Assim que enfiei a espada bem no meio de seu olho esquerdo, consegui seguir os dois, Nighy e o guarda que o escoltava, que haviam acabado de passar por uma porta na lateral do lugar. Senti falta de meu arco, até mesmo de uma faca, para que eu pudesse acertar o guarda sem precisar me aproximar tanto quanto uma espada pedia. E me xinguei por não ter pego o que Louise estava usando antes.

Minhas pernas queimavam pelo excesso de exercício, afinal, eu estava parada há quase uma semana, e meu corpo estava fraco, mas a adrenalina, a raiva e o desejo de justiça me impulsionavam cada vez mais para frente.

Quando eles, enfim, me notaram, o guarda colocou Nighy atrás de suas costas, usando seu próprio corpo de escudo, e empunhou a espada em minha direção. Não foquei em outra coisa além de sua arma, buscando redobrar minha atenção em seus movimentos, mas estranhei quando ele, surpreendentemente, a abaixou. Voltei meus olhos para seu rosto e compreendi: era o guarda que havia levado minha refeição no dia anterior, o mesmo que havia me mostrado sua tatuagem com o símbolo dos Red Rebels.

- O que pensa que está fazendo? - perguntou Alfred, demonstrando medo apesar de sua voz áspera. - Mate-a!

O guarda sorriu para mim e se afastou de Nighy, passando do meu lado em direção à sala do trono.

- Ajudarei Ivey - murmurou.

Assenti com a cabeça, mesmo que ele já estivesse longe e sem olhar para mim, e sorri vendo o homem acuado como um animalzinho indefeso. Ele tornou a se virar para onde, antes, estava indo e tentou correr para a porta no final do corredor. Deixei que ele tivesse uma pontada de esperança, que acreditasse que conseguiria fugir e se livrar de mim.

Sabia que, apesar da fraqueza e da queimação em minhas pernas, eu conseguiria alcançá-lo facilmente. Sua mão agarrou a maçaneta em desespero, mas a porta não abriu. Ele se jogou contra a superfície, mas ela não cedeu um milímetro. Gargalhei, tendo plena certeza de que o guarda havia preparado o terreno para mantê-lo preso ali até que ele me levasse até lá.

Refiz seus passos e encostei a ponta da espada em sua nuca. O corpo do velho retesou, e ele, finalmente, parou de se debater contra a porta.

- Vire-se - ordenei.

Ele obedeceu, levantando as duas mãos na altura da cabeça, em sinal de rendição.

- Eu devia deixá-lo passar fome, devia deixá-lo mofar naquela cela nojenta e podre - falei, e ele soltou um leve suspiro aliviado, acreditando que eu o deixaria fugir. - Devia sentenciá-lo à mesma morte, deixá-lo sofrer antes de, finalmente, livrar o mundo de sua presença. Mas eu não aguento mais saber que você está aqui, vivo, respirando, enquanto, por sua causa, famílias estão despedaçadas.

Ele abriu a boca, pronto para falar alguma coisa. Mas eu o interrompi:

- Te vejo no inferno.

Enfiei a espada em sua garganta e a retirei na mesma hora, seu corpo caiu no chão, as mãos correndo para o corte, na esperança de que ele conseguisse impedir o sangramento. Sentei ao seu lado, de forma que pudesse vê-lo.

Assisti enquanto ele continuava lutando para ficar vivo, enquanto ele olhava para o teto sem conseguir se mover pelo medo de abrir ainda mais o machucado. Só percebi quanto sangue ele havia perdido quando senti algo quente tocando minhas pernas cobertas pelo vestido.

- Você é tão filho da puta que não morre logo de uma vez - falei.

Ele me olhou de canto de olho, tentando falar alguma coisa, e eu já sabia o que ele queria: misericórdia. Nighy queria que eu o matasse de uma vez, finalmente desistindo de brigar por sua vida, e o livrasse daquele sofrimento.

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