Prólogo: Era pra ser mais um dia normal

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Se eu pudesse voltar no tempo, me pergunto se poderia mudar o curso das coisas. O modo como elas caminharam, o modo como tudo definhou em um piscar de olhos. Me parece injusto que com um único sopro, um único piscar de olhos, em um único segundo, tudo tenha caído em ruínas.

Mas a vida não é programada pra ser justa.

Eu esperava Yoongi no estacionamento do prédio com o celular em mãos, escrevendo uma mensagem para a minha mãe na pretensão de avisar que só chegaria mais tarde. O mais velho trabalhava como ajudante e entregador de uma pequena pizzaria naquele complexo de lojas, e eu costumava acompanhá-lo de lá até o caminho para sua faculdade.

De manhã, ele ia lá apenas para ajudar com a limpeza; de noite, fazia as entregas. Podia não parecer o trabalho dos sonhos, mas para ele — para nós — era o suficiente.

Era pra ser apenas mais um dia normal, mas dessa vez seria diferente. Havia uma ocasião especial. Eu ia prestar vestibular para tentar entrar em alguma universidade — mas o curso eu decidiria depois, porque eram muitas opções para pouco eu. Então o esverdeado se oferecera para me acompanhar.

Antes que pensem qualquer coisa, não, não estávamos saindo. Ou estávamos — é difícil dizer. Yoongi é uma pessoa complicada, então eu nunca soube realmente como ele se sentia sobre mim ou sobre nós.

Mesmo assim, éramos muito amigos, e eu continuava seguindo-o para todos os lugares. A verdade é que eu não tinha nada de muito útil para fazer.

Jeon Jungkook, dezenove anos, filho único e amante de literatura. Esse era eu. Assim mesmo, só isso.

Eu vivia uma vida simples, talvez até cômoda, sem muitos esforços.

Nunca fui o tipo de pessoa que tenta sair da zona de conforto, procurar coisas novas ou subir muitos degraus de uma vez.

Eu gostava da rotina, da forma como tudo parecia funcionar tão bem do jeito que era. É claro que eu tinha algumas metas pessoais, mas nada fora do comum. Nada que fosse realmente interessante ou grandioso. Acreditava que a vida já tinha uma rota pré-definida: você nasce, estuda, trabalha e então morre — sem grandes eventos. Não achava que eu precisava mudar alguma coisa.

Talvez algumas pessoas vejam isso como viver uma vida medíocre; uma vida mediana. Na média. Mas eu gostava disso.

Eu não era uma pessoa de fato significante, não tinha muitas ambições. Só queria ter uma vida boa. Parece patético, mas estava bem desse jeito.

Talvez fosse por isso que eu gostava tanto do Min. Ele sonhava alto. Trabalhava arduamente todos os dias, e sabia que alcançaria o seu sonho de forma triunfante. A propósito, ele queria ser músico. Às vezes me ensinava algumas notas do piano, mas eu sempre esquecia. Acho que prestava mais atenção nele do que na música em si.

— Hey — Ouvi sua voz me cumprimentar de forma repentina e bloqueei o celular, guardando-o no bolso da calça. Ele estava com ambas as mãos nos bolsos da calça jeans, e usava uma camiseta preta. Eu tinha uma mochila de uma só alça ao redor do corpo e um casaco preto amarrado à cintura. Ele abriu o sorriso gengival do qual eu tanto gostava, e eu retribui. — Nervoso para a prova?

Dei de ombros.

— Um pouco — Soltou uma risada nasal.

— Não acredito que você 'tá com essa blusa branca de novo. Por acaso você tem algum fetiche por branco?

— Não é a mesma, hyung. E é para dar sorte. Um amuleto — Sorri largo enquanto explicava, natural como um xamã dando instruções sobre o uso correto de ervas medicinais.

Lírios BrancosDonde viven las historias. Descúbrelo ahora