Capítulo Sessenta e Dois - Devaneios Natalinos

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Capítulo Sessenta e Dois — Devaneios Natalinos

Adam Beaumont


Algo está errado.

Algo está muito estranho e eu não consigo identificar o que possa ser.

Tudo o que eu sei é que há algo de diferente e pesado que atormenta a minha Alice. Ela mudou drasticamente em menos de uma hora.

A conversa com os nossos amigos lhe fez muito bem, ela ficou mais tranquila por ver por si própria que o Aaron não está tão mal como chegou a ficar e que não havia problemas sérios com eles (ou com a empresa, já que, segundo as palavras dela, eles teriam demonstrado ou dito logo se fosse o caso).

Pode até mesmo ser invenção da minha mente limitada, mas senti que Alice se abalou quando os rapazes mencionaram os pais dela. É natural ela se preocupar com eles, principalmente tendo em vista os frequentes problemas deles e com eles; eu ainda a encorajei a ligar para eles mais cedo, para que a sua preocupação fosse minimizada. Ela o fez; pediu licença e se escondeu na nossa garagem para realizar a ligação. A sua demora me preocupou, embora eu só tenha me dado conta do tempo decorrido depois de perceber que o seu sumiço já demorava mais de quarenta minutos. Eu tentei me concentrar nas minhas tarefas e dizer a mim mesmo que ela logo estaria de volta e bem. E ela de fato voltou, mas longe de estar bem. Ela parecia agir de modo automático, sem falar muito. Nem nos meus olhos ela olhava.

Eu percebia o ar pesado ao redor dela, mas não conseguia fazê-la se abrir. Eu julguei ser por causa da proximidade dos meus irmãos, e isto me obrigou a manter a paciência.

Quando finalmente terminamos os nossos afazeres no meio da tarde, nós teríamos algumas breves horas de descanso. Cada um foi para um canto e, mesmo sozinhos, eu não consegui tirar nada de Alice. Ela sorria para mim (um sorriso que não alcançava os seus olhos), desconversava, e desviava o olhar.

E a minha certeza de ter algo de errado com ela aumenta a cada minuto.

Eu me sinto de mãos atadas, pois mesmo com esta certeza, eu não consigo pensar em nada que eu possa fazer para ajudá-la ou para resolver o problema que ela de certo tem.

— Ei, eu vou ao hotel para tomar um banho e me arrumar. Mais tarde eu volto, tudo bem? — A voz suave e distante da Alice me tira dos meus pensamentos.

Olho para ela, acomodada ao meu lado no sofá. Mesmo muito próximos, eu sinto como se estivéssemos a metros de distância.

Eu não me lembro de nada, mas ainda assim eu cogito a hipótese de eu ter feito algo para causar-lhe este sentimento pesado, esta retração toda. Ela não teve nenhum desentendimento com nenhum dos meus irmãos, e, mesmo já tendo se desentendido com a mamãe, elas estão bem, agora, portanto nada mais traz luz à minha mente. Talvez eu tenha dito ou feito algo que a magoou, sem que eu tivesse intenção ou percebido...

— Adam! — Seu chamado é suave, diferente das outras vezes em que soa divertida quando me nota distraído. — Você me ouviu?

Eu consigo apenas concordar com a cabeça e me levantar.

Eu olho para os lados e encontro Fleur e Vincent conversando sobre um programa que passa na TV.

— Claro. Eu vou com você. — Eu digo. — Só espere um minuto.

Ela tenta negar, dizer que não há a necessidade, mas eu faço questão. Esta será a chance de ela se abrir comigo. Não deixarei que ela continue desta forma sem me contar o que a aflige.

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