...e o Sol...

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Porto Real.

 Mathew Farsett

  Quando meus sentidos voltaram eu percebi que eu estava em um lugar pouco iluminado e com um cheiro familiar, senti algo se mexer em meus braços e lembrei-me de Madson, seja lá oque ela fez para nos trazer até aqui, os efeitos da viajem embaralhou muitos dos meus sentidos.

  -Bruxas desgraçadas.- Madson disse em um gemido de dor.

  Minha visão se ajustou na escuridão, percorri o corpo de Madson com os olhos procurando qualquer tipo de machucado físico, mas não encontrei. Segurei-a em meus braços enquanto caminhava na direção de uma cama que estava no local.

  -Eu estou bem Mathew, eu posso andar sozinha.

  -Claro que pode, mas não sabemos se você está ferida internamente, então poupe esforços.

  -Deixe que eu fique sozinha e eu melhorarei antes que você perceba.

  Não entendi oque ela disse e decidi esperar para perguntar, eu queria estar calmo para conversar com ela, mas a cada segundo que se passava minha ansiedade crescia, eu poderia ter perdido a minha companheira antes mesmo de reclamá-la como minha, se o ataque de Avignon tivesse funcionado, pela deusa, nem mesmo eu saberia oque fazer, além é claro de estraçalhar o corpo do vampiro.

  Deitei Madson na cama e novamente a avaliei, ela ainda parecia estar sentindo dor mas tentava disfarçar, sua respiração estava desregulada e os dedos cerrados, carreguei uma cadeira até o lado da cama e me sentei.

  -Me dê sua mão.

  Pedi e ela me olhou com uma sobrancelha erguida, me senti completamente deslocado e hipnotizado enquanto ela me avaliava, Observei atentamente enquanto ela revirava os olhos e se virava na cama murmurando "estou bem". Suspirei por sua relutância mas não deixei de notar duas cicatrizes enormes em suas costas, um péssimo sentimento percorreu meu corpo.

  -Madson, deixe-me te ajudar, por favor.

  Relutantemente, Madson se virou para a minha direção, estendi minha mão para ela e lentamente ela entrelaçou seus dedos aos meus, senti um arrepio percorrer meu corpo e todos meus sentidos clamavam por mais dela, usei minha habilidade de retirar a dor e escutei Madson suspirar em alívio.

  -Avignon não gosta muito de você, certo?

  Madson soltou uma risada amarga e fechou os olhos.

  -Temos uma história, ou quase isso, não importa.

  -Não importa ele ter quase te matado apenas a alguns minutos atrás?

  -Exato.

  -Eu vou matá-lo, ele não pode sair impune depois de atacar você, o nome do seu clã está no Tratado de Paz.

  Madson suspirou, eu continuava com o processo de tirar a dor dela e a observava, capitando cada ação que seu corpo fazia.

  -É melhor você se acalmar e superar Mathew, este problema é meu e eu devo resolvê-lo.

  Suspirei ao ouvir suas palavras, ele ainda não podia contestar, ela tinha razão. Olhei para Madson e sua expressão estava serena, sua respiração regulada e o aperto na minha mão diminuiu, Madson havia dormido.

  Observei-a por um tempo, seu cabelo preto se misturando com seu rosto branco, contemplei sua beleza, ela é a mulher mais linda que já vi, com toda certeza. Com todo o cuidado que eu podia, percorri meus dedos pelo seu rosto, saboreando a sensação da sua pele contra a minha, pensei em deitar-me ao seu lado mas preferi ficar sentado, com nossas mãos entrelaçadas e observando seu rosto. Antes que eu pudesse perceber, acabei caindo no sono sentado na cadeira.

  Acordei com alguém sussurrando meu nome, abri lentamente os olhos e meu coração errou uma batida quando percebi o rosto de Madson me encarando, ela já estava de pé e senti um vazio pela falta da sua mão envolta da minha.

  -Você deveria ir, seus amigos devem estar preocupados com você.

  Demorei um tempo para processar oque ela estava falando, olhei pela pequena janela do local e percebi que já era noite, nós havíamos dormido a tarde toda.

  -Você está se sentindo bem?

  -Claro, agora você já pode ir.

  Massageei minha têmpora por conta de um pequeno incomodo na cabeça, pensar em rever Avignon depois de ele tentar matar minha companheira fazia com que uma raiva crescente emergisse no meu corpo.

  -Mathew você realmente precisa ir.

  Olhei na direção da Madson, ela parecia estar pronta para sair para algum lugar, mas eu queria ela perto de mim e nós ainda precisávamos conversar sobre oque aconteceu no escritório do Avignon.

  -Você está morando aqui?

  Perguntei e ela suspirou sentando-se em uma cadeira e apoiando os braços em uma pequena mesa cheia de papéis e livros.

  -Por enquanto sim.

  Madson estava organizando algumas pilhas de papéis, eu olhava suas mãos ágeis percorrer a mesa de um lado pro outro e seus olhos focados em uma leitura rápida dos papéis, porra, por que ela têm que ser tão linda?

  -Podemos conversar?

  Perguntei e seus olhos repousaram em mim, ela suspirou e se levantou amarrando seus cabelos em um coque desajeitado e se sentou na cama ao meu lado novamente. 

  -Qual o tema da conversa?

  Ela me olhou nos olhos e eu devolvi o olhar, me perdendo na imensidão negra de seus olhos.

  -Você, eu quero ouvir sobre você, sobre como você arranjou essas cicatrizes nas costas, eu quero saber tudo oque você quiser me contar.

  Notei Madson ficar desconfortável quando falei das cicatrizes, mas ela logo voltou para a sua pose passível. Eu tentei não parecer suplicante de mais, eu queria conhecer minha companheira, conquistá-la aos poucos, me permitir amá-la, eu tinha que começar de algum lugar.

  Eu finalmente havia encontrado ela, e vê-la na minha frente parecia um sonho, ter presenciado o ataque de Avignon contra ela me fez pensar em tudo oque eu estava prestes a perder, tudo oque eu ainda não havia vivido, o meu futuro. O nosso futuro.

  Madson me olhou com um certo brilho diferente no olhar. Ela respirou fundo e percebi um pequeno sorriso se formar nos seus lábios.

  -Certo, eu vou te contar oque você quer saber.

Um Demônio para um SupremoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora