Capítulo 26 - Amarga Vitória

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— Deu errado? — Ten-Ten perguntou, e Neji sorriu irônico ao se afastar para se pôr de pé.

Estava saindo com Ten-Ten desde o começo do ano, há alguns meses, e ela o conhecia o suficiente para suspirar após analisá-lo, os olhos castanhos preocupados e doces, e então dar a volta para colocar ambas as mãos em seus ombros e começar a empurrá-lo em direção às escadas para o segundo andar. Sentou-se em um dos bancos como ela pedia e a observou voltar logo com algumas faixas.  

— Mãos, por favor — ela pediu enquanto reamarrava o cabelo castanho em um rabo de cavalo alto. — Vamos socar aquele bendito saco, comer porcaria e depois você me conta o que aconteceu. Feito?

Neji assentiu em silêncio, abriu e fechou as mãos quando Ten-Ten terminou de passar a faixa por elas e se livrou da camisa ao ficar de frente para o saco de areia. Ten-Ten o segurou, e Neji respirou fundo, cerrando os punhos e concentrando toda a raiva pelas audições neles. E, quando o comando para que começasse veio, ele não se segurou, deixou que a frustração fluísse como um rio que rompe a barragem levando consigo tudo que está à frente.

* * *

A aula havia sido horrível. Naruto percebeu que ninguém ousava abrir a boca, e as provocações de Orochimaru ecoaram pela sala sem resposta, nem mesmo de Sasuke. Tinha ido conferir os nomes após a frase de Sasuke e, pelo que havia conversado com Sakura, entendia que aquele resultado não era o verdadeiro. Aliás, ele havia presenciado as audições para o papel principal feminino, e Sakura estar entre as escolhidas não fazia sentido algum, ele mesmo havia tocado para bailarinas que haviam tido um desempenho melhor e não se lembrava de Sakura ter disputado aquele papel.

A companhia, é claro, tinha o poder de atribuir o papel adequado para cada bailarino, a despeito do papel a que ele se inscrevesse. Era o modo de garantir a qualidade do espetáculo, o nome da companhia. Haveria uma semana de folga antes que os ensaios começassem. As aulas teriam seu tempo reduzido, agora era a hora em que toda a companhia se focaria somente nos dois espetáculos que apresentariam ao final do ano. Figurino, cenário, ensaios individuais, ensaios gerais, era o começo de um preparação corrida e intensa. Mas Sakura estar entre os destaques era gritar que os resultados tinham sido fraudados. E era só sobre isso que a companhia toda comentava.

Os sussurros acompanharam Naruto do vestiário à sala para a aula seguinte, mas ele vira a forma como os alunos e até mesmo alguns professores encaravam Sakura e Sasuke, como se a culpa fosse deles. Sentiu um frio na espinha, um pressentimento horrível que o fez aproveitar-se do breve intervalo para subir as escadas correndo e voltar ao vestiário masculino.

A aula de Sasuke havia terminado há um tempo, não havia muita surpresa em não encontrá-lo ali mais. Entretanto, o pressentimento ainda estava ali...

A avaliação masculina não havia sido assim tão injusta, Naruto havia assistido aos bailarinos selecionados, a diferença entre eles era tão pouca que não saberia como escolher os papéis. Contudo, com a fraude a favor de Sakura, nada mais óbvio que a insatisfação se virasse para Sasuke também, ainda mais quando todos sabiam o quanto Orochimaru parecia adorá-lo e odiá-lo ao mesmo tempo.

Discou o número de Sasuke enquanto descia as escadas. Não havia conseguido conversar com ele direito, mas esperava que Sasuke já tivesse ido embora. Ficar ali, sozinho, no meio de alunos que certamente o estavam odiando naquele momento não era uma decisão muito inteligente. Aquele lugar era competitivo demais, e onde a competição é muito alta, onde o sacrifício de cada um para alcançar seu sonho é muito alto, as reações a uma provável injustiça também costumava ser... Na sede, quando trabalhava com Tsunade, lembrava-se do terror que o abateu quando socorreu uma adolescente quando os resultados tinham ido anunciados. Tsunade havia chamado aquilo de "coisa de criança", uma "briga boba entre garotas", mas havia sido assustador ver os arranhões pelo rosto da garota e a frieza com que as demais bailarinas sorriram antes de deixar a sala da direção. E, se com adolescentes era assim... não queria mesmo nem imaginar o que adultos fariam.

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