08/05/2018
"Lisboa, menina e moça, menina!"
A capital era linda naquela época do ano. Não estava frio e o sol estava sempre presente. As noites aguentavam-se bem e permitiam os passeios a pé. Mesmo com grupos e grupos de pessoas que saiam de todos os cantos da cidade e preenchiam as ruas, Lisboa continuava a ser uma cidade fascinante. Quando o sol se punha, o ar ganhava um tom meio alaranjado. O olhar de quem contemplava a paisagem parecia ficar ainda mais brilhante. Sentia-se a história dos portugueses dentro daquelas pedras gritar ao mar.
Constança olhou para Sara, que lhe tinha dito qualquer coisa sobre ir certificar-se que estava tudo pronto para entrarem no próximo museu, e assentiu com a cabeça. A mulher virou costas e entrou no estabelecimento, deixando-a sozinha com os turistas. Dava por si a contar todos os que a acompanhavam inúmeras vezes, não fosse perdê-los no meio da multidão. Sorriu ao lembrar-se de ter prometido à família que estaria em casa a tempo de ver a grande final do festival Eurovisão.
Jornalistas de diferentes canais de televisão, falavam em frente às camaras, referindo-se ao enorme espetáculo que a cidade acolheu por ter sido a vencedora daquele concurso de canções. Entrevistavam alguns estrangeiros que passavam na rua e perguntavam-lhes por qual país torciam eles.
Constança descruzou os braços e sorriu aos seus guiados, esfregando as mãos. – Vejam só a calçada portuguesa, meus caros! – Falou, prendendo a atenção deles com a história que se seguiria. – Portugal foi assolado com um grande terramoto em 1755. Lisboa foi a cidade mais afetada com isso. A destruição foi imensa. Mas, há males que vêm por bem, como se costuma dizer. A calçada que pisam é um reaproveitamento dos destroços desse dia marcante. As construções ficaram em ruinas, mas as obras que ergueram a cidade fizeram dela o que é hoje. E os desenhos que vemos nestas pedras brancas e azuis têm história. São história.
E tinha sido ali que tudo começara. Dali saiu Bartolomeu Dias para passar o Cabo da Boa Esperança; Vasco da Gama rumo à Índia; Pedro Álvares Cabral para o Brasil e Fernão Magalhães...
Os turistas estavam encantados com as histórias de Constança. Focados na guia turística ouviam os seus relatos enquanto admiravam o horizonte azul.
Sara aproximou-se, rindo ao ver os turistas fotografar a calçada. – Estão à nossa espera.
Dali, Constança seguiria novamente para o sul do país. Virou costas com a intenção de pedir ao motorista que a levasse de volta para o hotel quando foi interrompida pelo toque terrível do seu telemóvel.
Rita, do outro lado, cumprimentou-a efusivamente, disposta a esquecer completamente a última vez em que se cruzaram. – Não acredito que o meu tio não te deu férias!
Constança revirou os olhos. – É claro que deu.
-Bem, estou a tentar encontrar um serviço de catering decente e...
-Tenho a certeza que o Ricardo conhece bons cozinheiros. Já tentaste passar essa tarefa para ele?
O silêncio que se fez ouvir confirmou as suspeitas de Constança. Rita estava à beira de se tornar uma noiva Hulk, como Afonso gostava de dizer.
-Estou a ficar ansiosa com a proximidade da data, Mimi!
Constança respirou fundo. – Acalma-te um bocadinho, sim? Tenta aproveitar o teu casamento e deixa as damas de honor tratar do resto.
Ouviu o suspiro de Rita.
-Amanhã estou aí. E se fôssemos ver o teu vestido novamente? Tenho a certeza que a costureira já o arranjou.
A madrinha do casamento tinha razão, Rita admitiu. Precisava de descontrair. E, em breve, haveria casamento.
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Como se tornara costume, Maria tratava das suas plantas à frente da pequena casa quando viu o carro de Constança aproximar-se. Esfregou as mãos para sacudir o pó da terra e endireitou-se para saudar a moça. Com um vestido verde que convidava a serões na praia, a jovem lá saltou do carro e apressou-se para junto da mulher. Abraçou-a com um sorriso no rosto e perguntou pelas novidades.
-Tudo velho, Mimi. – Foi a resposta de Maria. A sua relação com a neta ainda estava tremida pela última discussão e eram ambas demasiado orgulhosas para dar o braço a torcer. – Vieste cedo.
-Estou apenas de passagem, Mariquinhas. Tenho de ajudar nos preparativos do casamento da Rita ou estarei a ouvir as queixas da Teresa.
A mulher não disse nada. Voltou-se para as roseiras e perguntou se a moça dos olhos esverdeados ficava para almoçar. Constança estava à beira de recusar o convite quando Afonso se aproximou na sua bicicleta.
-Já de regresso? O meu pai mima-te muito...
Maria riu e proibiu o neto de entrar em casa com areia nos pés. Depois, como se adivinhasse que o rapaz precisava de falar com a moça, entrou, alegando precisar de vigiar a cozedura dos ovos que preparava para o almoço. Eles observaram-na virar costas.
-Quando regressaste? – O homem perguntou, cruzando os braços.
Ela respirou fundo e encostou as costas à parede da casa. – Na noite passada, mas já estou de partida. O teu pai precisa que vá a Barcelona assegurar umas parecerias. Volto no fim de semana para a final do festival.
Afonso assentiu, abanando a cabeça. Naquele ano, o Festival Eurovisão da Canção parecia excecionalmente mais especial naquela casa. – Com a Sara?
Constança arregalou os olhos, negando com a cabeça demasiadas vezes. – Felizmente, não. Ela viajou para o Açores com os turistas.
Afonso aproximou-se e tocou nos fios meio avermelhados do cabelo dela. – Tu e esse teu medo de aviões. Como vais visitar os Açores ou a Madeira, como tanto queres, se te recusas a entrar num avião?
-Existem barcos, não é, Afonso?
Ele riu, revirando os olhos, e juntou-se um pouco mais a ela, que não ficou indiferente com a proximidade. Fitou os olhos de um tom castanho-claro e soube que era capaz de os admirar por minutos. Viu o sorriso maroto no rosto dele e conteve a respiração. Conhecendo-se como conhecia, em breve estaria a implorar por um beijo e ele previa que era isso que cruzava a mente dela naquele momento.
-E se fôssemos dar um passeio? – Sugeriu Constança para o seu próprio bem. – Preciso contar-te uma coisa.
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Made in Portugal
General FictionÉ uma casa portuguesa, com certeza! É, com certeza, uma casa portuguesa! Quando famílias dos mais variados cantos de Portugal se juntam, tudo pode acontecer. Comer. Beber. Conversar. Gritar. Apreciar. Cantar. Dançar. Uma casa nunca esta demasiado c...
