~~~Alentejo~~~

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15-05-2017

-Cheira tão bem, avó Maria!

A velha idosa, relativamente alta, com os cabelos assumidamente grisalhos e o xaile nos ombros, virou-se para encarar a jovem bonita de rosto risonho. Limpou as mãos no avental e sorriu. – Cheira a Lisboa, minha querida!

Constança riu, aproximando-se da mulher para lhe depositar um beijo em cada bochecha. No seu vestido azul às pintinhas brancas e com um decote em V pouco profundo, a jovem parecia uma menina, leve como uma pluma. Maria abraçou-lhe o braço e encarou os olhos raiados de verde e o sorriso tonto e vermelho.

-O meu Afonso devia namorar-te, Mimi...

Constança evitou arregalar os olhos. Levou a mão aos cabelos cor de cobre escuro e pensou rapidamente em algo para mudar o assunto, mas a avó Maria foi mais rápida.

-Andou perdido quando namorou aquela desvirada da Joana. Desgraçou o meu rapaz! – Falou a mulher. – Pôs-se mal e...

-Ó avó Maria, a mulher anda deprimida com a vida, coitada!

-Coitada?! Na minha altura não havia destas frescuras.

Constança riu. Aproximou-se do pequeno rádio a pilhas que cantarolava um fado qualquer, como de costume naquela casa, e aumentou um pouco o volume, com cuidado, não fosse tirar a sintonização ao aparelho. – O seu neto também não é flor que se cheire, Mariquinhas...

A mulher sorriu com as palavras da jovem que passeava pela cozinha pequenina. Crescera dentro daquela casa, mas tinha sempre o ar de quem descobria novos desenhos nos azulejos azuis e brancos. – Pois, eu sempre disse que ele ficaria melhor contigo. Vê lá se a outra alguma vez veio aqui quando lhe pedi!

Constança fitou a mulher e respirou fundo. – E ainda se queixa o meu pai que as mulheres do Norte é que são difíceis de suportar. Fique sabendo, avó Maria, que para Alentejana, estou a achar muito difícil conseguir lidar consigo.

A velha mulher riu, voltando a atenção para o fogão. Retirou o tacho do lume e procurou uma taça para colocar a comida. – Pois bem, minha querida, fica sabendo que a outra moça nunca falou comigo, com demasiada vergonha.

-Ela é uma miúda tímida!

-Não lhe custava nada. A ti não te custa. És refilona...

-Criada por uma mulher do Norte, não se poderia esperar outra coisa. – Refutou Constança, sorrindo ao sentir o abraço da mulher. - Ela foi estudar para Lisboa e veio mais contida, avó Maria.

-Pois que fosse plantar batatas! Foi o que lhe fez falta. Te garanto que não estaria assim, não! – A mulher disse, levando a mão ao rosto de Constança. – No meu tempo...

Constança riu. – 'Ó tempo, volta para trás! Traz-me tudo o que eu perdi! '

Maria fechou os olhos ao ouvir a voz de Constança. – 'Tem pena e dá-me a vida! A vida que eu já vivi!'

Constança estalou um beijo na bochecha da velha senhora e abraçou-a. – Sempre tivemos fadista, não é verdade Mariquinhas?

-Minha querida, alegra-me saber que também tu sabes uns fadinhos. – Falou a mulher, embrulhando o comer. – Olha lá, leva-me este almoço para o Afonso e o Mário. Tenho a certeza que o rapaz se alimenta muito mal com aquelas sandes de comida retardada. Fazes-me esse favor, meu bem? E leva para ti também. Espera mais uns minutos que preparo também para ti.

-Nem pensar, avó Maria. – Apressou-se Constança. – Não quero dar-lhe trabalho. Vou levar o almoço para eles até à praia, que hoje é dia de levar os clientes a ver o mar, mas não se preocupe comigo. Além disso, almoço no "Cabana" com os meus turistas...

-Para se comer bacalhau não há melhor, lá isso é verdade. Janta connosco esta noite.

Constança lançou-lhe um sorriso infantil. – A sua filha sabe que convida pessoas para jantar na casa dela?

A mulher empinou o queixo. – Pois que tem ela que ver com isso? Sou eu que cozinho nesta casa...

Constança riu. Beijou novamente o rosto da velha senhora e pegou no casaco bege, largado no sofá. – Agradeço, mas amanhã parto cedo para Lisboa...

-Ora! – A mulher refilou. Constança baixou os ombros. – Precisas de jantar, ainda assim!

A jovem abanou a cabeça, rendendo-se. – Muito bem, convenceu-me. Hoje o jantar é na casa da Mariquinhas.

A mulher juntou as mãos e viu a jovem virar costas e sair. Acenou-lhe com a mão e ficou a vê-la afastar-se, encostada ao parapeito da janela.

"Foi no Domingo passado que passei// À casa onde vivia a Mariquinhas..."


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Olá!! Antes de tudo, muito obrigada por chegarem até aqui!

Espero, sinceramente, que gostem de embarcar nesta história.

A partir deste momento, acompanharemos a vida dos portugueses que integram a obra e, basicamente, encarnam um pouco de cada personalidade de Portugal. A história desenrola-se pelas várias cidades. Oiçam as músicas da multimédia, se conseguirem. Fazem toda a diferença na leitura. E também são algumas vezes referidas no texto. Comentem o que acham! Fico muito agradecida com qualquer ajuda e são as críticas que nos permitem crescer... em tudo. 

Boa leitura!

Beijos e abraços.

Até já, 

Fifas.

Made in PortugalWhere stories live. Discover now