Capítulo Quarenta e Seis - Pais e Filhos

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Capítulo Quarenta e Seis - Pais e Filhos


Alice K. Hildebrand

- Dance comigo, minha vida. - Papai chama a minha mãe, sua mão já estendida para ela.

O mais engraçado e adorável disto é que eles sequer parecem se lembrar de que Adam e eu estamos em suas companhias.

Um sorriso brilhante se apossa do rosto da minha mãe, e ela sequer hesita antes de aceitar a mão de papai e se levantar com leveza, sendo guiada por ele até o pequeno espaço na frente de um palco pequeno onde um grupo de jazz toca as músicas suaves e agradáveis.

Meus pais dançam abraçados junto a mais dois casais de idade mais avançada. Ali, cada casal está preso no próprio mundo.

Papai diz algo com um sorriso carinhoso nos lábios e mamãe ri livremente. Ela balança a cabeça em concordância ao que ele disse e agora é a vez de papai rir.

Assisto fascinada aos dois. Mamãe, com o vestido azul marinho elegante e uma sapatilha combinando (minha mãe nunca usa salto alto porque simplesmente odeia ficar mais alta que papai, o que é inevitável com qualquer salto, já que ambos possuem o mesmo tamanho. Ela diz que precisa ficar na altura dos olhos dele e olhá-lo de igual para igual, pois adora os seus olhos castanhos), exala elegância, e papai, com a sua amada calça caqui e camisa branca, aparenta ser tão mais jovem... Eles enfim se parecem com o casal feliz e apaixonado que foram há alguns anos, e que até poucas semanas atrás eu não imaginava ver novamente.

Céus! Eu sequer me lembro da última vez em que o meu pai chamou a minha mãe de "minha vida", e isto aconteceu várias vezes durante o nosso almoço.

O almoço em família... foi mais simples, divertido e familiar do que todos nós esperávamos.

Conversas emotivas foram ignoradas por todos em um acordo mudo e agimos o tempo todo como se fôssemos uma família feliz e unida. E de fato passaremos a sê-lo, de agora em diante.

Ver o brilho de felicidade nos olhares dos meus pais me trouxe tanto alívio e paz, principalmente sabendo o que se passa agora entre eles.

O Adam está tão tranquilo, feliz e, a cada encontro, mais entrosado com os meus pais... Tudo faz com que eu me sinta bem. Tão bem como não me sentia há anos!

No começo eu estranhei esta vontade dos meus pais em quererem reaproximar de mim, saber e participar da minha vida e passar mais tempo comigo, mas agora, depois de passar esta tarde com eles, eu confesso que anseio por mais momentos como estes que vivi na última semana. Foram tantos anos perto fisicamente, mas distante emocionalmente, que só agora eu percebo a falta que senti do carinho, do apoio, cuidado e amor dos meus pais - da minha mãe, principalmente. Agora eu sei que a tal reaproximação é necessária e fundamental para nós três, para que possamos viver melhor.

E de fato eu estou melhor, apenas com estes novos momentos com eles. Eu estou tão feliz!

Por obras do acaso - ou não -, o dia pareceu quase ter sido feito totalmente para nós, refletindo os nossos próprios estados de espírito: dia claro, com o céu azul quase livre de nuvens; a temperatura, em contrapartida, não está tão baixa quanto estava nos dias passados do outono alemão, o que pode ser considerado uma vitória e tanto.

- Você parece estar voando com os pássaros. - Ouço uma voz que soa longe de mim, mas eu o sinto bem perto. Adam.

Viro-me para olhá-lo sentado ao meu lado e dou um leve sorriso.

Efeito AliceOnde as histórias ganham vida. Descobre agora