Capítulo Sessenta e Cinco - Ao mesmo tempo

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Aviso: Leiam as notas finais, por favor!

Capítulo Sessenta e Cinco - Ao mesmo tempo

Alice K. Hildebrand

Merda.

Parece que eu fui atropelada por um trator. Várias, várias e várias vezes.

A sensação de solidão é gritante e parece que não conseguirei sair dela jamais.

Eu já esperava me sentir mal depois de desabafar tudo o que me atormenta, afinal, há anos eu ensaio como falar com os meus pais sobre tudo o que aconteceu, porém eu não esperava que eu fosse me sentir destruída.

Em todas estas vezes que eu fantasiei, eu acreditei que ficaria aliviada, mas logo depois eu ficaria mal por toda a situação infeliz; eu me sentiria egoísta, também, por deixar me levar pelos meus sentimentos conturbados; no entanto, logo depois, com o conforto e o apoio dos meus pais, eu passaria a me sentir aliviada e feliz por eles me entenderem e por nós resolvermos toda e qualquer desavença entre nós.

Mas, conforme já dizia algum gênio mundano e desconhecido por mim: "nem tudo são flores". Ou talvez a lei de Murphy tenha decidido me fazer sua mais nova vítima. Ou quem sabe ainda o simples fato de criar expectativas tenha me derrubado de cara no chão enlameado.

A realidade é que eu não me senti de todo aliviada pelo desabafo tardio. E eu não obtive apoio algum neste momento. Meus pais não entenderam o meu lado, e acredito que até eu mesma tenha minimizado o lado deles na hora da emoção. Eu, de fato, me senti e ainda me sinto egoísta por ter me deixado levar e por ter deixado a mágoa falar mais alto, mas também não me culpo inteiramente e não sou nobre o bastante para reconhecer os meus erros e ir atrás do perdão, aliás, quando eu tentei agir com o mínimo de humildade, fui recebida com bolas de neve e pedras na mão.

E agora eu estou sozinha, desamparada e decepcionada.

Há alguns dias eu me isolo no meu mundo particular. A minha única fuga, como sempre acontece, é o meu trabalho. Este também é a única coisa que me mantém sã.

Adam, ainda longe, não teria como me ajudar, e nem é da minha vontade que ele saiba de alguma coisa, ainda, pois isto só o deixaria chateado no momento em que ele deveria se divertir.

Aaron já possui tantos problemas que seria maldade da minha parte sequer pensar em perturbá-lo com as minhas histórias comuns.

Julie, apesar de ser uma boa amiga, não consegue entender o que se passava entre os meus pais e eu. Ela sempre tentou entender, mas nunca conseguiu.

Anthony, por sua vez, foi o único a quem eu cogitei pedir ajuda. Com ele eu sempre pude contar, nem que fosse para conversar. Nós temos essa cumplicidade que torna qualquer assunto leve e discutível.

Mas eu não tive coragem.

Apesar de abatida e chateada, a simples lembrança do ocorrido alguns dias atrás conseguia me enfurecer. Portanto, a minha melhor alternativa foi o silêncio, e eu até cheguei a pensar que eu estava lidando bem com tudo, até precisar enfrentar a desconfiança dos rapazes, que, não obstante convencidos sobre a minha normalidade, recorreram ao Adam para extrair algo de mim.

O Garoto se preocupou, obviamente, e, por telefone, tentou descobrir de todas as formas o que acontecia, e, não fosse pela boa intenção dos meus amigos, eu teria chutado cada um deles no lugar onde mais dói em um homem.

Efeito AliceWhere stories live. Discover now