Capítulo 26

66 6 9
                                    

              Um médico foi chamado as pressas em meio a noite escura e fria de Londres. Quando adentrou o quarto onde ela estava encontrou-a as lágrimas suplicando que a dor cede-se. Começou o velho homem de rosto rechonchudo apalpando seu quadril, o que ela respondia com mais gemidos de dor e lágrimas, e assim que levantou os lençóis para vê-la melhor notou-os impregnados de uma grande mancha escarlate de sangue que ninguém antes havia notado.

— Por favor, apenas faça a dor cessar. — Suplicou ela, e logo o médico se retirou. A porta estava o duque aflito com a mais severa culpa lhe corroendo, apertava as mãos insistentemente.

— Ela ficará bem?

— Este é um caso especial, seria bom que não a movessem até o final da gestação, pois ao que parece houve um severo descolamento de placenta, mas tudo indica que ela está segurando ainda a criança. Recomendo repouso absoluto e passarei algumas coisas para ela tomar.

— Grávida?

— Sim, foi o que disse. — E o médico deu de ombros encarando o homem a sua frente que pareceu lívido como vela. — Sente-se bem?— Não, definitivamente o duque não se sentia bem na verdade tudo parecia começar a se nublar agora logo a sua frente. 

          Quando os primeiros raios solares atingiram o piso do quarto, iluminando levemente o ambiente, Joanne adentrou o quarto a passos miúdos. O pai dormia a uma poltrona junto ao leito, e uma empregada preparava compressas que depositava na cabeça da doente que transpirava. A pele de seu rosto nunca pareceu tão pálida. As coisas ficariam melhores, pois por sorte a febre que tivera de madrugada finalmente havia cedido. Transpirar era um bom sinal de que seu corpo estava lutando naquele momento.

— Pai, é melhor ir ao seu quarto, tomar um banho e comer algo, eu assumo daqui. — Segurou a mão do homem que despertou atordoado apertando os olhos com força. Ele balançou a cabeça um pouco zonzo antes de olhar para o leito da mulher e suspirar pesadamente e se levantar abandonando o cômodo. Quando fechou a porta pequenos olhos azuis se espremeram contra a claridade matutina.

— Está tudo bem Margareth, está entre amigos. — Apertou a mão dela a menina com um sorriso doce.

— Onde est... Meu corpo, tudo dói, está latejando. Preciso ir para casa. — Movimentou-se na cama, e gemeu antes de parar o que fazia.

— Não, não pode, não pode. Pare! Precisa tomar cuidado agora pelo bebê, Margareth. O médico disse que é melhor que não faça movimentos bruscos. Terá que ter repouso absoluto de agora em diante. Mas não se preocupe eu já enviei um recado a Miss Alicia F., e ao seu irmão, imagino que logo estarão ai. — Com estas palavras ditas, Margareth levou algum tempo até processar a informação, pois só conseguia prestar atenção a dor que lhe queimava as entranhas.

— Bebê? Do que está falando? — Enrugou a testa, antes de a empregada afastar as cobertas e depositar compressas em seus quadris que agora tinham uma marca imensa escura.

— Não sabia? Eu pensei que... — Sorriu sem graça.

— Estou grávida? — Uma dezena de pensamentos correram por sua cabeça. Diego... Não pode conter um calafrio que correu por sua espinha. A pequena vingancinha dele então havia dado certo? Um bastardo de Diego Salles. Odiou aquela palavra assim que pensou nela, e tentou afasta-la de seus pensamentos pesados, mas seria assim, um filho sem nome, um filho sem pai, um filho que seria somente... Somente dela e de ninguém mais. Gemeu alto, e se contorceu arqueando as costas na cama, mas cada movimento que fazia se tornava mais e mais dolorido.

— O que está acontecendo?

— As cólicas voltaram. — Gritou levando as mãos ao ventre. Agora não importava se estava grávida pelo visto jamais conseguiria segurar o bebê. Tentou respirar fundo e aguentar as dores sem fazer grande barulho ou estardalhaço, mas lágrimas frias escorriam por seu rosto, e pensava começar a entrar em desespero de modo súbito e bastante continuo. Odiaria Diego pela eternidade pelo que ele lhe havia feito.

Laço de cetimOnde as histórias ganham vida. Descobre agora