Uma Constelação Apagada

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É com muito medo de ser xingada que eu narro esse capítulo. Os leitores fãs do Benjamin que me perdoem mas essa parte eu vou precisar contar sozinha. Aconteceram várias coisas que me deixaram inquieta e eu precisava compartilhar isso com alguém. Cuspir o que estava me incomodando, sabem? Podem me cobrar a sessão de terapia que depois a gente se acerta.

Vamos lá, o médico foi fazer um exame diferente daquela vez... Ele soltou algumas bandagens e examinou minha pele. Não me disse se estava bem ou não, só saiu rápido e chamou o enfermeiro para que me colocasse novas ataduras. Deu-lhe ordens também para me guiar depois até a sala de eletroencefalograma. Foi tudo muito rápido e metódico, não consegui me sentir à vontade para perguntá-lo sobre como estava meu rosto, então tirei a dúvida com o enfermeiro mesmo. Enquanto me guiava para fora do quarto, foi explicando que era cedo para os pontos das cirurgias plásticas terem cicatrizado, mas que em breve eu estaria com a pele novinha em folha.

— Mais do que eu provavelmente queria. - Comentei, mais uma vez tentando fazer piada com minha desgraça. Ao menos, brasileira eu tinha certeza que era.

Confesso que fiquei feliz por poder sair daquele quarto, mas pensei que Benjamin estaria do lado de fora. Quando não o vi em lugar nenhum, perguntei para o cara de jaleco branco que me apoiava pelo braço onde meu novo amigo estaria. Ele riu dizendo que esperava que minha felicidade por sair daquele quarto fosse maior que a vontade de ver o cidadão que tinha acabado de falar comigo. Depois de recuperar o fôlego (ele realmente achou que tinha falado algo muito engraçado) disse que Benjamin devia estar conversando com o médico. Depois me orientou a esquecer o tchau não dado pois eu precisaria dormir para que a máquina que havia na sala onde acabávamos de entrar lesse minhas ondas cerebrais corretamente.

— Sabe-se lá quando vamos conseguir outra vaga para fazer esse exame. O plantonista que te atendeu quando chegou aqui acidentada já tinha posto seu nome na lista, sabia? E ainda agradeça o milagre de ter conseguido um quarto só para você! - Aí se empolgou e reclamou mais um monte sobre as condições do hospital enquanto me dava um sonífero. Só ouvi o início do discurso e depois apaguei.

Acordei só no dia seguinte, já de volta no meu quarto. Me senti bem mal por não ter me despedido de Benjamin. Pode parecer melodrama mas ele era a única pessoa que eu tinha. E pior que nem sabia o telefone dele para saber quando voltava. Bem, não demorou muito. De tarde, já tinha voltado a cochilar pelo tédio da vida de quem vive hospitalizado quando resolvi me virar na cama e levei um baita susto: o maluco estava lá com a cara praticamente grudada no meu travesseiro. Entrou sem fazer barulho. Óbvio que dei um berro absurdo de susto.

— Ei, calma, calma! Eu não estou vindo aqui para que você morra de um ataque do coração! - Falou meio assustado por meu berro também, mas tentando brincar. Só então, ainda ofegante de susto pude notar: tinha alguma coisa errada com ele. Sabe quando alguém fica tentando sorrir mas claramente está com aquele olhar baixo e abatido? Pois é, essa era a descrição do meu visitante de cabelos ondulados naquele momento. Disse desengonçadamente que tinha dado o nome na secretaria no dia anterior como meu acompanhante oficial, então poderia entrar e sair de lá a qualquer horário. E depois ficou quieto, apático. Era impossível não perceber que havia algo bem errado com ele.

— O que o médico conversou contigo? - Se eu já tava muito curiosa para saber, o humor do Benjamin só piorou a situação.

— N-nada. Você não tem seus segredinhos? Pois eu também tenho os meus. - Continuava tentando fazer graça. Com o maldito desânimo na maneira como falava que não parecia em nada com o espírito solar que eu tinha conhecido nos outros dias. Infelizmente, eu realmente seria hipócrita se pedisse que ele me contasse o que escondia, então não tive alternativa senão tentar mudar o rumo da conversa. E rapidamente entendi que ele era bem melhor para mudar de assunto do que eu. Talvez por efeito do trauma no meu crânio, o fato é que não conseguia pensar em nada legal para falar, só vinham a cabeça várias perguntas com certeza pessoas e precipitadas demais. E ficamos lá igual dois seres sem vida sem ninguém abrir a boca. Só faltava uma mosca passando e zumbindo para fechar a cena ridícula. Já me sentindo incomodada com aquele silêncio, não me segurei e repeti agoniada a pergunta que já tinha feito:

Estrelas PerdidasOnde as histórias ganham vida. Descobre agora