3. Pistas Confusas

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Aidan

Ela não podia me ouvir. Por mais que eu tentasse acordá-la parecia inútil, a febre não parecia ceder e tive sorte de os corredores estarem desertos quando atravessei correndo o hall e segui até a enfermaria, sentia o suor descer pelas minhas costas, mas era mais pela tensão que propriamente pelo esforço. A senhorita Bright estava olhando uns papéis na mesa quando as portas duplas automáticas abriram e entrei colocando Li Ka Hua em um dos leitos. Rapidamente ela se pôs de pé e aproximou-se da cama.

— O que aconteceu? — Perguntou enquanto tomava o pulso de Li Ka Hua.

— Eu a encontrei no telhado, parece que está com muita febre... ela não apareceu na aula de história e fui incumbido de procurá-la.

— A pulsação está alta, preciso medir a temperatura, mas não desconfio que tenha muita febre. — Apontou a enfermeira. — O que ela está tentando dizer?

— É Chinês, eu acho. — Expliquei. — Não entendo uma única palavra.

A expressão da senhorita Bright ficou estranha, entre surpresa e preocupada. Ela levou a mão ao queixo depois de colocar o termômetro por dentro da blusa de Li Ka Hua e pareceu pensar por alguns segundos antes de finalmente virar-se para mim.

— Você deve voltar para a sala agora, senhor Berkshire. Eu vou assumir daqui, diga ao tutor que a aluna precisou ser levada para casa com urgência e não comente nada do que aconteceu com ninguém, fui clara?

— Sim, senhorita Bright. — Assenti seriamente. — Ela...

— Ela vai ficar bem. Não há razão para preocupar os outros alunos ou gerar mais boatos infundados, não é? Chamarei os pais dela imediatamente.

Ela se voltou para a mesa e escreveu rapidamente um atestado de dispensa que me entregou. Não fiz mais perguntas, mas ainda dei uma última olhada para Li Ka Hua, suada e inconsciente na cama da enfermaria, parecia sentir tanta dor. Não sei por que aquilo mexeu comigo daquela forma e não consegui me concentrar na aula, me desligar da visão dela, das palavras desconexas que ela dizia e que não faziam o menor sentido para mim. Ainda anotei as que consegui me lembrar, do jeito que as havia ouvido, mas quando tentei encontra-las em um tradutor online pelo celular não obtive sucesso uma vez que não conhecia a que símbolo os sons se ligavam. Desistindo de entender a guerra civil, levantei silenciosamente e peguei a ficha de permissão escrito "BANHEIRO" no quadro me encaminhando para fora da sala, precisava vê-la, tinha que ter certeza que ela estava bem.

Alcancei o corredor e movi-me rapidamente até o hall, descendo as escadas depressa para o caso de topar com alguém vindo por algum corredor. Ouvi o som de passos e vozes, escondi-me atrás de uma das pilastras a tempo de ver Li Ka Hua abraçada a um homem alto, os cabelos negros e lisos caindo sobre os olhos puxados, ele trazia no rosto um sorriso que não escondia em nada sua preocupação e agarrava-se a ela com força como se quisesse protege-la da diretora com quem falava.

— Eu a levarei para casa agora. — Disse ele. — Obrigado por ter me chamado, senhorita Thames.

— O bem estar de Li Ka Hua será sempre nossa prioridade enquanto ela estiver sob nossos cuidados, senhor Li.

Ele fez uma breve reverência com a cabeça e a diretora sorriu partindo pelo corredor oposto. Então, aquele era o pai dela, havia algumas semelhanças nos traços, imaginei como a mãe dela seria e se os olhos eram herança dela. Ele a conduziu até um sofá que ficava no hall, não notaram minha presença, de modo que Li Ka Hua pôde, enfim, chorar livremente aproveitando-se apenas da presença do pai. Ele gentilmente acariciou seu rosto enxugando as lágrimas que caíam por seu rosto.

Olhos Vazios ✔ [EM REVISÃO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora