Capítulo 7 - Interesses

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A faculdade não era um problema para Sasuke, pelo menos não como era para Neji. Cursava o terceiro ano de administração em uma faculdade particular em que tinha sido aprovado e que Madara lhe fazia questão de pagar por ser uma das melhores do Estado. Como não possuía muito contato com os colegas de classe, pouco o infernizavam ou sabiam de sua vida e, assim, ele não tinha que lidar com os mesmos babacas que Neji.

Permaneceu na biblioteca durante aquela tarde, segunda-feira, adiantaria um dos trabalhos que já havia sido passado por um dos professores e que teria de entregar em um mês. Aprendera a não deixar acumular suas obrigações, ainda mais quando sabia que a rotina no ballet se tornaria ainda mais puxada devido às audições a que se submeteria.

Colocou os fones no ouvido, a música clássica o ajudava a se concentrar enquanto o grifa texto corria pelo livro comprado há não mais que dois dias. Fez anotações, gostava das coisas organizadas, sua área de trabalho do notebook deixava isso mais que claro bem como as pastas devidamente nomeadas e listadas em ordem alfabética. E fazia isso não só por gosto, mas porque já tinha percebido que, quanto menos tempo levasse para resolver os assuntos da faculdade, mais tempo teria livre para se dedicar à dança. Assim sendo, terminou o que tinha estabelecido para aquele dia para o trabalho de comunicação e foi rápido em encaixar os fones no notebook e novamente assistir à coreografia de Giselle.

Não conseguia ainda realizar um dos saltos do solo, conhecia bem os limites do próprio corpo para reconhecer que aquela combinação de passos estava além da sua técnica. Talvez Neji o ajudasse, ele já era formado, com certeza também faria a audição.

Ah, sim... disputaria o papel com Neji também, e a ideia não lhe agradava em nada. Ballet, assim como em qualquer outra profissão, era um mundo competitivo e de poucas oportunidades, a perfeição era não apenas almejada como também era um requisito obrigatório, falhas não eram aceitas nem pelos próprios bailarinos nem pela plateia. E a família de Neji entendia isso muito bem, tão bem que o apoio que davam a ele era em troca de ele ser o melhor, o destaque, fazer valer a pena o suporte que lhe ofereciam. No ano anterior, lembrava-se com irritação da discussão que presenciara no hospital... Neji havia treinado além do que o corpo aguentava, e a torção no pé esquerdo soava um irônico castigo. Enquanto esperava Madara buscá-lo, viu a família de Neji chegar, ouviu as acusações, a cobrança, e se perguntou como Neji conseguia manter a expressão serena diante dos insultos, era quase como se ele... já estivesse acostumado.

E isso fez seu sangue ferver.

Fazia tempo que não elevava a voz, que não discutia, que não se cobrava o direito de falar o que pensava, de defender o que acreditava. No ballet, isso não existia, a voz de um dançarino era silenciada pelas amarras da perfeição, calar-se e aceitar cada tipo de dor e sacrifício era apenas parte da rotina. E talvez isso explicasse não só o seu choque, mas o de Neji quando voltou a passos firmes até onde o amigo estava e disparou o que queria e não queria para defendê-lo. A risada irônica, os argumentos ácidos e cínicos... Ah, sentia falta disso, do orgulho de conseguir não ceder à melancólica conformidade, de ser o protagonista da própria vida e não apenas mais um no corpo de baile. Passara um pouco dos limites, sabia ser cruel e ferir, o punho fechado que o atingiu no meio da discussão então não foi lá uma surpresa, e Hashirama teve que conter Madara enquanto Mito conversava de forma polida, mas firme, com a família de Neji. Ainda assim, a prima de Neji, uma criança de não mais que sete anos que permanecia abraçada a ele durante todo o tempo, lhe sorria em agradecimento, e Sasuke soube que tinha valido a pena.

Cada um deles tinha um peso nas costas, cada um deles dançava equilibrando medos e inseguranças, arrastando consigo toda a pressão, toda a expectativa, toda a cobrança que recebiam. A vida não era fácil para nenhum deles...

Não pare a MúsicaWhere stories live. Discover now