Capítulo Dezesseis - Sobre Prédios e Primas

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Capítulo Dezesseis — Sobre Prédios e Primas

Alice K. Hildebrand

— Olá, Elena. — Cumprimento assim que ela entra timidamente na minha sala.

— É... Oi, Lice. — Ela bufa e diz logo: — Eu realmente odeio vir aqui, mas fica ainda pior quando eu sei que é algo importante.

Seu jeito me agrada e me diverte. Apesar de ser irresponsável e imprudente quase sempre, Elena é verdadeira e não esconde o que pensa. Eu a admiro por isso... Mesmo eu tendo quase sempre que repreendê-la por suas imprudências.

— Se serve de consolo, não vai ser nada que te atrapalhe. E nem vai ser coisa ruim; não a chamaria aqui se fosse. — Sorrio. Eu sempre poupo a todos dos assuntos mais sérios; todos, com a exceção de Sebastian, que é meu principal pilar na empresa.

— Sei... — Elena franze os olhos, duvidosa. Ela realmente nunca gostou de nada relacionado à empresa. Isso sempre nos intrigou, pois a sua revolta quanto aos assuntos das empresas é enorme! Tio Jo sempre diz que a culpa disso é das vezes em que ele ficava dias viajando a trabalho, e Elena, como a criança que era, sentia falta da convivência com o pai.

Há anos, essas viagens eram frequentes. Tio Jo sempre estava em um canto novo da Alemanha e da Europa com as suas consultorias em fazendas; ele é engenheiro agrônomo. Há cerca de três anos ele sossegou. Suas consultorias, por serem a níveis internacionais e excelentes, lhe renderam sucesso e fortuna consideráveis, e hoje ele escolhe a dedo os seus trabalhos.

— Eu não teria motivos para mentir! — Me defendo, apontando para a poltrona à frente da minha mesa e depois para o sofá no canto, sugerindo para ela escolher onde preferir. Ela escolhe o sofá, onde se joga e permanece deitada.

— Não teria... Mas penso que possa ser uma espécie de vingança por eu ter beijado o seu namorado; e por, depois, ter pegado vocês dois no flagra, na sexta-feira. — Ao mesmo tempo em que ela assume uma vermelhidão no rosto, ela parece divertida. — Até que demorou bastante para vocês dois assumirem...

— Só fique quieta por enquanto, tudo bem? — Peço impaciente, sem querer falar sobre o Adam, agora. Ela acena em concordância, ainda rindo. — Tecnicamente, ele não era meu namorado quando você o beijou. — Elena abre a boca para retrucar, mas a impeço com um movimento de mão. — Isso não muda o fato de eu não ter gostado nada do que vi. Mas também não me dá o direito de ter achado ruim... — Suspiro. Elena ri baixinho.

— Você fala umas coisas, e se enrola toda. — Ela diz, e volta a rir. Eu apenas consigo olhá-la, divertida com a sua fala. — Desculpe.

— Não se desculpe. — Reviro os olhos. — Você está certa. — Começo a rir. — Foi confuso. E eu nem mesmo sei o que dizer...

— Me desculpa por tê-lo beijado... — Ela me interrompe, e fala tudo rapidamente. Sua atitude me surpreende de verdade, e agora ela está sentada no sofá. — Eu sei que vocês não tinham nada, mas isso não torna certo o que eu fiz! Fui invasiva: invadi a privacidade dele; mas pior que isso: Eu negligenciei os sentimentos de vocês dois! — Sua voz estremece, e ela encolhe os ombros. Elena suspira, e se corrige: — Dos três... Eu sabia dos sentimentos do Adam por você, e mais ainda: Eu sabia dos seus sentimentos por ele! Vi tudo um mês atrás, quando nossas famílias jantaram juntas na casa dos seus pais, e eu contei a eles sobre o Adam ter me ajudado... Seus olhos brilharam, Alice! — Ela conta, com êxtase indisfarçado no olhar.

Eu me lembro deste jantar. A última vez que eu vi meus pais antes do jantar na casa dos meus tios. Adam e eu ainda estávamos "brigados". E eu tentava não pensar nele. Não fui bem sucedida, afinal.

Efeito AliceOnde as histórias ganham vida. Descobre agora