Constança franziu ligeiramente o nariz. - É um filme de adultos, Santi. Não ias gostar nada.
O menino abriu o sorriso e, olhando de soslaio para a avó, falou. - Queres ir ver comigo?
Constança endireitou-se, vendo que Teresa estava quase a ser atendida. Olhou para Lurdes, sabendo que, naquela cabeça, mexericos iam sendo formulados à medida que a conversa se prolongava.
- O filme dos animais selvagens? - Constança perguntou, reconhecendo que era incapaz de dizer que não aquela criança. Viu-o acenar com a cabeça, irrequieto, e respirou fundo. - Claro que sim!
Santiago bateu palmas, eufórico de tanto contentamento. Constança viu Lurdes recuar um passo e sorrir ao grupo de amigos que se tinha aproximado de Constança.
- Nesse caso, Maria Constança, importas-te de tomar conta dele? Preciso de ir adiantando as compras e...
A moça assentiu rapidamente, levemente aliviada por não ter de ficar mais tempo com Lurdes.
- Posso ir para tua casa, no fim? - Santiago perguntou e Constança reparou que ele se colocara ao seu lado e segurava a sua mão.
Dando um breve olhar a Afonso, vendo qual seria a sua reação, Constança encolheu os ombros e sorriu. - Nós não vamos logo para casa... - Interrompeu-se assim que viu o desapontamento bailar no rosto da criança e não foi capaz de ver o menino sofrer mais do que tinha sofrido desde o nascimento. Virou-se para Lurdes e sorriu. - Estávamos a pensar ir dar um passeio na praia. Eu posso ficar com o Santiago e levo-o a casa depois do jantar. Que me diz, Lurdes?
A velha sorriu, abrindo a carteira. O neto insistiu para que ela aceitasse e Constança aguardou por uma resposta. Viu a mulher tirar uma nota da carteira e oferecê-la a Constança, para pagar o bilhete de cinema, mas a jovem recusou, afirmando tratar de tudo. A mulher despediu-se do neto e pediu-lhe que fizesse tudo o que a sua nova companhia dissesse e nunca! nunca, saísse de perto deles. Santiago praticamente empurrou a avó do cinema.
Afonso viu Constança virar-se para ele e dar-lhe um sorriso provocador. Fazia tempo que não via aquele sorriso que fazia o rosto dela mais leve e matreiro. Contendo-se de ir até ela e remexer o seu cabelo, esperou que se aproximasse dele, levando Santiago pela mão. Afonso baixou-se para cumprimentar o rapaz com as brincadeiras que partilhava com ele, adiando ao máximo olhar para Constança. Quando o fez, a atenção dela já não recaía nele. Falava para Teresa, pedindo-lhe que não comprasse nenhum bilhete para ela, explicando resumidamente a situação à amiga, que perdera toda a conversa. Depois, deixando o menino com Afonso, colocou-se na fila para comprar os bilhetes dos dois. Afonso virou-se para ela, pondo a mão nos ombros pequenos de Santiago, garantindo que não o perdia.
- Agora já não ficas ao meu lado, Afonso. - Ela disse, abrindo a mão para que Santiago a agarrasse. - Vou com o meu amigo ver um filme muito mais divertido.
Ele riu, cruzando os braços. - É um filme para maiores de quatro anos...
Ela semicerrou os olhos. - São os melhores.
Negou a companhia de Teresa e, com o balde de pipocas numa mão e o menino na outra, virou as costas ao grupo, combinando encontrar-se com eles num café na praia.
- Podemos comer um gelado?
Constança encarou a crianca e sorriu-lhe, segredando-lhe qualquer coisa ao ouvido.
- Não te vais arrepender? - Mário inquiriu, claramente divertido.
Ela encolheu os ombros e esforçou-se para não sorrir. - Claro que não! Vejo esse filme na internet. - falou. - Sozinha. - Acrescentou, esboçando novamente aquele sorriso que Afonso sabia ser dirigido a ele.
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Made in Portugal
General FictionÉ uma casa portuguesa, com certeza! É, com certeza, uma casa portuguesa! Quando famílias dos mais variados cantos de Portugal se juntam, tudo pode acontecer. Comer. Beber. Conversar. Gritar. Apreciar. Cantar. Dançar. Uma casa nunca esta demasiado c...
~~~Madeira~~~
Começar do início
