Capítulo 2 - O desconhecido

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Vitória

Dei-me o direito de acorda um pouco mais tarde hoje, afinal era sábado e qual a graça de acordar cedo nos finais de semana? O tempo lá fora estava ameno e tinha de tudo para ser um ótimo dia. Fiz minhas higienes matinais e desci as escadas em direção a cozinha, tinha certeza que minha mãe já estava acordada, Dona Isabel sempre acordava cedo demais o que era impressionante já que na minha cabeça todas as pessoas que acordam cedo demais por vontade própria são loucas. Assim que cheguei à cozinha a primeira coisa que percebi foi minha pequena irmã Ana Beatriz sentada em um dos bancos altos do balcão de madeira que separava a cozinha da sala, ela comia alegremente seu cereal colorido na MINHA tigela azul com tema do Bob Esponja e com uma colher em formato de ursinho, arqueei uma sobrancelha ao ver a cena.

— Bia, você sabe que esse é a MINHA tigela não sabe? — Falei em um falso tom irritado segurando o riso ao ver a pequena miniatura minha arregalar os olhos castanhos assustados. Vi pelo canto dos olhos minha mãe soltando um riso fraco.

— Minha filha não fale assim com sua irmã, você sabe que ela ama essa sua tigela. — Minha mãe chamou minha atenção enquanto se sentava à mesa redonda no meio da cozinha.

— Bom dia mãe — Abri um pequeno sorriso e me aproximei deixando um leve beijo em seus cabelos pretos com alguns fios brancos por conta da idade, ela respondeu um "Bom dia" e começou a comer sua torrada. Caminhei em direção a Ana Beatriz que ainda me olhava com os olhinhos arregalados e abri um grande sorriso para ela, eu amava tanto aquela pequena coisinha. — Bom dia princesa. — Dei um beijo apertado e molhado em suas bochechas cheias e rosadas, ela soltou uma pequena risada percebendo que eu não estava brava com ela.

— Bom dia Vivi, adivinha com o que eu sonhei hoje? — Ela perguntou animada balançando os pezinhos gordos no ar e me olhando com expectativa, dei de ombros em quanto me sentava para comer.

— Não sei... como o que você sonhou? — Perguntei pegando um pãozinho recheado e enchendo minha xícara de café, normalmente eu estaria comento cereais coloridos, mas já que certa pessoinha pegou minha tigela eu preferi comer pão mesmo, me recusava a comer cereais em outra tigela.

— Eu sonhei que ganhava uma bicicleta azul e com fitinhas rosa bem bonita... Que nem você me prometeu! — Ela falou animada, mas ao mesmo tempo vergonhada, a pequena sabia que não estávamos em uma boa situação financeira para comprar a tal bicicleta dos seus sonhos. Olhei para minha mãe que olhava para Beatriz com pesar, sabia que ela queria muito dar aquele presente para a pequena, afinal ela merecia, era uma criança tão inteligente e obediente.

— O minha pequena, sabe que no momento não posso comprar uma bicicleta para você, mas prometo que assim que as coisas melhorarem... -- Minha mãe começou a falar porem eu logo a cortei.

— E vão melhorar mais rápido do que a senhora imagina mãe... — Falei abrindo um grande sorriso, minha mãe me olhou confusa. — Flávia conseguiu me arranjar uma entrevista para secretaria na agencia de modelos que ela trabalha, o salario é maravilhoso e vai nos ajudar muito! — Falei animada. Flávia havia comentado comigo há pouco tempo sobre essa entrevista e falou que iria conversar com a chefe dela, da qual ela é muito amiga, para me encaixar em um entrevista, era um emprego muito bom e com um ótimo salario. Confesso que meu currículo é muito bom, eu não fiz faculdade, escolha própria já que se eu tentasse eu com certeza ganharia uma bolsa, mas, eu não sabia o que fazer e o medo de entrar em uma faculdade pra depois desistir era grande, então eu fiz vários cursos para deixar meu currículo bom como: informática, administração, fotografia, além de ser fluente em espanhol, inglês e arriscar um pouco no português.

Conheci Flávia há muito tempo, ela frequentava a mesma biblioteca em que eu trabalhava há alguns anos atrás, ela era uns quatro anos mais velha do que eu e na época sua namorada Bárbara estava gravida, pelo o que ela havia me contado elas haviam feito inseminação artificial, ela estava tão animada que passava pelo menos um dia da semana na biblioteca atrás de livros sobre maternidade e historias infantis, com isso viramos grandes amigas. Hoje, sua filhinha Eduarda tinha cinco anos, um ano a menos que Ana Beatriz, eu encontrava elas às vezes quando levava Beatriz para brincar no parque, ela e Eduarda são grandes amigas.

— Isso é serio filha? — Minha mãe me perguntou abrindo um sorriso longo, concordei com a cabeça também sorrindo. — O meu amor isso é ótimo... -- Ela se levantou e veio me abraçar, retribui o abraço que eu considerava o melhor do mundo. Minha mãe era professora infantil, ganhava muito bem, mas mesmo assim tínhamos que economizar muito, desde que papai morreu tivemos que cortar muita coisa dentro de casa, eu me sentia na obrigação de ajuda-la, papai me pediu para ajudar minha mãe e proteger ela e Beatriz, e eu faria isso.

— Isso quer dizer que eu vou poder ganhar minha bicicleta? — A voz doce e fofa de Beatriz quebrou meus pensamentos, não pude deixar de rir, ela realmente queria muito uma bicicleta.

— Prometo para você que no meu primeiro salario digno eu compro uma bicicleta do jeitinho que você quer! — Eu fazia alguns trabalhos pequenos de fotografa pela cidade, casamentos, formaturas, aniversários, tudo que aparecia para mim eu aceitava, mas mesmo assim não era um salario "digno", ajudava bem pouco.

— OBAAAA! — A pequena pulou do banco e veio correndo na minha direção, abraçou minha cintura e as pernas da minha mãe que estava em pé ao meu lado. — Vocês são as melhores, e eu amo muitão vocês. — Ela falou e eu podia ver que estava sorrindo.

— Nós também te amamos pequena. — Falei bagunçando os cabelos dela e sorrindo. Eu amava minha pequena família. — Agora corre pra tomar um banho que vou levar você no parque, o dia esta lindo hoje, quero aproveitar para tirar umas fotos. — Ela sorriu para mim gritando um "EBA" animado e correndo para o banheiro se arrumar.

☼☾☼

Não demorou muito para que eu e Beatriz chegássemos ao parque, morávamos praticamente na frente do mesmo. A pequena estava agitada hoje, o que era bem raro, Beatriz costumava ser uma criança bem calma e relaxada, lembro quando ela era bebe e quase nunca chorava, aproveitei que ela estava distraída e tirei uma foto dela sem que a mesma percebesse, a foto ficou linda, a pequena sorria olhando um filhote de cachorro correndo e suas bochechas gordas estavam levemente vermelhas. Eu havia levado minhas duas preciosidades, minha polaroid rosa que ganhei do meu pai no meu aniversario de 24 anos, e a minha Câmera DSLR D3400 da Nikon que eu havia lutado muito para comprar, fiquei fazendo horários extras na biblioteca durante quase três meses para poder comprar. Havia feito um curso de fotografia por 2 anos e tirar fotos meio que virou meu hobby eu tinha um tumblr onde postava minha melhores fotos e até mesmo uns poemas que eu escrevia em momentos de distração.

Fiquei andando pelo parque distraída tirando fotos de algumas flores, do céu, das crianças brincando, especialmente de Beatriz que agora brincava com uma garotinha de cabelos dourados, as duas pareciam se divertir muito já que riam alto. Fui tirada dos meus pensamentos quando um cachorrinho, o mesmo que saiu na foto que tirei de Beatriz quando chegamos ao parque, passou correndo entre as minhas pernas e quase me derrubou, foquei meu olhar nele e vi que ele corria em direção a um banco onde uma moça estava sentada lendo um livro distraidamente, percebi que ela desviava o olhar do livro às vezes para olhar em direção a Bia e a menininha de cabelos dourado... Será que era irmã da menina ou algo assim? A moça era linda por sinal, de longe podia ver que seus olhos eram incrivelmente castanhos, os cabelos caiam em leves cascatas por seus ombros. Andei um pouco para ficar em um lugar onde eu poderia tirar algumas fotos dela em um melhor ângulo. O Sol batia no rosto dela e isso deixava os olhos delas muito mais claros, e meu Deus, que olhos lindos. Eu acho que eu já havia tirado umas 15 fotos dela, uma era a minha preferida: ela olhava para a menininha de cabelos dourados e tinha um pequeno sorriso nostálgico no rosto, mas seu olhar era triste, e céus eu daria de tudo para saber o que deixava ela com os olhos tão tristes. Estava tão perdida em meus pensamentos que nem percebi que a tal moça me olhava agora, ela havia me pegado olhando pra ela... Merda, os olhos dela eram mais bonitos agora olhando fixamente para mim, eu deveria parar de olhar para ela, mas a única coisa que consegui fazer foi abrir um pequeno sorriso envergonhado e levar minha polaroid até os olhos, tirando outra foto dela, mas infelizmente essa não ficaria comigo, esperei a foto ser revelada balançando ela no ar para acelerar o processo.

Fui tirada daquele pequeno momento por Beatriz que venho correndo em minha direção falando que estava cansada e queria ir pra casa. Concordei com a cabeça, mas antes de ir embora peguei uma caneta que eu sempre levava para os lugares e escrevi uma pequena frase atrás da foto da polaroid, olhei de novo para a moça de olhos de jabuticaba que me olhava atentamente de novo, abri mais um sorriso para ela e deixei a foto em cima do banco que estava ao meu lado, segurei a mão da pequena Beatriz e saímos do parque, não sem antes de comprar um sorvete para nos duas.

Sai daquele parque sem ter certeza se um dia eu iria a ver de novo, mas com as lembranças daquele lindo rosto e daqueles olhos tão hipnotizantes guardados em minhas memoria e em minhas fotos.

A cura para o amorWhere stories live. Discover now