Sonhos Estrelados

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Quando cheguei na rodoviária, ainda precisei esperar mais uma hora pelo Alex. O trânsito de casa até ali estava tranquilo, mas uns painéis informativos mostravam que havia  congestionamento na estrada, perto de São Gonçalo. Nesse meio tempo, fiquei sentado num banco na parada que o ônibus do meu irmão encostaria. Observava o trânsito de pessoas, muitas correndo, outras perdidas; era meio divertido reparar em pedaços daquela multidão. Contudo, por eu estar ali completamente sozinho, depois de alguns minutos aquilo ficou entediante. Decidi então, ligar para Rita. Ainda não tinha ouvido sua voz naquele dia. Tá, isso ficou estranho, mas continuemos...

Quando fui atendido, do outro lado da linha ao invés de um "alô" bonitinho, o que ouvi foi a voz debochada de um ser chamado Kaio. Estranhei, mas nem tive tempo de perguntar que raios ele fazia na minha casa àquela hora da manhã, porque o outro já estava tagarelando sobre papéis, Rita, música, amor, coisas que eu não entendi. Nossa, isso agora pareceu uma música MPB.

— Kaio, respira e fala devagar. — pedi e pude ouvir um suspiro do outro lado da linha.

— Cara, você precisa ver... calma, Rita. — sua voz ficou mais baixa e depois voltou. — Não, não deixa ela jogar no lixo isso aqui. Não vou nem ler, porque você precisa fazer isso com seus próprios olhos... sai, Rita! — emais uma vez o tom abaixou, parecia que os dois discutiam, mas o som estava longe demais para eu conseguir entender o que falavam.

Esperei uns dois, três, quatro, cinco segundos e outra voz assumiu a ligação.

— E aí, Benjamin? — era Rita. — O Alex já chegou?

— Ainda não, mas você não vai fugir dessa. — cortei a simpatia dela. — Caso de vida ou morte, o que você ia jogar no lixo?

— Ai não, esquece isso. Já está todo despedaçado e incinerado, o caminhão do lixo já até levou embora há tanto tempo, deve ter apodrecido e voltou a ser pó. E agora virou uma flor.

— Nossa... — dei não só uma risada, eu tive uma crise de risos no meio da rodoviária.

— Eu acordei agora, releva. — rita também ria do outro lado.

— Nunca vou esquecer essa fala! — zoei e vi que Alex descia de um ônibus com uma mala na mão e pura raiva no rosto. — quando eu chegar em casa, quero ler isso, por favor! Meu irmão acabou de chegar, tchau.

Nem dei tempo para ouvir ela se despedindo. Desliguei o celular e me aproximei dele. Não fui nem olhado na cara, mas também não fui deixado para trás: fomos lado a lado em silêncio até sair daquele ambiente. Quando estávamos de fora, Alex começou a desabafar, quase soltando raios laser de fúria.

— Como sua família é cabeça dura! — Dizia enfatizando o "sua" o tempo todo. — Eles tentam sustentar um argumento sem prova nenhuma; sabem que estão errados, mas não admitem! — Suspirou. — Os netos nem convivem com ele e saem falando que ninguém tem condição de cuidar dele ou que ele não sabe cozinhar mais, e mente o tempo todo, não sabe que horas são ou em que dia estamos. Mas nada disso é real! Ele está muito bem, Benjamin!

Eu não tirava a razão daquelas frases. Essa parte da minha família podia ser até mais teimosa que Alex. Imagina alguém que pode ser mais firme que ele: é muito insuportável! Enfim, Alex falou o caminho todo até o apartamento sobre tudo o que aconteceu e pelo o que parece, meu avô foi realmente para o asilo. A gente nunca foi próximo, mas mesmo distante, tinha certeza que estava sendo cometida uma baita injustiça, mas quem sou eu para dizer ou defender alguma coisa naquela família? Seria feito o que eles quisessem, mesmo que eu fosse lá para ajudar.

Quando chegamos em casa, Kaio ainda estava lá, jogado no sofá assistindo a um futebol na televisão junto com Rita que franzia a boca, ambos tão concentrados que nem notaram que eu peguei o bendito papel em cima da mesa da cozinha, enquanto Alex ia apressado para o quarto e batendo a porta. Suspeitei que fosse nele que tivesse os escritos de Rita por seu estado todo amassado e pela letra nele. Então, eu peguei e sentei na cadeira para ler com calma. Me deparei com versos como:

Estrelas PerdidasМесто, где живут истории. Откройте их для себя