Capítulo 12

64 7 2
                                    

                      O ar de Londres definitivamente era bastante peculiar com suas carruagens elegantes ou não para todo o lado. Uma vida movimentada repleta de surpresas a cada passo. Essa era a grande cidade. Alicia tinha uma casa imponente, para não dizer algo diferente, seus pais os condes de Montese haviam lhe deixado tudo já que era a única herdeira. Seus jardins eram gigantescos e bastante podados de um verde flamejante, cheio de pequenas árvores com copas arredondadas, pingos de ouro com formas de animais como pássaros e coelhos. Outros formavam um caminho que rodopiava, e parecia interminável, um verdadeiro labirinto. A um canto uma pequena estufa branca se erguia. As flores de Alicia, era assim que todos chamavam, as mais formosas plantas da Inglaterra, de todas as cores e tipos, inclusive suas queridinhas orquídeas tão bem cuidadas como se fossem seus filhos perfumados, a rainha através de seus ordenados servos sempre fazia solicitações de plantas dali. A frente de tudo aquilo uma casa na cor creme com janelas brancas charmosas e uma ou outra escultura desnuda, que definitivamente faziam parte do gosto peculiar da anfitriã. 

                    Quando tocaram os degraus e logo adentraram por imensas portas, Margareth não pode deixar de se surpreender com o formoso mordomo francês, com sua peruca branca, roupas impecavelmente engomadas, meias brancas longas, calças apertadas e ajustadas de um amarelo muito claro, a face coberta por pó de arroz, as bochechas tingidas de rosa junto aos lábios, e uma pequena pinta no canto da boca, além dos sapatos escuros completamente reluzentes. Devia ter pelo menos 40 anos, e chamava-se Mr. Bernaud.

                          Aquele lugar definitivamente tinha cheiro de rosas. Um doce lugar agradável e muito claro. Com uma mobília também branca, como quase tudo naquele lugar, pelo menos foi o que pensou de inicio. No entanto conforme os convidados iam andando e adentrando a novos cômodos, estes pareciam tão variados quanto às cores de suas flores. Um era especialmente todo em rosa, outro amarelo, um azul, outro violeta. Os quartos seguiam este mesmo critério, de modo que Margareth ficou com o quarto verde, sua cor favorita. Haviam pequenos vasinhos de minúsculas árvores com copas arredondadas parecidas com as do jardim. Cortinas brancas, e paredes verdes. Viu tantos tons daquela cor vibrante, que seus olhos brilharam. Heath e Aurora ocuparam o quarto amarelo, que mais parecia uma grande suíte, com muitas velas pequenas dentro de copinhos transparentes. Era belo e acolhedor, bastante propicio para um casal recém-casado. Não era a primeira vez que nenhum deles estivera naquela casa, mas sempre parecia como algo novo quando retornavam. Quando as portas do quarto se fecharam e os dois puderam finalmente estar sozinhos depois de muito tempo, foi como se paredes invisíveis se elevassem. Aurora parecia ter adotado definitivamente o batom vermelho carmim, e por isso utilizava penteados elaborados e vestidos menos chamativos do que antes, preferia os mais simples e parecia mais bela que nunca em sua vida. De fato estava recuperada do tempo em que esteve naquele horrível lugar. Começou a despir-se lentamente em frente ao espelho grande admirando as belas formas surgindo. Ficou apenas com o espartilho.

— Pode me ajudar? — Pediu ao marido que parecia muito distante olhando pela janela. Logo ele se adiantou a puxar as fitas com rapidez, quando o apetrecho soltou finalmente ele andou até o outro lado do cômodo para ainda olhar para o nada. Ela tinha certeza de que ele era a pessoa menos fria do mundo, ainda lembrava do toque doce em sua pele, a forma como ele a fazia sentir-se única, seus beijos ardentes. Queria obrigá-lo a ser como antes, mas nada seria como antes. Um rio jamais retorna ao seu início.

                  Aurora caminhou até ele completamente despida e beijou suas costas por cima do paletó, beijou-lhe o pescoço, e passou seus braços ao redor do corpo. Seus poderes de persuasão eram fortes.

                 Balançando os dedos em uma água cristalina, Amy via peixinhos coloridos assustados a correr dela. Seus olhos pareciam apenas mais pesados aquele dia, talvez pudesse culpar a falta de luminosidade do céu apático. Se até ele ficava sem graça alguns dias, afinal porque ela não poderia ficar também? Passou a mão ajeitando o penteado que usava, era fato que sentia falta de quando não precisava se preocupar com estes pequenos detalhes bobos, nem com aqueles vestidos tão emperiquitados e pesados, ou mesmo com aqueles saltos. Ser menina era mais fácil. Sentia saudades de casa, saudades de sua vida, saudades dos irmãos e dos pais, saudades de todo mundo que era seu mundo. De tão distraída não viu uma sombra formando-se as suas costas até que lhe tocou o ombro fazendo círculos com seu dedão na pele exposta. Ela elevou seu rosto e viu Mr. Nathan com seus imensos olhos claros e cabelos pálidos, tinha as bochechas coradas naquele momento enquanto a fitava com um doce sorriso.

— Como alguém pode querer mais a outro alguém do que a si mesmo? — Disse ele e a inundou com sentimentos desagradáveis. Sentada no chão moveu-se para olha-lo melhor.

— Como alguém pode querer mais a outro alguém e esquecer-se de si? — Murmurou ela em um sussurro de palavras muito intimas que lhe escaparam sem querer pelos lábios, os olhos castanhos vagaram para longe. O jovem Mr. Griffiths segurou-lhe o queixo.

— Às vezes penso que estou exatamente assim, mas... Não é de mim que está falando com este ar ferino não é?

— Claro que não Mr. Griffiths.

— Já lhe disse para não chamar-me Mr. Griffiths. Chame a mim Nathan.

— Prefiro manter este...

— Distanciamento?

— Não. Respeito. Olhe, não era de você que falava, apenas os pensamentos criaram assas de dentro de mim. Eu falava de outra pessoa. Mas por favor, não queira alguém a ponto de se esquecer de si mesmo, isto é... — E ela fez alguma tentativa de encontrar alguma palavra que definisse melhor seus pensamentos, no entanto não obteve qualquer sucesso. O sorriso desapareceu dos lábios do outro, e seus olhos claros pareciam de vidro.

— Amy, como tão nova pode ter tido uma desilusão? Quem se atreveria a fazer isto contigo, que dentre todas é a flor mais exotica e formosa?

— Como sabe? Como sabe que tive uma... Desilusão? Sou tão transparente assim? — Ela ergueu o rosto, e ele alcançou a mão dela que pendia ainda na água, gotinhas cristalinas caiam de seus dedos, ele os levou aos lábios beijando-os, e sorriu.

— Tanto quanto água. — Com outra mão elevou-lhe a cabeça, quase até tomba-la e lhe beijou o pescoço, exatamente onde está a laringe, até chegar ao seu queixo e logo puxou-lhe a cabeça para estar no mesmo nível que a sua, segurando com as duas mãos pálidas fazendo um grande contraste na pele bronzeada da menina. Sentiu a respiração dela contra sua pele, como um sopro angelical, e seus lábios formigaram. Sua pequena menina mais parecia imortalizada e imóvel no tempo, e era adorável como uma boneca. Beijou-lhe os lábios, pressionando-os nos dela. Foi como um choque de eletricidade por todo o seu corpo. Amy afastou-se assustada e correu para longe o deixando novamente vazio. Iria conquista-la aos poucos e em breve tinha certeza, ela seria completamente sua, e para isto se usaria de qualquer tipo de artificio, ou artimanha. Precisava ter aquele doce pássaro para si, desde que a tinha visto pela primeira vez sabia, sabia que precisava. Conforme os dias corriam sua vontade crescia, tendo-a tão perto, quando a cada dia ela ganhava mais elegância e feminilidade deixando de ser aquela criaturinha que encontrara totalmente selvagem. Comprou-lhe os vestidos, os sapatos e fitas de cabelo. Tudo unicamente para ela, e ai estava o fruto de seu árduo trabalho, e em breve ela seria mais que isto. Ela seria uma estrela cadente. Com estes pensamentos vagou para longe com um sorriso deliciado no rosto.




Laço de cetimWhere stories live. Discover now