Capítulo Três: Às cegas

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| Conteúdo atualizado em 21/04/2018 |

A turma de Nathaly e Juliana teria aula de Biologia no laboratório da escola como a primeira aula do dia, na qual a atividade consistiria sobre anatomia animal na prática. Como cobaia dessa atividade, os alunos levaram simples peixes frescos para serem estudados, além de roupas e luvas apropriadas para a realização; os utensílios cortantes foram cedidos pela escola.

No banheiro feminino, Nathaly e Juliana estavam terminando de se assumar, colocando os seus jalecos. Nathaly parou e ficou olhando para o espelho. Ela ainda pensava sobre aquelas coisas que o seu pai tera contado a ela sobre a suposta origem de seus dons; a imagem do antigo carro da família não saía de sua cabeça. No meio daqueles pensamentos, uma mão passava na frente de seus olhos.

– Nathaly? Oi, oi – chamou Juliana.

– Sim, Juliana – respondeu, olhando lentamente para ela.

– Vamos. – Juliana a olhava desconfiada enquanto se dirigia lentamente até a porta. – Senão, chegaremos atrasadas para a aula no laboratório.

Nathaly deu mais uma olhada para o espelho antes de sair.

Elas chegaram ao laboratório e se acomodaram em seus lugares, com suas mesas uma ao lado da outra. Estando tudo pronto, a aula começou.

Com a aula já avançada, Juliana demonstrava menos resistência à experiência proporcionada:

– Sério. Nunca imaginei que um dia estaria fazendo isso – disse Juliana, que estava com uma cara de nojo a cada momento em que mexia no animal.

– Relaxa, Juliana – disse Nathaly, tentando segurar aquele riso tímido. – Aliás, por ser filha de dois cientistas, já deveria estar ciente que eles mesmos estão sujeitos a isso. Portanto, caso queira seguir essa área, aproveite essa experiência.

– É. Mas está muito difícil para mim. Sente esse cheiro. Eca!

– Aguente firme – pediu. – Daqui a pouco, a aula acaba.

Me parece que ainda durará uma eternidade – disse ela. – Não sei como você tem aguentado todo esse tempo.

– Talvez, porque estou somente me concentrando na aula.

Nathaly mantinha-se firme no que estava fazendo. Ela começou a explorar mais afundo todo o peixe, fazendo cortes aqui, incisões ali... A jovem estava em total entrosamento com a tarefa e bastante concentrada. Em meio a isso, ela começou a observar as membranas finíssimas e bem transparentes nos olhos do peixe – como muitos sabem, ou quem não sabe, essas membranas protegem os seus olhos do contato direto com a água. – A concentração foi tanta que, de repente, as mesmas membranas do animal surgiram em seus olhos em fração de segundos.

– Nathaly? – perguntou Juliana, que percebeu uma esquisita reação da parte da amiga.

– Sim? – respondeu, levando uma de suas mãos aos olhos para cobri-los de vista.

– Está tudo bem aí? Há alguma coisa em seus olhos?

– Tudo bem, sim. Não se preocupe. Estou apenas coçando os olhos. Parece que entrou algo.

– Deixe-me ver, Nathaly.

Juliana aproximou-se para dar uma olhada. Mas o sinal tocou, finalizando a aula e iniciando o intervalo.

– Olha, o que você queria aconteceu. Essa aula acabou – distraiu Nathaly. – Vamos ajudar a professora a arrumar as coisas para irmos ao intervalo.

Depois de dar uma despistada em Juliana, Nathaly pegou um pequeno espelho, que estava à disposição na mesa, para se olhar. Ao fazer isso, viu as membranas nos olhos e, quando deu mais uma piscada, elas sumiram, voltando tudo ao normal.

A Filha da Natureza - Volume 1Onde as histórias ganham vida. Descobre agora