Mas foi quando o dono do café ligou a televisão para poder ver o jogo de futebol entre os clubes rivais, que as mulheres do grupo se revoltaram. Os homens riram-se e concentraram-se na partida de futebol, ignorando os comentários delas, que se juntaram noutra mesa.
-Constança... - Teresa chamou, sussurrando.
A moça ergueu a sobrancelha, surpresa com a súbita expressão no rosto da amiga. – O que foi?
Teresa engoliu em seco e baixou o olhar. – Manuel.
Constança arregalou os olhos, virando o seu corpo na cadeira, observando o rapaz alto aproximar-se com um sorriso aberto.
-Como estão, malta? – Saudou. – Já começou o Benfica-Porto?
Os homens responderam-lhe rapidamente, falando alguns "olá" curtos, dizendo-lhe que se sentasse. Constança ficou a vê-lo cumprimentá-los com um aperto de mão e sentar-se numa das cadeiras, concentrando-se também no jogo. Tentou distrair-se com a conversa de Rita, mas não conseguia deixar de pensar que ele estava ali, mesmo ao seu lado, agindo como se nada tivesse acontecido. Constança fechou as mãos, sentindo as unhas pressionarem as suas palmas, culpando-se por pensar tanto sobre as coisas e ser incapaz de controlar as suas emoções. Apesar de tudo, ele continuava amigo dos restantes e tudo o que ela podia fazer era permitir-se a conviver com ele em paz. Mas não conseguia. Era incapaz. Sentia o rosto quente e a pressão das suas unhas aumentar. Os seus pés batiam contra o chão e ela não conseguia ouvir uma palavra do que Rita e Teresa conversavam. A ultima aproximou a sua cadeira, captando a atenção de Mário, que virou a cabeça para ela por um segundo, voltando a concentrar-se no ecrã. Teresa pegou na mão de Constança, e abriu-a, massajando a palma dormente.
-Os teus avós tencionam vir alguma semana para o Sul? – Questionou, tentando fazer a amiga sair da sua bolha de desespero.
-Golo!
O grito fez Constança estremecer. Encarou Teresa, confusa, obrigando a jovem a repetir a pergunta.
-Tenho tantas saudades da avó São. E o avô Alberto! Aqueles dois...
Constança acenou com a cabeça rapidamente, empurrando a sua cadeira para trás, fazendo menção de se levantar. Teresa segurou-lhe o braço, impedindo-lhe o movimento. "Tem calma", os seus lábios murmuraram.
-Grande partida! – A voz de Manuel nunca tinha sido irritante para Constança. Nunca, até aquele momento. Sentia picadas nos seus braços e uma vontade imensa de usar as unhas para aliviar o desconforto. Era incapaz de manter-se calma e lá estava ela a pensar demasiado novamente. Aquela frase anunciara os quinzes minutos de intervalo que se seguiriam e ela já previa as conversas que viriam. Não conseguia. Estava a tentar.
-Tudo bem por aí, meninas? – Manuel perguntou, virando a cabeça para as encarar. – Nem vos cumprimentei quando cheguei...
-Nós entendemos. Os homens e o seu vicio... - Rita respondeu, sorrindo. – Como vais?
Ele sorriu e levantou-se. Teresa segurou novamente a mão de Constança e forçou-se a ser simpática com o homem que se aproximava.
-Bem. Estou bem. – Ele respondeu, parando ao lado da cadeira de Constança. – Como estás, Maria Constança?
Ela fechou os olhos e ergueu o rosto, detestando que usassem o seu nome daquela forma. – Muito bem, obrigada.
Ele baixou-se um pouco, obrigando-a a recuar na cadeira, sentindo-se derreter. – Estamos bem?
Aquele movimento, junto com a pergunta, captou a atenção de todos os elementos do grupo. Manuel era um rapaz excelente. Por vezes, demais. Ou, talvez, usasse o sarcasmo para se fingir simpático. Era quase sempre impossível dizer quando o fazia.
YOU ARE READING
Made in Portugal
General FictionÉ uma casa portuguesa, com certeza! É, com certeza, uma casa portuguesa! Quando famílias dos mais variados cantos de Portugal se juntam, tudo pode acontecer. Comer. Beber. Conversar. Gritar. Apreciar. Cantar. Dançar. Uma casa nunca esta demasiado c...
~~~Albufeira~~~
Start from the beginning
