Capítulo 20

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Luciana

Não acreditei em que os meus olhos viram assim que retirei a venda. Claro que estava com os nervos à flor da pele. Quando levantei naquele sábado, acordei com a cabeça a mil. Pensei em um milhão de coisas que o Daniel pudesse fazer como surpresa. Sei lá. Ele é uma porta, e não parece nada romântico. Vai que quisesse apenas me levar para um simples passeio. Quem sabe tomar um sorvete?

Mas as dúvidas ficaram maiores quando percebi que estávamos saindo da cidade. Aí realmente fiquei muito nervosa. Ansiosa. Meu corpo todo tremia, tamanha era a ansiedade.

Quando Daniel avisou que me vendaria e perguntou se eu confiava nele, eu não pestanejei. Eu confio no Daniel. E não que ele se esforce para que eu confie nele. Simplesmente confio. E não me peça para explicar, que ultimamente nada tem explicação.

Ao descer do carro e ser recomendada a não tirar a venda, não conseguia mensurar o quanto meu coração estava acelerado. Daniel pegou em minha mão, e eu percebi que já estava me acostumando com seu toque. Guiou-me, e pude perceber que ele também estava trêmulo.

Consegui ouvir um barulho forte como de chamas, fiquei muito curiosa, e se não fosse pelo Daniel estar atento e não me deixar retirar a venda, teria estragado a surpresa.

Não estava preparada para aquilo. Nunca, nem nos mais loucos sonhos, imaginei ver o que estava a minha volta. Quando me deparei com aqueles balões, todos imponentes e coloridos, a impressão que tive é que tinha saído do mundo real e caído em um lugar inimaginável.

Meus olhos alcançam os olhos do Daniel e imediatamente sou impactada pelo seu olhar. A certeza que tenho agora é que meus olhos estão maiores que de costume.

Quando entro naquele cesto, tudo se mistura dentro de mim. O coração parece que vai parar a qualquer momento.

Olhar para o Daniel, ali, ao meu lado, lindo como sempre, só aumenta meu desespero por algo que nem sei ainda.

Vejo que Daniel está apavorado e logo descubro que ele tem medo de altura. É uma porta, tão valente, mas parece um menino apavorado neste balão.

Agradeço a Daniel pela surpresa. Com dificuldade, é claro. Porque falar ou raciocinar realmente está difícil, diante de tudo isso. Cesta, flores, vinhos, chocolates e o céu magnífico.

Depois que agradeci, Daniel me disse que não era só isso. A palavra "não é só isso", fez com que eu engolisse a seco. Não é só isso? Pergunto mentalmente, e agora tenho certeza que estou com cara de tacho.

Minhas mãos estão suando frio. O que mais, além desses balões, Daniel quer me oferecer? Isso se ele quiser me oferecer algo.

Ele começa a falar algo sobre só pensar em mim. Eu estou ouvindo, mas o ar que circula em meu corpo e no meu cérebro vai se esvaindo de acordo com o que ele fala. Ouço tudo atentamente e agora não consigo me mexer. Olho para cada parte do rosto daquele homem que tem mexido com tudo dentro de mim.

Cada pedacinho de seus gestos é captado por mim. Seu meio sorriso, tentando demonstrar uma calmaria que não existe. Seus olhos, que agora parecem dilatar a cada frase dita. Suas mãos grandes e unhas pequenas, que agora tremem e vem em direção a minha franja, fazendo meu rosto esquentar com sua aproximação.

Nossos corpos agora colados parece um, e não querem se desgrudar mais. Sinto o vento soprar, e de alguma forma procuro inspirar aquele ar para que me mantenha viva.

Escuto a doce voz daquela porta me perguntando algo que no fundo e no meu mais íntimo desejei. Sei que não é grande coisas para muitos. Mas para mim é muito importante. Algo que eu dou valor e ele soube valorizar muito mais. Como ele sabe?

Seu sorriso  ( Degustação)Where stories live. Discover now