rebateu, na defensiva, e Naruto riu como se já esperasse por aquilo. — Não está dormindo direito?

— Preocupado? — Naruto provocou com um sorriso, e Sasuke engoliu em seco. — Minha mãe fez uma cirurgia há algumas semanas, estou dormindo na casa dos meus pais para ajudar, eu e meu pai estamos nos revezando para acordar à noite e lembrá-la de tomar o remédio. Além disso, não durmo bem quando fico ansioso.

— Ela está bem?

— Agora, sim.

— Então por que está ansioso?

— Não atendeu minhas ligações... e me evitou durante todas as aulas e todos os ensaios, Sasuke. Nós temos que conversar, e você sabe disso, Teme. — Suspirou, cansado, e tirou do bolso da calça uma corrente em que Sasuke percebeu que o anel par do seu estava.

Travou a postura, os olhos atentos à aproximação de Naruto enquanto não entendia o que aquilo significava. Não conseguiu reagir às mãos de Naruto passando ao redor do si, apenas sentiu o peso do colar em seu pescoço.

Não pare a MúsicaWhere stories live. Discover now