E M M A
O V E R L A N D F R O S T
— Eu sei que é diferente de casa, mas você vai se acostumar.Um desenho de sorriso se forma nos lábios do meu irmão, familiar e natural. Tento retribuir, só que minhas bochechas estão rígidas e meus dentes se recusam a aparecer.
— Ei — Jack mantém a expressão leve —, vai...
—... Ficar tudo bem? — Interrompo, irônica.
Ele se limita a me encarar, seu sorriso vai morrendo.
— Eu sinto muito, Emma.
— Não — sacudo a cabeça, ordenando os pensamentos. — Eu sinto muito. Nada disso é sua culpa. Desculpe. Eu... Eu senti sua falta.
— Também senti sua falta — a voz dele é suave e triste como a primeira brisa de uma manhã gelada. No instante seguinte, seus olhos adquirem um brilho travesso. — Quer dizer, senti sua falta na maior parte do tempo. Você é bem reclamona às vezes, irmãzinha. Disso eu não senti falta. Ai! — Ele exclama com o beliscão, embora esteja rindo. — É brincadeira. Senti saudade de tudo.
Trezentos anos se passaram, e Jack ainda é o mesmo. Queria poder dizer o mesmo sobre mim. Não sou a mesma desde aquele dia no lago.
Desvio a vista, reparando o ambiente ao redor. À noite, o chalé de Quione é ainda mais bonito. A luz perolada da lua atravessa as clarabóias no teto e banha o jardim nevado, onde florzinhas graciosas — enlaces lunares — parecem responder ao luar, cintilando prateadas. O cheiro delas perfuma o lugar, junto com o aroma de pinheiros. É deslumbrante, um jardim invernal acomodado dentro de um quarto, em um acampamento que é sempre verão. Fantástico.
Colho um enlace lunar, enquanto admito:
— Esse lugar é lindo. Mas realmente odeio neve.
Jack ri.
— Que ironia, Emma Frost. — Brinca. — E seu irmão é um espírito do inverno.
— A gente meio que não escolhe a família que tem. — Meu timbre é um pouco mais descontraído, porém, aquele sentimento sombrio não me abandona.
Na cabeceira da cama onde estou sentando, há um ramo de viscos de bagas vermelhas e, no criado-mudo, um estranho objeto que produz luz sem precisar de velas, chamado "abajur". Ligo. E desligo. Ligo de novo.
— Foi desse jeito — balbucio, apagando a luz. — Rápido. Você caiu no lago — acendo a luz, dói nos meus olhos. — E eu corri para a floresta. Não lembro mais de nada. — Apago outra vez. — Só vejo escuridão.
Meu irmão senta ao meu lado.
— Você vai queimar a lâmpada. — Ele alcança a minha mão, com um meio-sorriso. — Não fique pensando nisso. Você tá aqui agora, é o que importa. Quíron deve ter errado na interpretação da profecia. Não vou te deixar ir nessa missã...
— Eu quero ir.
— O quê?
— Quero saber o que aconteceu depois do lago. Preciso saber. Anna teve as memórias roubadas também, vou com ela até a Fada e...
— O mundo mudou, Emma — a sentença me acerta e me afunda como uma bala de canhão. — Acha a Colina Meio-Sangue diferente do que conhecia? Tente o mundo lá fora.
Nunca vi meu irmão tão sério, não desse jeito.
Alcanço sua mão fria, minhas palavras são fogo, derretem o gelo do seu olhar quando olho no fundo dos seus olhos.
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Equinócio de Anna
FanfictionAnna estava morta, mortinha. Ou, pelo menos, deveria. É que ao invés de um caixão a sete palmos da terra, a garota se viu sequestrada por dois adolescentes estranhos que a levaram para um lugar mais esquisito ainda: o Acampamento Meio-Sangue. Agora...