Capítulo 16

53 6 0
                                    


                      Figuras bem talhadas em vestidos pomposos ou em belos cortes de paletó dançavam a passos contados pisando o tapete verde que se estendia, adentrando a grande casa de Alicia, alguns sorridentes, outros quase carrancudos, mas sem duvida a expressão em seus rostos era a da mais genuína surpresa. Pelo grande salão figuras muito peculiares e coloridas se contorciam, uma mulher se pendurava a um longo pano vermelho que se estendia do teto ao chão, por ele ela subia com a facilidade mais assustadora do mundo e se pendurava de ponta cabeça com apenas uma mão fazendo malabarismos assustadores e impressionantes.

                      Um homem ao chão parecia totalmente feito de borracha e podia colocar as pernas por entre a cabeça, no entanto não acabava por ai um mágico ao centro de tudo tentava atrair a atenção de todos e ofuscar aos seus companheiros. Tinha olhos escuros pintados de negro, uma barba também escura, cabelos negros e uma bela cartola, e por um momento se parecia mais a um duque por toda a vestimenta. Tirou um belo relógio de bolso dourado, e com seus olhos hipnóticos o fez desaparecer em segundos, mostrou a palma das mãos vazias sem nenhuma palavra. Quando a sala estava cheia e uma quantidade de olhos razoáveis o admirando, ele pegou muito misterioso a cartola de sua cabeça, e mexendo as mãos magicamente fez de dentro daquilo escapar uma pomba branca. Por este pequeno truque todos já pareciam bastante animados, mas aquele homem não parou por ali, o que ele tinha em mente era muito maior. Continuou a mexer as mãos e uma revoada de pombos escapou de dentro da cartola, lindos pombos brancos como a própria neve, pareciam quase falsos, mas o barulho de suas asas contra o vento as tornava mais reais que qualquer coisa ali. Elas voaram em direção ao teto em voos magistrais e depois escaparam pela janela desaparecendo na noite como se jamais houvessem existido, alguns convidados não puderam fazer algo diferente se não se encolher. A olhos admirados aquele homem foi ovacionado, e isto significava que a festa havia começado. 

                   Alguns atores dentre eles alguns do teatro dos Griffiths como Bernadete que só se importava com a atenção que receberia começaram a entoar belos poemas Shakespearianos. Assim que a dama francesa terminou recebeu uma série de paparicos de admiradores o que a fez profundamente feliz, mas naquele momento ela estava focada em algo diferente, ou melhor em Nathan, que parecia mais belo que nunca em uma vestimenta cinzenta que muito favorecia todos os tons claros que ele possuía. Vinha ele é claro apenas para cumprir a promessa a mais nova amiga, é claro que ela não permaneceria naquela situação por muito tempo, pensou ele, porque ela seria em breve a sua querida. Aproveitou o instante em que sua acompanhante atraia as atenções para si para ir atrás da anfitriã. Onde estaria ela? Perguntou a algumas pessoas, algumas caras da sociedade que lhe eram familiares, e logo viu descer magistralmente Alicia por uma longa escadaria, vestia um vestido verde água, com pedras brilhantes em boa parte da barra, como se o vestido houvesse sido mergulhado naquelas coisinhas lindas, e alguns respingos ainda restassem em algumas outras partes. Parecia radiante, mas o mais belo definitivamente eram suas joias. Tinha no pescoço uma gargantilha com o desenho de uma serpente, tinha tantas cores que seria difícil descrever, mas a maior parte das pedras eram de coloração roxa brilhante e iam por toda a extensão da peça, os olhos eram bonitas safiras, havia também uma série de anéis de outros tipos de pedras belas e únicas. Os brincos formavam um oito de pedras roxas delicadas com alguns diamantes tão brilhantes que poderiam ofuscar a toda sala, parecia até um tanto quanto exagerado tudo aquilo junto, mas nela apenas era indescritível, e fazia muito parte de sua personalidade ser extravagante ao máximo. O cabelo loiro estava quase todo solto, apenas parte preso. Sorria admirando a tudo.

                 Nathan soube que devia esperar pelo menos até o furor de sua presença diminuir, mas sem chance de desistir. Circulou pela sala bebericando alguma coisa, e tinha certeza que aquela bebida era das melhores que experimentara em toda a sua vida. Aquele pequeno luxo que aquela mulher se dava deveria estar lhe custando uma verdadeira fortuna. Todos sabiam da fortuna herdada por Alicia, à única beneficiaria do testamento dos pais, fortuna herdada quando era demasiado jovem para tocar nela. Agora ela sendo mais madura gastava com aqueles luxos e extravagâncias. Apesar disso parecia uma mulher adorável e admirável. O que ela conseguira fazer com seus negócios deveria ser espantoso, pois com certeza tinha um lucro altíssimo. Em tempos onde muitas heranças eram apenas pó e areia aquela criatura de aparência tão frágil se sobressaia de modo impressionante.

                  Viu a pequena mulher sair do meio de um grupo impressionante de pessoas e andar em sua direção, tinha um sorriso sereno nos lábios, e apesar de ter muito mais de 30 e tantos anos era de fato belíssima e delicada como uma flor. Dançou a passos rítmicos e parou a sua frente. Era tão pequena que pensou que alguém poderia amassa-la com facilidade, mas não, ninguém deveria se enganar com o que ela parecia e quem realmente era ela.

— Mr. Griffiths jamais pensei que teria a honra de sua presença.

— Não havia me convidado? Cá estou. Mas como me reconheceu se nunca fomos se quer apresentados.

— Mas é muito obvio meu caro, poderia reconhecer um Griffiths em qualquer lugar do mundo que estivesse, e além do mais me lembra muito o seu pai, e não falo apenas do tom peculiar de seus cabelos e olhos, mas sim dos traços do seu rosto. É como tê-lo de volta. — Ela encabulou ao perceber o que tinha dito e tentou concertar. — Me desculpe, não deveria dizer isto, eu sinto muito pela sua perda, seu pai era um grande homem sabe, espero que gerencie aquele teatro tão bem quanto ele o fazia.

— Não se preocupe Marquesa... Mrs. Muxfeldt. — Disse e ela fez uma careta ao escutar o Mrs. Preferia senhorita.

— Senhorita, por favor.

— Agora devo eu me desculpar com a... Senhorita. Meu pai era um homem admirável sim, sabe que reparei em um quadro em casa, um quadro pintado por um tal de Salles, o que pode me dizer sobre ele? Eu estava apenas pensando em escrever-lhe encomendando mais um para a coleção. Como é de se esperar sou apaixonado pela arte.

— Claro, claro, é Juan Salles, ele é um verdadeiro artista, sabe que foi ele que desenhou este colar. Impressionante não, que pudesse ter este desenho e tom quase... Delicado? — Riu. — Mas jamais diga isto a ele, ele se aborreceria.

— O sobrenome Salles me é muito familiar sabe. Eles são de Londres? — Perguntou com uma inocência falsa que deixou passar a Alicia embora ela tivesse exagerado conhecimento de pessoas.

— Não, não, Juan, por exemplo, é espanhol de berço por isso o sobrenome peculiar, mas os Salles moram ainda na Inglaterra. Seus filhos volta e meia estão por aqui, de modo que provavelmente seria fácil o nome soar familiar, alias estou recebendo a um aqui, Diego Salles. Conhece?

— Acredito que não.

— Não há problema vou apresentá-lo a ele, vai adorá-lo com certeza, afinal todos amam Diego, mesmo porque o percebi um pouco deslocado na festa, mas não me espanta, seu pai sempre me disse que jamais gostou de eventos sócias, na verdade me admira e muito o ver aqui. Venha. — Ela parecia muito enérgica e animada quando falava, será que ela era sempre assim? A mulher cruzou a multidão sem dar atenção mesmo aos artistas contratados por ela e localizou a quem procurava com facilidade, pois era sempre a mesma coisa, Diego sempre cercado de mulheres com alguns homens por perto invejosos a lhe olhar de modo bastante peculiar quando se aproximava demasiado de suas queridinhas. Naquele momento gargalhava com algumas figuras contanto provavelmente uma de suas aventuras. Olhou-a e estendeu a taça de vinho aos céus.

— Abençoado seja Baco e minha doce Alicia. — O tom informal era quase estranho no meio de tantas pessoas. Rostos se viraram a olhá-la. Ela o chamou com o dedo.

— Diego, este é meu amigo Mr. Griffiths, ele é dono de um teatro magistral em Londres, com certeza o conhece pelo nome.

Laço de cetimWhere stories live. Discover now