~~~Madeira~~~

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19/04/2018

-Este ano, a época balnear vai abrir mais cedo. Ou, pelo menos, o teu pai tem ideias de reabrir os bares mais cedo.

Teresa caminhava ao longo da costa ao lado de Constança. Precisavam de conversar, ainda que nunca tivessem deixado de falar por chamadas. Pedro brincava com o facto de as duas serem tão unidas como irmãs e elas aderiram à brincadeira, concordando.

Teresa trabalhava para o pai de Constança, num dos vários bares que o mesmo mantinha à beira mar. Pedro sempre fora encantado pelo mar, não vivesse ele numa das serras de Portugal até os quinze anos. No dia em que conheceu o famoso Algarve ficou encantado e jurou ali enraizar-se. Contudo, o amor pela mulher nortenha, perspicaz e pequena, fê-lo viajar até o Norte e ali ficar. Não se arrependia, no entanto. Afinal, dez anos mais tarde sempre conseguira estabelecer-se no Sul e, dessa vez, levava consigo mulher e filha, numa aventura pela fronteira com o Mediterrâneo.

-Adoras o teu trabalho, Teresa. - Constança replicou, sorrindo.

A moça encolheu os ombros. Depois, com o sorriso endiabrado que tinha desde criança, segurou o braço de Constança e sussurrou: - Hás de pedir-lhe que me dê um aumento no salário, Mimi...

Ela abanou a cabeça, entretida com as brincadeiras da amiga. Descalçou os sapatos e deixou que a água espumante lhe molhasse os pés. Teresa afastou-se um pouco, sentando-se na areia seca e encarando o céu enevoado da manhã. Começavam a ansiar o Verão, mas apreciavam a calmaria e o tempo fresco que afastava alguns turistas da zona.

-Sabias que o Ricardo e a Rita vão casar?

Constança virou-se para Teresa, caminhando até ela ao sentir os pés ficarem dormentes com o frio da água. Sentou-se ao seu lado e abraçou os joelhos. - A Avó Maria comentou qualquer coisa sobre isso, mas pensei que o casamento só se desse no próximo ano.

Teresa abanou a cabeça. - Já começaram a entregar convites. O casamento é em julho. Eu sempre soube que aqueles dois se dariam às mil-maravilhas, mas nunca me deram ouvidos.

Constança sorriu. - Sabes o que se diz: agua mole em pedra dura tanto bate até que fura.

Teresa riu. - Se fura! - A moça dos olhos escuros e o cabelo castanho claro encarava o horizonte meio acinzentado. O tom da sua pele dava-lhe o ar de quem passava os dias a apanhar banhos de Sol, o que lhe dava uma certa beleza tropical. Em constante brincadeira com quem a rodeava, Teresa, por vezes, falava sem pensar e nunca ninguém conseguia prever o que se seguiria. Madeirense de nascimento, sonhava com o dia em que voltaria para a sua ilha. Enquanto isso, vivia ali, trabalhava no bar de Pedro, e estimava a amizade de Constança.

-E como estão os teus pais?

Teresa encolheu os ombros e adotou um sorriso nostálgico. Estavam bem, dentro dos possíveis. Trabalhavam no jardim botânico da Madeira e adoravam estar rodeados de todas as variadas espécies de plantas. Fora ali que se conheceram e onde casaram. Só podiam amar ali trabalhar. Constança assentiu, sorrindo ao sentir a cabeça da amiga no seu ombro. O suspiro que se seguiu embalou-as e as ondas rebentaram aos seus pés.

-No outro dia, tive um encontro com um rapaz. Ele era tão giro!

Constança riu.

-E os amigos também não são nada maus... tenho de apresentar-tos.

Abanando a cabeça, Constança levantou-se, limpando os vestígios de areia das calças. Ajudou Teresa a fazer o mesmo e recomeçou a caminhada pela praia. Não estava vento, o que tornava o dia mais tolerável. Com a hora do almoço a aproximar-se teriam de encontrar um restaurante para comer e já tinham em mente qual seria. Sentindo o mar molhar-lhe novamente os pes, Constança respirou fundo.

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