-Sempre fui a ovelha negra, não foi? O Afonso é o favorito e a Constança é a neta que sempre quiseste para me substituir...
-Rita, sabes bem que... - Constança interveio, sem sucesso.
-Eu sei que a culpa não é tua, Constança. É da minha avó. Que negligenciou o outro lado da família. Sempre gostaste mais da Madalena!
Maria abanou a cabeça. – Que conversa é essa? A Mafalda andou a meter-te coisas na cabeça outra vez?
Rita riu. – A minha mãe não precisa de dizer nada, avó! Eu sei bem que preferiste morar aqui do que lá em casa.
A velha senhora começava a ficar nervosa, percebeu Constança. Os gritos de Rita deixavam a idosa ansiosa e a moça ainda não percebia como se originou aquela altercação.
-Rita, já chega. Vocês estão nervosas e ainda dizem alguma coisa de que se vão arrepender. – Constança falou, passando a mão no braço de Maria, que parecia cada vez mais perturbada.
-Ela sabe que digo a verdade porque não tem nenhuma resposta para me dar. Admite que sempre preferiste o Afonso! Sempre foi o teu neto preferido e eu não sei o que fiz para merecer esse tratamento.
Maria aproximou-se da neta a passos tremidos. – Isso é conversa de uma menina pequenina e mimada e eu tenho a certeza que a minha filha te educou melhor que isso.
Constança fechou os olhos diante do confronto. Rita olhou para cima, para o teto, e bufou.
-Pensei que fosses diferente das vizinhas. Ou dos teus pais de quem tanto te queixaste e fugiste assim que pudeste!
Maria estendeu o dedo. – Não penses que te vou ouvir falar dos meus pais como se os tivesses conhecido! Não tenho paciência para isso, sabes bem! Sai da minha casa imediatamente Rita Clara!
A algarvia soltou uma gargalhada desdenhosa no momento em que a porta se abriu, revelando o rapaz que não deveria ter aparecido naquele instante. Afonso estava atónito com as palavras que ouviu. E admirado por ver avó e neta discutirem tão fortemente.
-O que se passa aqui?
Constança cerrou os lábios, encolhendo os ombros quando o olhar confuso dele pousou nela.
-Estão a tentar atrair a cidade para a beira da nossa porta?
Rita aplaudiu o comentário, ironicamente, e Maria levou as mãos à cabeça, encostando as costas ao braço do sofá.
-Chegou o seu neto favorito, Maria. – A neta, magoada, falou. Afonso admirou-a, começando a zangar-se com a prima, aproximando-se da avó. – Com Constança aqui, tem a sua família perfeita...
Maria cerrou os punhos com a força que tinha e bateu a mão no sofá. – Está calada!
Depois, como se tivesse gasto toda a sua energia com aquela advertência, a idosa revirou os olhos e caiu em cima do sofá, desmaiada. Afonso apressou-se em abeirar-se da velha senhora e afastar Rita com um empurrão. Constança deu uma corrida até à cozinha para voltar com um pano húmido. Os olhos de Rita transbordavam lágrimas e ela comportava-se como um animal tonto e assustado, sem saber o que fazer para ajudar. Constança estendeu o pano a Afonso que o passou pela testa e pescoço da avó e a moça, ágil, desabotoou os botões da camisa de Maria. Rita gritava palavras de arrependimento e pedia ajuda, bloqueada, vendo os dois agir rapidamente para acudir a idosa.
-Vai lá para fora e chama uma ambulância! Não posso ouvir-te mais um segundo. – Afonso berrou à prima que, com uma rapidez que não possuíra até ali, obedeceu à ordem. Depois, voltando-se para Constança, engoliu em seco e chamou pela avó.
Alguns segundos depois, Maria veio a si. Atordoada e confusa com as expressões preocupadas dos rostos deles. – O que foi?
Afonso suspirou e Constança passou para as mãos de Maria um copo com água e açúcar.
-Desmaiou, Mariquinhas. – Constança esclareceu. – Rita chamou uma ambulância.
E, mesmo com o característico discurso refutador, a ambulância chegou e os paramédicos entraram na casa, seguidos por Rita, que chorava desalmadamente.
-Já disse que estou bem!
Afonso pediu à avó que fizesse o que os médicos mandassem e eles levaram-na até à ambulância onde a auscultaram e mediram a pressão arterial. Perguntaram o histórico médico de Maria a Afonso e perguntaram-lhe que medicação tomava. Ao ouvir o toque da máquina, encararam os números da tela e revelaram que os valores da pressão arterial estavam demasiado elevados. Disseram que a levariam ao hospital e ignoraram as preces de Maria para ficar em casa. Constança ligou a Madalena e a idosa, roubando-lhe o telemóvel, exigiu-lhe que a fosse buscar ao hospital e que não fizesse nenhum drama porque estava bem. Rita tinha desaparecido.
🌊 🌊 🌊 🌊 🌊 🌊 🌊 🌊 🌊
YOU ARE READING
Made in Portugal
General FictionÉ uma casa portuguesa, com certeza! É, com certeza, uma casa portuguesa! Quando famílias dos mais variados cantos de Portugal se juntam, tudo pode acontecer. Comer. Beber. Conversar. Gritar. Apreciar. Cantar. Dançar. Uma casa nunca esta demasiado c...
~~~Vila Nova de Milfontes~~~
Start from the beginning
