Epílogo - Olhos Vazios

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É com uma alegria enorme que eu trago para vocês o último capítulo dessa história que, sinceramente, saiu totalmente além das expectativas que eu tinha. Foi algo totalmente diferente de tudo que já escrevi e posso não ter me saído tão bem, mas foi um aprendizado muito válido. O final ia ser trágico, como já disse, mas por causa da Becky eu acabei mudando de ideia, contudo, não esperem o final fechadinho de "happily ever after" nós vamos trabalhar com outra linha aqui. Lembrando que esse é só o primeiro rascunho da história, ela só estará realmente pronta quando eu reescrever. Ainda assim, foi um prazer contá-la a vocês, espero poder contar mais histórias. Obrigada! Fiquem com a música que originou o título e boa parte do enredo também.


"Eu não sei onde estou indo

na procura por respostas

Eu não sei com quem estou lutando

Eu permaneço com olhos vazios

Você é como um fantasma dentro de mim

que está sugando a minha vida

É como se minha alma fosse ver através...

Através dos meus olhos vazios"

— Empty Eyes, Within Temptation

Aidan

Se há algo que aprendi com Li Ka Hua é que a vida pode ser vista sob diferentes perspectivas. Até um pouco antes de conhecê-la, meu mundo se resumia a ilusão de um sentimento por uma garota que me fizeram crer ser minha alma gêmea — muito provavelmente por termos o mesmo nível familiar bancário —, um ódio velado pelos meus pais ausentes que só notaram que eu era um ser humano de verdade, que poderia morrer a qualquer momento, quando fui baleado naquele dia fatídico e a sucessão de uma empresa para qual fui criado desde criança com o intuito de assumir. Quando aquela garota chinesa entrou na minha vida tudo virou de pernas para o ar, com o passar dos dias comecei a perceber o que é desejar proteger alguém com a sua própria vida se for preciso, aprendi quão efêmera é a vida, num sopro de brisa ela simplesmente desaparece; senti o medo mais horrendo e o amor mais sublime, fui do céu ao inferno em minutos, compreendi que os erros e as falhas são o que nos tornam perfeitos e que amizades verdadeiras sabem valorizar isso.

De todas as pessoas que conheci no Haimei — algumas delas desde que me entendia por gente —, Tony foi o único amigo que ficou ao meu lado. Apesar de, as vezes, ser insuportavelmente irritante, eu podia ter a certeza de que nele encontraria um amigo fiel, sincero e disposto a me ouvir a qualquer momento. Grande parte disso devo ao senhor Sojiru, de quem meu amigo era um admirador e a quem sua morte transformou absurdamente. Apesar de, por algum modo, Li Ka Hua possa ter abreviado a vida dele, compreendi que o professor escolhera aquele caminho e tinha razões que nenhum de nós jamais poderia compreender. Ele tinha com ela uma ligação que ia muito além da etnia continental, uma ligação que palavras não podem explicar e apenas quando consegui compreender essas coisas foi que passei a ver a perda de Alissa, Tatiana e Sam sob outro ângulo. Janet havia saído da casa de repouso e se mudado para Paris com o pai, Jenny continuava no Haimei para terminar o colegial. Após o ocorrido com o irmão e a morte de Li Ka Hua, Savannah foi para Londres viver com a avó. As outras pessoas que me cumprimentavam nos corredores, que colocavam cartas nos meus livros e que levavam minhas opiniões muito a sério...

Dessas sequer me lembro.

Por isso, se alguém me pedisse para definir a vida poderia, talvez, não ter uma resposta concreta, fechada e acabada para tal, acredito que ninguém o tenha. Mas poderia facilmente usar a analogia da subida de uma montanha íngreme. Quando estive no Japão, no último ano após a morte de Li Ka Hua, certa vez, na escola em que estudava, fizemos uma excursão para uma montanha, a subida foi árdua e um pouco perigosa, por vezes chegamos a crer que não conseguiríamos chegar ao topo ou mesmo nos questionamos qual a razão de estarmos ali. Até o momento em que chegamos ao topo, três dias depois, e vislumbramos a mais bela vista — arrisco dizer — do mundo. Então tudo fez sentido, tudo valeu a pena, tudo se encaixou. Contudo, ao olhar para aquela paisagem etérea não senti a mesma sensação que tinha quando acampava com meus amigos nas paradas, quando subíamos conversando sobre coisas diversas para tirar o foco do cansaço ou quando dividíamos lanches e refeições. Apesar de todas as dificuldades que enfrentamos e de ter valido a pena a vista do alto, o que realmente nos moveu foi o caminho até lá, foi esse caminho que deu à sensação de conquista um gosto diferente. Com a vida, Li Ka Hua me ensinou, acontece do mesmo modo, é o caminho que trilhamos que faz a vista final valer a pena, são nos passos difíceis e no cansaço das quedas que está a felicidade, não na vista do topo. Quando imergi no mundo dela, fui capaz de compreender isso.

Olhos Vazios ✔ [EM REVISÃO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora