Capítulo 2

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—  Ao que vejo cheguei tarde. Fique ai que vou guardar Roger Blackwoody. — Se referiu ao cavalo. Roger Blackwoody? Woody? — Ele moveu-se e caminhou até o cavalo passando a mão e dando leves tapinhas em seu dorso, mas ela mal poderia ver seu rosto. Pegou uma vela quando ele estava agora a sua frente e iluminou a face que detinha uma voz masculina muito grossa. Viu olhos verdes cintilarem com a chama da vela, e escuros cílios longos além de um maxilar projetado em um rosto quadrado e uma leve barba por fazer se insinuando. Tentou lembrar a quem aqueles traços lembravam.

— Marg, vai continuar parada na minha frente com esses olhos suspeitos? — Ela se moveu para o lado abrindo espaço. O homem retirou a capa negra e puxou as mangas da blusa de linho revelando uma marca tribal e uma ou outra cicatriz. Margareth não pode acreditar, que homem teria algo semelhante a aquilo? Um meliante?

— Marg. Marg, por favor, não me olhe assim. Isto eu fiz com alguns índios na minha última viagem ao Brasil. Quer, por favor, pegar a minha capa, estou cavalgando faz tempo e minhas costas doem. Que tal ir fazer minha cama, e se quiser ficar por lá não tem problema. — E deu um sorriso de lado cínico e sensual que fez seu coração disparar e rosto tornar-se escarlate.

— Prima ria, não achou que eu estivesse falando a sério, achou?

— Diego?

— Quem mais seria a esta hora? Anda tendo encontros com homens desconhecidos tarde da noite? Sempre suspeitei dessas suas temporadas de estudo em Paris. Você nunca me enganou Margareth. Mova-se docinho. — É claro que não poderia ser outro com seu jeito falastrão e folgado, porém quando mesmo ele havia se convertido em um homem?

         Caminhando pelo longo corredor que dava aos quartos levava agora consigo um misto de surpresa e curiosidade que se disseminavam em sua carne. Por que ele desaparecera por tanto tempo? Por que agora estava ali a suas costas seguindo seus passos. O trinco moveu ao toque de suas mãos. Colocou velas no quarto para que pudesse ver algo, abriu as janelas grandes permitindo que o ar levasse embora o cheiro de poeira do cômodo pouco usado. Escutava os passos pesados de Diego ainda a se mover impaciente. Quando virou ele já estava sem a camisa e podia ver claramente a sombra de um abdômen forte, e uma leve cobertura de pelos escuros. Os braços parados na frente do peito tão largo fitando com seus olhos brilhantes a sua figura.

— Faz tempo, não minha Marg? — Margareth tinha os olhos estalados. Tempo? Minha Marg? Espere? Quando mesmo ele havia deixado de ser o garoto que nem se dava conta de sua existência? Talvez a idade o houvesse mesmo mudado. — Venha aqui.

— Devo ir. — Ela se moveu para perto dele já que seu corpo agora estava justamente na porta.

— Não se aprece.

— É muito tarde. — Pulou para fora feito uma gata.

— Se tiver pesadelos pode voltar docinho. — Definitivamente não voltaria.

             Definitivamente alguém deveria avisar que algo estava errado com os Sales. Porque motivo estes corações tão abertos?

             Um estalo pesado, depois de um choque violento. Toda a serenidade da manhã se transformou em um furacão nos corredores da casa dos Woody. Uma voz grossa soava como urros despregados. Os convidados e também os moradores legítimos levantaram com um salto e correram assustados a ver o que se passava. Juan esbravejava no quarto onde Diego a pouco dormia. O filho tinha as sobrancelhas indo de encontro uma à outra e os braços grossos cruzando na frente do peitoral.

— De que forma pensa se tornar um homem se continua agindo como um moleque sem cabeça? Cansei-me dos seus rompantes juvenis Diego. Porque não pode ser como teus irmãos?

Laço de cetimWhere stories live. Discover now