Capítulo sete: Superaquecimento

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A população de toda a cidade de Manchester estava inusitadamente usando roupas mais leves para o atual dia. A região vivia um dia incomum à vida dos ingleses, pois as temperaturas estavam superando as médias das cidades de países tropicais. Para complicar um pouco mais, as tradicionais nuvens sobre a cidade sequer estavam contendo a massa de calor, e parte delas chegaram a se dissiparem, trazendo aberturas de sol a todo instante – como todos sabem, a maior parte da Inglaterra sempre foi marcada por temperaturas amenas e até mesmo baixas em quase todo o ano. Porém, nesse dia, o quadro havia mudado.

Na escola onde Nathaly e seus amigos estudavam, evidentemente, não escapou do clima castigante à cidade. O que era visto eram janelas abertas em seu ângulo máximo para arejar internamente o lugar. Na sala de Nathaly, por exemplo, muitos alunos estavam com as suas garrafas de água sobre as carteiras, e a professora daquela ocasião também possuía uma garrafa e estava com ela em mãos, ministrando a sua matéria de Biologia.

– Então, alunos, as plantas, como a maioria já sabe, além de elas necessitarem da água, se alimentam da luz solar para manterem-se vivas. Esse processo natural da nossa perfeita natureza chama-se fotossíntese. Esse processo consiste em converter a luz solar em energia vitamínica através da sua absorção pelas folhas. Já a água é primordial para equilibrar essa intensa carga de energia promovida pelo sol, hidratando-as. É importante haver um equilíbrio, tanto no recebimento da luz solar quanto hidratação com a água – explicava a atenciosa professora.

Nathaly tentava prestar atenção na matéria, mas um incômodo em seus olhos a fazia coçá-los e, muitas vezes, direcionar sua cabeça contra a carteira, inclinando-a. O seu suor era sobremodo intenso em relação às demais pessoas presentes em sala, e os guardanapos que ela levou de casa tornaram-se indispensáveis para ela. Inclusive, sua garrafa estava quase vazia. Como Juliana sempre sentava à carteira do lado, ela já estava observando sorrateiramente àquela situação da amiga durante toda a aula.

– Nathaly? – chamou Juliana, em baixo tom de voz. Não achando o suficiente, deu alguns toques na altura do ombro de Nathaly – Você está bem?

– Estou, Juliana – respondeu, olhando para ela. – É apenas o calor que não estamos acostumados. Você sabe disso.

– Você está suando muito durante toda a aula. Veja isso – apontou. – Você usou praticamente todos os seus guardanapos e ainda está quase acabando com a água mais uma vez.

– Eu estou bem, sério mesmo – garantiu.

– Certeza?

– Claro – sorriu. Esse sorriso era pouco forçado.

– Cadê sua corrente? – notou Juliana. – Derreteu no meio do caminho?

– Não – riu. – Ela quebrou, e eu dei para o meu pai levar a uma joalheria para arrumar, aproveitando a folguinha dele.

Ela ia se levantando da cadeira com a garrafa na mão.

– Juliana, agora eu vou...

– Você irá mais uma vez encher a garrafa – adivinhou.

– É isso aí. Já volto.

Quando chegou ao bebedouro, que ficava perto dos banheiros femininos e masculinos, Nathaly começou a sentir uma forte ardência em seus olhos e, ao invés de encher a garrafa, correu direto para o banheiro que, naquele momento, não havia ninguém. Sua primeira reação foi olhar para o espelho, e ela ficou assustada quando viu a íris de seus olhos ficando cada vez mais alaranjada. A ardência aumentava cada vez mais, até que raios saíram de seus olhos, aquecendo o espelho à sua frente e quebrando-o brutalmente. Com os estilhaços sendo lançados contra ela, Nathaly tentou proteger o seu rosto, erguendo-o para um dos lados em direção ao teto e os raios, que pareciam não parar, acertaram uma das iluminações do ambiente, fazendo-o pegar fogo. Felizmente, os raios pararam de ser emitidos, e ela rapidamente apagou o fogo quando tirou o saco do balde de lixo, encheu aquele balde com água e jogou contra as chamas.

A Filha da Natureza - Volume 1Onde as histórias ganham vida. Descobre agora