Capítulo 2 - Naruto

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Metodicamente, estacionou no mesmo lugar de sempre, mostrou sua identificação ao segurança e entrou no prédio. Gostava do ambiente. O piso de madeira produzia um som agradável com o encontro com seu sapato, as paredes claras ressaltavam a luminosidade do lugar, e as vozes dos alunos enchiam salas e corredores. O lugar parecia vivo, e isso o fazia sorrir.

Diferente dos demais que entravam no prédio e seguiam para os vestiários, Naruto seguiu para a sala A-02, conforme seu cronograma. Os alunos ainda deveriam estar em hora de almoço, por isso não estranhou o silêncio no local.

— Naruto! Que bom que já chegou.

Fez uma careta, aproveitando-se de que estava de costas para o outro. Respirou fundo e forçou um sorriso simpático ao virar-se e encontrar Orochimaru, um de seus chefes.

— Boa tarde, professor, deseja alguma coisa?

— Boa tarde — Orochimaru sorriu polido. — Sim, desejo. Gostaria de pedir que escolha hoje partituras do classicismo, tudo bem?

"Tudo bem?", Naruto ainda não sabia por que ele lhe perguntava aquilo se, mesmo que negasse, seria forçado a obedecer.

— Claro — respondeu com falso entusiasmo.

— Ótimo! Nos vemos daqui alguns minutos então.

Naruto assentiu e revirou os olhos assim que Orochimaru saiu da sala. Trabalhava como pianista há aproximadamente oito anos, desde os vinte, mas nunca tinha visto um chefe tão horrível quanto Orochimaru! Aliás, se pudesse voltar no tempo, recusaria a proposta de Tsunade, a dona da companhia de ballet, para mudar de filial. Estava muito bem na outra escola coordenada pela própria Tsunade, mas, a pedido dela, tinha ido "ajudar" Orochimaru, uma vez que ele havia tido uma séria discussão com o antigo pianista, Tobirama, quando ele se recusou a tocar ou a continuar na escola enquanto Orochimaru permanecesse. Não sabia os motivos que levaram o professor e o músico a se desentenderem, Tsunade só lhe havia dito que Tobirama havia manifestado uma queixa formal à escola após um incidente e que tinha se demitido em seguida.

Ah, se ele pusesse também abandonar aquele professor insuportável...

Abriu sua pasta, apoiou-a sobre o piano de cauda longa e retirou as partituras que usaria naquela tarde. Organizou-as de acordo com a ordem da aula de ballet, seguindo os exercícios que ele já havia decorado.

Ajustou o banco à sua altura, odiava quando alguns alunos mexiam nele. Abriu a tampa do piano, revelando as teclas, e verificou o som de algumas aproveitando para testar os pedais.

Sorriu com carinho para o piano e deixou que as mãos corressem livres pelas teclas. Havia leveza nos movimentos, como se o instrumento lhe cobrasse delicadeza para que começasse a cantar sua melodia.

Amava o som, era cheio, completo, firme, como se só ele sozinho pudesse substituir uma orquestra inteira. Não se lembrava da primeira vez que o tinha ouvido, tinha a impressão de sua vida toda possuía a doce melodia do instrumento ao fundo. Sua mãe, Kushina, tinha aprendido a tocar desde muito nova, uma imposição da família conservadora que mantinha tradições retrógradas e pensamentos intolerantes. O piano para sua mãe havia sido como costurar, cozinhar, cuidar da casa, nada além do que a família achava necessário para uma boa esposa, mas, além de tudo isso, havia sido como ela ganhara dinheiro para pagar os estudos depois de ter sido expulsa de casa por pensar diferente. Apesar de tudo, ela não odiava a música, era até bonito vê-la tocando com tanto amor, sua admiração era tão grande por ela ao assisti-la que Kushina não conseguiu se recusar a ensiná-lo. Ainda ria com nostalgia quando se lembrava da mãe chorando orgulhosa em sua primeira apresentação, seu pai tivera que impedir que ela invadisse o palco após os agradecimentos.

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