Capítulo 1 - Irmãs Caçula

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A N N A
D E   A R E N D E L L E

Um pequeno spoiler sobre o meu pós-morte: envolve um sequestro, gente esquisita e uma fuga em alta velocidade enquanto se é perseguido pela polícia.

Ei, eu sei que não faz o menor sentido. Mas não tive muito tempo para assimilar a situação. Numa tarde fatídica, caio em cima de uma mesa na calçada de um fast food em Nova Iorque, fazendo refrigerante, catchup e batata frita voarem pelos ares. Antes que tenha a chance de chiar de dor e perceber que estou passando vergonha, um casal de adolescentes exclama ao mesmo tempo:

- Anna!

- Ei, vocês dois aí! - O policial do outro lado da rua fecha a porta após sair da viatura. - Venham aqui!

O menino de traços asiáticos arregala os olhos.  

- Sujou.

- Levanta, levanta - a menina de rabo-de-cavalo me ergue pelo braço, apressada, me arrastando com ela.

Saio mancando. Meu traseiro dói. E na minha cabeça tem apenas batata frita, mas nenhuma lembrança do que eu estou fazendo aqui ou de quem eu sou.

- Entra logo! - O garoto, que tem os dentes da frente separados, me empurra para a parte de trás de um carro esportivo, ao tempo em que a menina com presílhas coloridas no cabelo dá a volta para ocupar o lugar do motorista.

Do banco traseiro, olho para trás. O policial gorducho havia chamado o colega dele e agora as sirenes da viatura estão ligadas. 

- Pisa fundo, Vanellope!

A menina faz como ele manda e o carro dá uma arrancada brusca, cantando pneus. Erro o cinto de segurança uma vez, antes de finalmente puxá-lo e passá-lo na frente do meu corpo. Meu coração está batendo disparado e todos os meus instintos de sobrevivência estão ligados a mil por hora.

Pisco firme os olhos e flashs de imagens me bombardeiam por trás das pálpebras fechadas. Sangue vermelho jorrando fresco na neve branca. Íris azul-safira no olhar molhado no rosto desesperado de Elsa. Elsa.

- Elsa!

- Ah! - o garoto pula de espanto no banco da frente quando exclamo de vez.

- Elsa, ela é minha irmã mais velha! - Tagarelo sem parar. - Ela é assim, desse tamanho, e tem um cabelo loiro platinado que todo mundo pensa que é tingido, só que é de verdade e... Espera, o quê? Por que vocês estão me sequestrando?!

- Não estamos te sequestrando, Anna - o menino me diz, do banco do carona. - Você não deve se lembrar da gente, mas eu sou o Hiro e essa é a Vanellope. Nós estávamos com você no Texas também, quando... Bem, somos amigos da sua irmã, estamos te levando até ela agora.

Mordisco a unha do polegar, nervosa. Quero confiar no que ele está falando, mas e se eu só estiver me metendo em encrenca? Mal consigo respirar.

- Isso não explica porque tem uma viatura nos seguindo. - Observo por cima do barulho da perseguição nas ruas de Nova Iorque. 

- É que a polícia não entende que "pegar emprestado sem pedir" é diferente de "roubar". - Vanellope responde, me olhando pelo espelho retrovisor.

Hiro sacode a cabeça em concordância.

- É, por isso que somos fugitivos procurados desde o inverno passado. Mas isso não quer dizer que a gente é do mal. Semideuses estão fazendo qualquer tipo de loucura para sobreviver.

"Semideuses", o termo martela minha mente, literalmente dói.

Abro a boca, só que a voz de um dos policiais me interrompe.

Equinócio de AnnaOnde histórias criam vida. Descubra agora