Capítulo Cinquenta e Três - Explosões

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Capítulo Cinquenta e Três — Explosões

Alice K. Hildebrand

O famoso cochilo de depois do almoço é algo comum para a família Beaumont.

Todos, com a exceção de Adam e a sua mãe, estão, agora, em um sono pesado.

Os mais velhos correram para os quartos para aproveitar o bem vindo momento de tranquilidade, enquanto as crianças capotaram ali mesmo, na sala. Marion dormiu em pé, com a cabeça repousada em uma almofada no braço da poltrona; um dos gêmeos dormiu retorcido no chão, e o outro sentado na poltrona. Crianças sendo crianças, talvez?

A cena é uma mistura de cômica com adorável. É familiar e transmite paz, conforto... Mesmo que eles não estejam em posições nada confortáveis.

— Deixe-os no sofá. — Jacqueline sussurra ao Adam.

Ele tem um coração mole demais – no melhor dos sentidos – e, mesmo achando graça nos irmãos, ficou com dó das crianças e quis deixá-las confortáveis.

O primeiro a ser socorrido foi o gêmeo largado no chão. Sua posição nada agradável poderia lhe causar grandes dores pelo corpo ao acordar. Marion foi a segunda, e o Adam não a soltou. Ele se sentou no sofá e ficou com a menininha adormecida no colo. Irmão coruja.

— A poltrona é melhor do que o sofá. Deixe-o aí. — Adam murmura para a sua mãe, que anui e se retira.

Ela volta em instantes com cobertas para as crianças.

— Está frio, não está, querido? — Ela diz ao cobrir tanto o Adam quanto a Marion com o cobertor.

— Muito! Eu vou acabar dormindo também. — Ele ri baixinho e sua mãe o encoraja, entretanto as ideias dele são bem diferentes e ele batalha para se manter acordado.

— Fique à vontade caso queira repousar também, Alice. — Sua voz é semelhante à que eu uso quando falo com algum funcionário negligente.

Não sei até quando irá durar, mas, por enquanto, Jacqueline Beaumont me faz arrepiar. A mulher é sinistra quando se refere a mim. E não digo isto num bom sentido.

— Eu estou bem, obrigada.

Eu me encolho no meu lugar e passo as mãos nos meus braços por cima da jaqueta de couro em uma tentativa de aliviar a tensão crescente no meu corpo, mas o resultado parece não existir, além de o gesto ser mal compreendido tanto pela minha sogra quanto pelo meu namorado.

— Está com frio? Podemos arranjar cobertas para você também. — Adam se solidariza e, muito a contragosto, sua mãe concorda com a cabeça.

Eu me apresso a negar.

— Não, eu estou bem, de verdade. Obrigada. Eu só estava pensando... — Deixo a frase no ar em uma dica de que não quero me aprofundar no assunto.

Jacqueline e Adam, no entanto, são da mesma família, ou seja, ambos são péssimos para entender as entrelinhas.

— Em quê? — Ele questiona. E ela emenda:

— Há algo que queira ou que possamos fazer?

Derrotada, eu suspiro. Pelo menos parte da minha tormenta eu posso e devo dizer. Não é algo que eu possa ou queira guardar somente para mim, eu iria dizê-la de qualquer forma. E finalmente estamos nós três sozinhos, eu preciso aproveitar esta primeira, e talvez única, oportunidade para falar sobre o Henri Le Roux. Mas também têm as crianças... E se elas acordarem ou ouvirem?

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