Capítulo 8 - O que os outros pensam

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No começo, não foi difícil, Naruto manteve-se concentrado na música, tocava, relembrava uma ou outra nota na partitura quando Sasuke parava e aguardava ele sinalizar para que recomeçasse.

Isso no começo. Depois de repetir o primeiro minuto da música mais de dez vezes, Naruto passou a espiá-lo pelo espelho. Ele dançava bem, já havia notado isso durante as aulas. A garrafa de água já estava pela metade, e Sasuke secava o rosto e a nuca com uma pequena toalha escura. Ele apoiou as mãos na cintura e inclinou o corpo para frente enquanto respirava cansado.

— De novo.

Raiva. Naruto conseguia perceber a irritação na voz de Sasuke toda vez que era obrigado a recomeçar. Já havia visto o erro dele, era nos passos de ligação, um único movimento em que Sasuke sempre acabava invertendo qual pé deveria manter atrás antes do salto. Outros ignorariam a confusão e continuariam a coreografia, não valia a pena começar por algo tão pequeno, mas Sasuke não compartilhava desse pensamento.

Ele queria tudo perfeito.

— Quer que eu toque mais devagar depois da parte dos giros? — indagou, solícito, e tudo o que recebeu de volta foi um olhar indignado e ofendido.

— Não.

— Talvez fosse melhor...

— Já disse não. — Sasuke se posicionou novamente na diagonal e olhou impaciente para Naruto. — Eu consigo.

Naruto começou a música contrariado, os olhos buscavam no espelho o bailarino, como se quisessem acompanhá-lo passo a passo até chegar à parte em que usualmente errava. A expressão suave e os gestos graciosos em nada lembravam a arrogância anterior, era como se uma outra pessoa agora dançasse. O primeiro ato mostrava o bailarino, o que seria o príncipe, confiante, depois se apaixonando por Giselle. Sasuke lidava bem com a confiança, a cabeça erguida, o leve sorriso, os passos certos e sem hesitação, faltava-lhe apenas a coroa.

Mais alguns giros e então os passos de ligação viriam. Naruto se controlou para não diminuir o ritmo, esperou, não conseguiu tirar os olhos de Sasuke e sorriu de volta com satisfação quando ele acertou os movimentos e preparou-se para continuar a coreografia.

Agora viriam os saltos.

Ou não mais...

Foi automático se levantar depressa quando de repente o sorriso de Sasuke deu lugar à uma expressão aguda de dor. Não demorou para vê-lo caído no chão, encolhido, as mãos imobilizando a panturrilha esquerda enquanto ele virava o rosto para o chão e mordia os lábios com força para não gritar.

Câimbra.

Naruto correu até ele e se abaixou depressa, Sasuke o olhou com desespero e raiva quando lhe segurou a panturrilha e tentou mover a perna.

— Não mexe!

— Vai melhorar — Naruto garantiu e tirou a muito custo as mãos de Sasuke da área. — Vai doer ainda um pouco, mas juro que isso ajuda.

Sasuke socou o chão e escondeu os olhos sob o antebraço enquanto reprimia a vontade de xingar o pianista que apertava seus músculos. Doía. Sentia cada fibra repuxar-se, torcer-se, mas, aos poucos, elas pareciam ceder, acompanhando a pressão dos dedos gelados de Naruto, como se eles as guiassem novamente para a conformação correta.

Conseguiu enfim respirar, um pouco de alívio invadindo os pulmões; relaxou e permitiu que a perna fosse esticada, forçada, e franziu o cenho com a dor remanescente. Aquilo ainda doeria pelo resto do dia, e ele teria aula mais tarde...

Naruto o olhou quando ouviu o suspiro lhe escapar os lábios. A respiração estava mais controlada, e as mãos de Sasuke já não permaneciam mais cerradas, o lábio inferior mantinha-se avermelhado, com uma pequena marca que denunciava o quanto o tinha mordido. Com o braço sobre o rosto, Sasuke não o olhava, e, por um momento, Naruto agradeceu a isso porque havia sido impossível não reparar melhor no quão bonito o bailarino era.

Não pare a MúsicaWhere stories live. Discover now