Cap. 36

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Samantha

"Ser mãe parece a coisa mais difícil do mundo, porém não é, claro tem lá suas dificuldades, entretanto a os pontos positivos. Para ser feliz é preciso em primeiro lugar amar seu filho e se preocupar com o bem estar dele, e para ele estar bem, é preciso que você, mãe, esteja bem. A felicidade do seu filho depende da sua, assim como a sua depende dele..."

 Fecho o livro sem nem marcar a página estou, respiro com força. Um livro pode ser mais entediante? Ele é tão repetitivo, até parece que foi escrito para uma criança de seis/sete anos, aquelas que acabaram de aprender a ler. Coloco o braço sobre a testa e fico olhando para o teto. E começo a me perguntar como será ter um filho, como vai ser minha vida depois de tudo isso, se ainda terei tempo para me cuidar.

Tenho que confessar que tenho medo de como tudo pode acontecer, o maior medo é de não ser madura o suficiente para ser uma boa mãe. Talvez eu decida que o melhor para ele é que ele seja cuidado por outra família, só de pensar nisso tenho uma ânsia de vomito, onde estou com a cabeça? Não quero que meu filho seja depressivo, que pense que eu não o quis, eu pensaria isso no lugar dele.

Escuto um barulho, o que me deixa em estado de alerta, levanto e olho pela janela, deparando com o carro do Tobias, meu coração se enche de esperança. Meus olhos brilham só de pensar que ele deve ter vindo fazer as pazes.

Ele desce do carro, seu cabelo esta mais loiro que o normal, sua pele esta destacada sobre a luz do sol, ele esta usando um óculos de sol, uma blusa xadrez e uma calça bege. "tão lindo o meu Tobias."  O som da campainha se espalha por toda a casa.

Ajeito meu cabelo com os dedos, devo estar com mau hálito, já que ainda não escovei os dentes, Tobias não se importará, imagino. Ando devagar até a escada.
- Oi Tobias, como você esta? - Pergunta minha mãe.
- Estou ótimo, e a senhora?
- Bem. A Samantha está lá no quarto, pode subir. - Imagino que ele tenha ficado sem jeito, um pouco envergonhado.
- Eu não vim vê-la, só vim deixar isso. Será que a senhora pode entregar a ela?
- Claro. Quer que eu de algum recado?
- Só diga que ela esqueceu isso lá. Será o bastante... - A frase permanece no ar por alguns segundos. - Tchau. - Diz ele por fim.

- Tchau.

- Espera, tenho mais uma pergunta.  Por que ela não foi para a aula? - Pergunta ele intrigado.
- Perdeu a hora, eu acho.
- A sim.
- Quer jantar aqui hoje? - Pergunta minha mãe toda educada. Sem perceber que brigamos, tem horas que acho que ela se faz de sonsa.
- Não posso, tenho compromisso, vamos deixar da próxima. - Meu coração se acelera, que compromisso ele teria? Fico desapontada por não saber. A porta se fecha, volto rapidamente pro meu quarto, com as vistas turvas e muito decepcionada.  Depois de tanto tempo, e ele nem subiu para ver se eu e meu bebê estamos bem. Suspiro alto.

Eu deveria ter ido para o colégio, assim não estaria tão decepcionada.

***

Sento a mesa junto com meu pai e minha mãe, meu prato já esta feito, o que é muito estranho. Fico olhando para ele a procura de uma resposta, mas eles fingem não ver minha cara de intrigada. Começo a comer, a comida esta uma delicia por sinal. E o clima fica pesado, sei que estou escondendo algo, e isso não é legal.
Quando termino de almoçar vou lavar a louça, o que sempre foi tarefa minha, minha mãe toca meu ombro e diz:
- Filha relaxa, vá descansar, deixa que eu e seu pai cuidamos de tu. - E então eu entendi tudo, ela esta com medo que eu vá embora novamente, por isso não quer me assustar com tarefas domesticas, por um lado isso é muito bom, mas por outro não.
Subo até meu quarto e preparo um banho de espuma para poder relaxar, com essência de baunilha, então bateu uma forte saudade da casa do Tobias, causando um vazio no meu peito, que eu afastei rapidamente.

***

O celular desperta as 5h, eu queria simplesmente o desligar e voltar a dormir, esses dias todos sem ir para escola, acabei me acostumando mal, infelizmente tenho que aparecer por caso não queira permanecer lá no ano que vem. Levanto e me arrumo ligeiramente, quando desço para tomar o café, mamãe já o havia preparado, colocando até leite no meu cereal, ela realmente esta com medo de que eu vá e não volte mais, penso comigo, e sem evitar solto um risinho.

- Então vamos? - Meu pai aparece na porta.
- Por que esta com tanta pressa? Nem tomou café. - Digo.
- Temos que chegar logo, eu não posso me atrasar.
- Ok. Posso pelo menos terminar o meu cereal? - Pergunto com uma voz angelical.
- Claro meu amor.

Termino de engolir rapidamente, e antas que eu pudesse raciocinar qualquer coisa, já havia chegado no colégio, o tumulto que eu não senti falta, o som de mil vozes, o cheiro do cigarro e por fim o maldito sinal tocando. Ando em direção a sala.
- Olha quem decidiu aparecer. Não era ela que estava morrendo de câncer? - Umas meninas da minha sala param na minha frente. Faço uma expressão de quem não esta entendendo nada. - coitadinha, deve estar morrendo...
- Que papo é esse guria? Não estou morrendo, muito menos com câncer.
- Então porque faltou tanto?
- Isso não é da sua conta ne? Minha vida, faço dela o que eu quiser, inclusive faltar aula sem ter motivo algum. Agora saia da minha frente, tenho mais o que fazer. - Nossa, quando eu aprendi a enfrentar as outras pessoas assim? Isso foi um máximo, tem que continuar assim.

Câncer, não sei da onde esse povo tirou essa ideia, eu em. Reviro os olhos sem perceber. Vejo-me sentada na sala de aula, olhando para o quadro, o barulho da sala é gigantesco. O professor ainda não chegou o que é bom, o sono começa a me consumir, abaixo minha cabeça na cadeira, como nos velhos tempos, e rapidamente pego no sono.

Acordo assustada com o celular de alguém tocando, quando levando meu rosto, dou de cara com Rebeca, ela esta tão linda, com uma sapatilha verde azulada, uma blusa preta e uma calça jeans apertadinha. E então nossa noite percorre minha mente, e não consigo evitar o sorriso bobo que aparece. Tenho certeza que meus olhos estão brilhando e estou com cara de boba, mas não ligo. Estou com um sorriso que vai de orelha a orelha, acho que o nome disso é paixão. Tento não babar. Então lembro do Tobias, nem tive tempo de contar as coisas para ele, meu coração se aperta um pouco, mas eu volto a olhar para Rebeca, com o fim de esquecer tudo isso. O que não funciona bem, mas ameniza a sensação de perda.

"Oh Tobi, por que as coisas terminaram desse jeito? Tínhamos tantas coisas pela frente... Mas eu continuo te amando. Espero que me procure logo..." Seria bem legal se ele pudesse ler esse meu pensamento.

Rebeca começa a fazer a chamada, Amanda, Ana Clara... E sem perceber ela pula meu nome. O que eu acho muito estranho.

- Professora, você me pulou. - Digo como se ela fosse uma mera professora, e eu uma mera aula. Ela suspende os olhos assustada.

- Meu Deus, não creio, você finalmente decidiu aparecer no colégio. Esta doente? - Pergunta ela com um sorriso no rosto. E então sorrimos juntas. A turma parece não entender muito bem o que esta acontecendo, mas é bem melhor se eles não entenderem.

O mais novo interesseWhere stories live. Discover now