Capítulo 7 - Você parece ótima

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Ana Clara

Dizem que o tempo cura todas as feridas. Mas quanto maior é a perdas, mais profundo é o corte. E mais difícil é o processo para ficar inteiro novamente. A dor pode desaparecer, mas as cicatrizes servem como lembrete do sofrimento. E o deixam preparado para nunca mais ser ferido. Enquanto o tempo passa... Nós nos perdemos em meio a distrações. Agimos por frustração. Reagimos agressivamente. Entregamos à ira. Durante todo o tempo. Tramamos, planejamos, e esperamos ficar mais fortes. E sem que percebamos, o tempo passa. E estamos curados, prontos para começar de novo.

— The Originals. "

Hoje era mais uma daquelas noites em que a lua brilhava lindamente no céu, as estrelas dançavam em perfeita harmonia, os amantes se amavam, as crianças dormiam, os poetas escreviam e os loucos sorriam para o vento. Hoje era mais uma daquelas noites em que eu me encontrava sentada na poltrona da sacada do meu quarto confortavelmente bebendo uma grande caneca de chá e olhando para o céu procurando uma resposta.

O dia havia sido lindo e confuso, Angel estava animada com seu primeiro dia de aula e eu estava animada por ela, tudo o que fazia minha filha sorrir me fazia sorrir também. Eu havia "reencontrado" a linda mulher de olhos cor de marte: "Ah e senhorita Caetano, eu amo desafios!" ela havia dito, tamanha petulância me fez sorrir, eram poucas as pessoas que tinha coragem de olhar em meus olhos e falarem o que pensam. Mas ela fazia mais do que isso, ela olhava em meus olhos e parecia ver o que mais ninguém via, ela não parecia olhar somente em meus olhos, ela parecia olhar minha alma e eu tinha medo do que ela poderia descobrir ali.

— Eu estou confusa André... — Falei olhando as estrelas, eu conversava com ele, todas as noites, às vezes eram conversas animadas e às vezes tristes, era uma maneira de eu fugir da minha dor e me encontrar com ele de novo. — Eu sinto sua falta, todos os dias, eu olho para Angel e eu me lembro de você, ela tem o seu sorriso... —Respirei fundo antes de continuar. — Eu queria tanto que você tivesse tido a sorte de conhece-la, as vezes eu acho que não vou mais aguentar de saudade mais ai eu olho para ela e eu encontro forças para continuar!

As lagrimas já desciam livremente pelo meu rosto, eram poucas a vezes que eu deixava elas caírem. Não que eu fosse triste, eu era feliz, tinha um bom emprego, amigos maravilhosos, uma filha que é tudo para mim... Mas faltava algo, toda as noites quando Angel dormia e eu ia para o silencio do meu quarto a dor me invadia, a solidão já era uma amiga. Minha mãe me falava "Você tem que superar Aninha, já faz cinco anos", mas eu não conseguia, eu o queria aqui comigo e com Angel. A verdade é que nos primeiros dois anos de Angel eu me sentia bem, claro sentia a falta dele a todo o momento, mas eu me sentia bem, e tinha minha filha comigo me alegrando todos os dias, ainda tenho, porém nos últimos três anos eu não consigo mais, eu me sinto sozinha, meus amigos e família nunca me abandonaram: Bárbara que eu conhecia desde a época do colegial sempre esteve comigo, Flávia veio para distribuir sorrisos e alegria aqui, Lucas alegrava meus dias com seu jeito doido, minha mãe, meu pai e meus irmãos moravam em Araguaína, porém sempre me ligavam e vinham me ver e ver Angel, eu agradecia muito por ter eles comigo eu nunca conseguiria seguir em frente sem a ajuda deles.

Mas, a ferida ainda estava ali exposta, ainda doía, ainda machuca. Não importa o tempo que passou, eu ainda me sinto vazia, eu ainda sinto sua falta.

— Mamãe? — Ouvi aquela voz angelical e que me acalmava, olhei para a porta do meu quarto e lá estava a razão do meu viver: Com pantufas do rei leão um pijama com temática de elefante, cabelinhos bagunçados, segurando uma manta lilás em uma mão e na outra o seu ursinho de pelúcia favorito, a personagem Nala de rei leão que antes era minha e eu dei de presente para ela me olhava com os olhinhos quase se fechando de sono. Meus braços, usando sua manta para cobri-la já que estava bastante frio ali fora, ela se ajeitou em meu colo, tão pequeninha.

A cura para o amorWhere stories live. Discover now