~~~Nazaré~~~

54 7 5
                                        

10/04/2018

-A Nazaré tem recebido vários prémios pelas suas ondas. No ano que passou, recebeu o premio de maior onda do ano. E, este ano, já foi parar à televisão nova iorquina. Nazaré esta nas bocas do mundo! – Sara falou, apertando o casaco contra si, cruzando os braços.

-Preparem as câmaras e os impermeáveis porque vão molhar-se. – Constança aconselhou, deixando Sara prosseguir com a visita, entrando num acolhedor restaurante com os avós.

Estava a divertir-se com aqueles meses no Norte. Os turistas gabavam o território português e os seus habitantes, admitindo achar a língua portuguesa sensual. Modesta, Constança lembrou-lhes o idioma italiano e espanhol, algo muito mais latino, mas eles limitaram-se a rir.

Sentaram-se, conversando com o dono do típico restaurante de marisco e riram ao som das ondas explosivas daquele mar.

Constança encarou os avós e sorriu. Amava aqueles dois e só queria poder adiar o verão para não ter que regressar ao Sul. A avó lamentava aquele estado de espírito, menos deprimente, mas triste, ainda assim. Tinham saudades da neta alegre e leve, porém esperavam pelo seu regresso. Encorajavam as viagens até a costa Algarvia, contudo ela insistia em mudar o curso daquelas conversas. Sorriam com o desespero da neta a cada conversa com Maria e não evitavam as gargalhadas quando a sábia mulher mencionava o seu neto e como os dois fariam um lindo casal. E concordavam. Em parte, para arreliar a neta, mas, também, porque similarmente pensavam.

Os deprimentes fados tinham diminuído, mas nenhuma música os substituíra, o que era igualmente alarmante. Sentiam Constança cada vez mais exausta de viver naquele estado, mas não sabiam o que mais poderiam fazer para a animar. Conceição conhecia o que era sofrer por um coração partido. Sabia que demoraria a sarar, mas estava a demorar demasiado tempo e receava que se tornasse um hábito para Constança viver naquela concha psicológica que criara para si própria. Detestava aqueles sorrisos forçados e os olhos sempre brilhantes que denunciavam as lágrimas.

-Mimi, e os teus pais? Os teus amigos? Não deixes que um amor passado te afaste deles...

Constança ergueu o olhar. Manuel não deveria ser tão importante ao ponto de a fazer fugir para o Norte do pais. No momento, achou que era uma boa ideia, mas não queria sobrecarregar a vida simples que os avos levavam. E mesmo com as palavras convincentes de Alberto, Constança sabia que deixa-los ver como ficara abatida por causa de um rapaz não era saudável para ninguém. Contudo, sentia que ainda não estava preparada, mesmo tendo-se afastado por quatro meses. Mário contava-lhe que Manuel perguntava por ela. Mostrava-se arrependido e queria encontrá-la para tentarem outra vez. Ela não queria. E Conceição dizia, com um ar muito altivo e o nariz empinado, que "a família Rocha da Maia não perde tempo com quem não nos valoriza". Constança e Alberto sorriam ao ouvir o tom zangado, mas assentiam, concordando com ela.

Ali, no Norte, sentia que era defendida e isso aquecia-lhe o peito.

-E os teus sonhos, Mimi?

Os sonhos? Não havia espaço para isso, Constança pensava. Nem tempo. Ou dinheiro. Não havia devaneios que chegassem para a fazerem acreditar que poderia ter o seu negócio. Viver como sempre desejou. Ilusões de criança, isso sim. Pensamentos inocentes, escritos em folhas perdidas de um caderno qualquer, já sem capa. Não. Não podia, pensava.

-Constança, e o teu hotel familiar, querida?

A moça cerrou os lábios. Alberto pegou-lhe a mão e apertou-a, numa caricia reconfortante.

-Vamos contigo, Mimi.

Então, estava na hora.

🌊 🌊 🌊      🌊 🌊 🌊      🌊 🌊 🌊

Made in PortugalTahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon