Capítulo 36 - Suporte

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O que diria a Sasuke? Como entraria naquele quarto com a culpa tão estampada no rosto, com o remorso fazendo suas mãos tremerem? Racionalmente, sabia que não tinha culpa alguma, uma pequena parte de seu cérebro ainda tentava lhe gritar que ele não tinha como saber, mas agora que todas as peças haviam se encaixado a única coisa que ele conseguia gritar de volta era: como? Como ele não tinha visto? Como não havia suspeitado? Como nunca perguntou? Como nunca estranhou o isolamento de Sasuke? As farpas com Orochimaru? A perseguição? O nojo? Tudo!!

Tinha desconfiado que Orochimaru estivesse ameaçando Sasuke... depois de ouvir Tsunade e o professor conversando sobre Sasuke e Tobirama, ao ver a forma possessiva como Orochimaru havia se referido a Sasuke, suspeitara que havia algo a mais. Tinha perguntado a Sakura até! E o modo como a amiga o olhou em pânico, pálida, como se tocasse em um assunto proibido o havia feito acreditar que estava certo.

E isso levava a um ponto que não queria pensar naquele momento... Sakura sabia? Ela... sabia durante aquele tempo todo? Ou ela apenas tinha chegado à mesma conclusão errada que ele? Não a perdoaria se ela soubesse, era rancoroso demais para isso, não conseguiria perdoar Sakura se ela estivesse ciente de algo daquela importância e não tivesse feito nada, absolutamente nada, para corrigir a situação.

Fechou os olhos e engoliu em seco, girou a maçaneta sem pressa, talvez dando tempo para que Sasuke o expulsasse, talvez dando tempo para que a coragem de repente reaparecesse. Mas nem Sasuke o impediu de abrir a porta nem a coragem surgiu, e os primeiros passos que deu para dentro daquele quarto foram na inércia da culpa e da dor.

Seus ouvidos pareceram sangrar ao identificar Tchaikovsky, o som do piano sendo reproduzido alto pelas caixas de som preenchiam todo o ambiente, de forma que o ar não tivesse mais espaço. Sasuke estava sentado na cama, as costas contra a cabeceira, a perna esquerda dobrada enquanto a outra mantinha-se estendida, as mesmas roupas molhadas com que havia deixado a companhia. Sasuke não o olhou, permaneceu com os olhos fechados, e Neji via o caminho que as lágrimas faziam ao escorrerem pelo rosto. Havia sangue também, um pequeno filete que vinha do lábio que ele mordia com força para não fazer barulho ao chorar. As mãos seguravam alguma coisa, e Neji demorou a reconhecer a tesoura e então notar as sapatilhas cortadas espalhadas pela cama.

Aquilo doeu. Veio como a última gota que faltava para que desabasse, o último golpe em um moribundo. Suas pernas fraquejaram, e ele não conseguiu andar até a cama de Sasuke, caiu antes, sentado próximo, e apenas se arrastou até a cama. Estava em frangalhos, sentia-se tão pequeno que não tinha mais certeza se havia feito certo ao ir consolar Sasuke quando ele próprio estava prestes a implorar ajuda a quem quer que fosse.

Sentado no chão frio, encostou-se na lateral da cama e deixou a cabeça tombar contra a coxa de Sasuke enquanto a mão se agarrava ao lençol para impedir-se de chorar, mas era tarde, e os soluços quase se atropelaram ao sair um atrás do outro. A mão de Sasuke tocou seu cabelo, e Neji a segurou, como se não quisesse que Sasuke se afastasse nunca mais de si, como se tivesse falhado em protegê-lo e quisesse garantir que isso nunca mais acontecesse.

Sasuke era como um irmão, tinham crescido juntos, estavam na mesma rotina, conheciam-se tão bem que doía demais perceber que isso era mentira que vinha se contando há anos! Que não o conhecia! Que não havia conseguido protegê-lo! Que tinha assistido ano após ano uma das únicas pessoas com quem se importava sofrer em silêncio! Havia prometido a Ino que sempre estaria ali por eles, que nunca os deixaria cair, havia desde sempre imposto a si essa obrigação porque os amava, porque queria protegê-los, porque não admitia que eles sofressem e...

Soluçou mais alto quando Sasuke acariciou seu cabelo. Aquele filho da puta estava tentando consolá-lo quando era quem mais estava ferido! Segurou a mão dele, puxando-o, e Sasuke se deixou ir, o corpo deslizando da cama ao chão como se já pretendesse fazer isso. E Neji esperou, aguardou que Sasuke se sentasse ao seu lado e o olhasse, precisava vê-lo, precisava achar nos olhos dele as respostas para todas as suas dúvidas, mas em especial uma: Sasuke o odiava? Não sabia o que sentiria no lugar dele, mas com certeza raiva, muita raiva, de todos aqueles que não vissem o quão sujo Orochimaru era enquanto era obrigado a sofrer calado.

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