Vidas

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"Eu nunca quis mudar os planos de uma vida toda torta

Ou de um futuro que nem posso imaginar

Nunca pensei que encontraria milhões de chaves pra essa porta

Sempre gostei de descansar com o trinco aberto

Caso você volte..."

Zimbra - Amanhã


Eu realmente não queria ter levantado da cama, porém a consulta estava marcada há uma semana. Mais especificamente desde que descobri algo incomum em meu corpo e liguei para o médico da minha família em crescente desespero. Não era possível prolongar mais a falta de um diagnóstico.

Acordar e pensar no que poderia ser aquilo me deixava angustiada, me fazia imaginar, sonhar com uma possibilidade onde tudo seria paranóia minha, porém era muito difícil que essa possibilidade se confirmasse.

Prevendo o que se sucederia, aproveitei enquanto podia fazer coisas sozinha, tomei um banho e me vesti de maneira confortável, pois o dia estava um tanto gélido e já bastava tudo que se seguiria... Vestir algo legal era o mínimo que poderia fazer por mim mesma.

O hospital não ficava longe da minha casa e mesmo contra os protestos de minha mãe, dirigi até lá e combinei com um amigo que, dependendo do resultado, eu iria encontra-lo e a partir daí teria que deixar a direção para ele ou chamaríamos a minha mãe, visto que não deixei que ela me acompanhasse. Ela estava nervosa demais.

Entrei no consultório e como sempre, o médico fora gentil. Todos estavam me aguardando. As enfermeiras me prepararam para o exame. O médico me pediu que sentasse num banco alto, enquanto apalpava minhas mamas com total profissionalismo, precisão e cuidado, e depois as colocava na posição correta naquele aparelho assustador, o mamógrafo.

E francamente? Era doloroso. Bastante doloroso.

As duas placas de vidro apertaram lentamente meus seios até onde pude suportar... Aquele barulho me fazia ter os piores pensamentos. Meu coração estava apertado, era como se eu estivesse sufocando e nada pudesse me salvar.

Meu futuro estava em jogo e que jogo cruel a vida é, certo? O medo era enorme e eu sentia como se fosse começar a chorar a qualquer momento, porém precisava ser forte, não apenas por mim, mas também por minha mãe e amigos, pois sei que eles não seriam tão fortes se eu desistisse.

Obedeci a tudo que o médico pediu, porém me sentia desconfortável. O pior é que o desconforto era o menor dos meus problemas.

Era claro que minha saúde não estava indo muito bem. Não era fácil ter 31 anos e um histórico de câncer enorme em minha família. Óbvio que fiquei alardeada quando notei um nódulo em meu seio esquerdo. Minha avó morreu de câncer de mama e meu avô teve câncer no pâncreas, além de algumas tias que, sinceramente, prefiro não comentar.

Aquele estava sendo um dos piores dias de minha vida.

Como seria dali pra frente, caso aquilo fosse realmente tão ruim quanto parecia? Logo eu saberia a resposta.

- Sei que já era esperado, mas você precisa ser forte. O prognóstico foi confirmado e o tumor é maligno. Como sabe, temos que tomar providencias rápidas para que não se alastre. Sinto muito. - Disse o médico que sempre cuidou dos casos que houve em minha família, obtendo sucesso no tratamento da maioria, mas ele era um médico, não era um deus.

Ele me deixou sozinha, não antes de perguntar se eu me sentia bem e se queria que chamassem alguém, ao que respondi que não. Dali em diante eu responderia muito a essas duas perguntas. Era uma profissão cruel a dele, porém honrada. Eu o admirava, mas naquele momento não podia ouvir aquela voz que me deu uma notícia tão ruim, então fiquei agradecida por ele ter saído.

Nos passos do destino • EreriWhere stories live. Discover now