É uma casa portuguesa, com certeza!
É, com certeza, uma casa portuguesa!
Quando famílias dos mais variados cantos de Portugal se juntam, tudo pode acontecer. Comer. Beber. Conversar. Gritar. Apreciar. Cantar. Dançar. Uma casa nunca esta demasiado c...
A velha idosa, relativamente alta, com os cabelos assumidamente grisalhos e o xaile nos ombros, virou-se para encarar a jovem bonita de rosto risonho. Limpou as mãos no avental e sorriu. – Cheira a Lisboa, minha querida!
Constança riu, aproximando-se da mulher para lhe depositar um beijo em cada bochecha. No seu vestido azul às pintinhas brancas e com um decote em V pouco profundo, a jovem parecia uma menina, leve como uma pluma. Maria abraçou-lhe o braço e encarou os olhos raiados de verde e o sorriso tonto e vermelho.
-O meu Afonso devia namorar-te, Mimi...
Constança evitou arregalar os olhos. Levou a mão aos cabelos cor de cobre escuro e pensou rapidamente em algo para mudar o assunto, mas a avó Maria foi mais rápida.
-Andou perdido quando namorou aquela desvirada da Joana. Desgraçou o meu rapaz! – Falou a mulher. – Pôs-se mal e...
-Ó avó Maria, a mulher anda deprimida com a vida, coitada!
-Coitada?! Na minha altura não havia destas frescuras.
Constança riu. Aproximou-se do pequeno rádio a pilhas que cantarolava um fado qualquer, como de costume naquela casa, e aumentou um pouco o volume, com cuidado, não fosse tirar a sintonização ao aparelho. – O seu neto também não é flor que se cheire, Mariquinhas...
A mulher sorriu com as palavras da jovem que passeava pela cozinha pequenina. Crescera dentro daquela casa, mas tinha sempre o ar de quem descobria novos desenhos nos azulejos azuis e brancos. – Pois, eu sempre disse que ele ficaria melhor contigo. Vê lá se a outra alguma vez veio aqui quando lhe pedi!
Constança fitou a mulher e respirou fundo. – E ainda se queixa o meu pai que as mulheres do Norte é que são difíceis de suportar. Fique sabendo, avó Maria, que para Alentejana, estou a achar muito difícil conseguir lidar consigo.
A velha mulher riu, voltando a atenção para o fogão. Retirou o tacho do lume e procurou uma taça para colocar a comida. – Pois bem, minha querida, fica sabendo que a outra moça nunca falou comigo, com demasiada vergonha.
-Ela é uma miúda tímida!
-Não lhe custava nada. A ti não te custa. És refilona...
-Criada por uma mulher do Norte, não se poderia esperar outra coisa. – Refutou Constança, sorrindo ao sentir o abraço da mulher. - Ela foi estudar para Lisboa e veio mais contida, avó Maria.
-Pois que fosse plantar batatas! Foi o que lhe fez falta. Te garanto que não estaria assim, não! – A mulher disse, levando a mão ao rosto de Constança. – No meu tempo...
Constança riu. – 'Ó tempo, volta para trás! Traz-me tudo o que eu perdi! '
Maria fechou os olhos ao ouvir a voz de Constança. – 'Tem pena e dá-me a vida! A vida que eu já vivi!'
Constança estalou um beijo na bochecha da velha senhora e abraçou-a. – Sempre tivemos fadista, não é verdade Mariquinhas?
-Minha querida, alegra-me saber que também tu sabes uns fadinhos. – Falou a mulher, embrulhando o comer. – Olha lá, leva-me este almoço para o Afonso e o Mário. Tenho a certeza que o rapaz se alimenta muito mal com aquelas sandes de comida retardada. Fazes-me esse favor, meu bem? E leva para ti também. Espera mais uns minutos que preparo também para ti.
-Nem pensar, avó Maria. – Apressou-se Constança. – Não quero dar-lhe trabalho. Vou levar o almoço para eles até à praia, que hoje é dia de levar os clientes a ver o mar, mas não se preocupe comigo. Além disso, almoço no "Cabana" com os meus turistas...
-Para se comer bacalhau não há melhor, lá isso é verdade. Janta connosco esta noite.
Constança lançou-lhe um sorriso infantil. – A sua filha sabe que convida pessoas para jantar na casa dela?
A mulher empinou o queixo. – Pois que tem ela que ver com isso? Sou eu que cozinho nesta casa...
Constança riu. Beijou novamente o rosto da velha senhora e pegou no casaco bege, largado no sofá. – Agradeço, mas amanhã parto cedo para Lisboa...
-Ora! – A mulher refilou. Constança baixou os ombros. – Precisas de jantar, ainda assim!
A jovem abanou a cabeça, rendendo-se. – Muito bem, convenceu-me. Hoje o jantar é na casa da Mariquinhas.
A mulher juntou as mãos e viu a jovem virar costas e sair. Acenou-lhe com a mão e ficou a vê-la afastar-se, encostada ao parapeito da janela.
"Foi no Domingo passado que passei// À casa onde vivia a Mariquinhas..."
🌊 🌊🌊 🌊 🌊 🌊 🌊 🌊 🌊
Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.
Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.
Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.
🌊 🌊🌊 🌊 🌊 🌊 🌊 🌊 🌊
Olá!! Antes de tudo, muito obrigada por chegarem até aqui!
Espero, sinceramente, que gostem de embarcar nesta história.
A partir deste momento, acompanharemos a vida dos portugueses que integram a obra e, basicamente, encarnam um pouco de cada personalidade de Portugal. A história desenrola-se pelas várias cidades. Oiçam as músicas da multimédia, se conseguirem. Fazem toda a diferença na leitura. E também são algumas vezes referidas no texto. Comentem o que acham! Fico muito agradecida com qualquer ajuda e são as críticas que nos permitem crescer... em tudo.