Aidan
Ela não podia me ouvir. Por mais que eu tentasse acordá-la parecia inútil, a febre não parecia ceder e tive sorte de os corredores estarem desertos quando atravessei correndo o hall e segui até a enfermaria, sentia o suor descer pelas minhas costas, mas era mais pela tensão que propriamente pelo esforço. A senhorita Bright estava olhando uns papéis na mesa quando as portas duplas automáticas abriram e entrei colocando Li Ka Hua em um dos leitos. Rapidamente ela se pôs de pé e aproximou-se da cama.
— O que aconteceu? — Perguntou enquanto tomava o pulso de Li Ka Hua.
— Eu a encontrei no telhado, parece que está com muita febre... ela não apareceu na aula de história e fui incumbido de procurá-la.
— A pulsação está alta, preciso medir a temperatura, mas não desconfio que tenha muita febre. — Apontou a enfermeira. — O que ela está tentando dizer?
— É Chinês, eu acho. — Expliquei. — Não entendo uma única palavra.
A expressão da senhorita Bright ficou estranha, entre surpresa e preocupada. Ela levou a mão ao queixo depois de colocar o termômetro por dentro da blusa de Li Ka Hua e pareceu pensar por alguns segundos antes de finalmente virar-se para mim.
— Você deve voltar para a sala agora, senhor Berkshire. Eu vou assumir daqui, diga ao tutor que a aluna precisou ser levada para casa com urgência e não comente nada do que aconteceu com ninguém, fui clara?
— Sim, senhorita Bright. — Assenti seriamente. — Ela...
— Ela vai ficar bem. Não há razão para preocupar os outros alunos ou gerar mais boatos infundados, não é? Chamarei os pais dela imediatamente.
Ela se voltou para a mesa e escreveu rapidamente um atestado de dispensa que me entregou. Não fiz mais perguntas, mas ainda dei uma última olhada para Li Ka Hua, suada e inconsciente na cama da enfermaria, parecia sentir tanta dor. Não sei por que aquilo mexeu comigo daquela forma e não consegui me concentrar na aula, me desligar da visão dela, das palavras desconexas que ela dizia e que não faziam o menor sentido para mim. Ainda anotei as que consegui me lembrar, do jeito que as havia ouvido, mas quando tentei encontra-las em um tradutor online pelo celular não obtive sucesso uma vez que não conhecia a que símbolo os sons se ligavam. Desistindo de entender a guerra civil, levantei silenciosamente e peguei a ficha de permissão escrito "BANHEIRO" no quadro me encaminhando para fora da sala, precisava vê-la, tinha que ter certeza que ela estava bem.
Alcancei o corredor e movi-me rapidamente até o hall, descendo as escadas depressa para o caso de topar com alguém vindo por algum corredor. Ouvi o som de passos e vozes, escondi-me atrás de uma das pilastras a tempo de ver Li Ka Hua abraçada a um homem alto, os cabelos negros e lisos caindo sobre os olhos puxados, ele trazia no rosto um sorriso que não escondia em nada sua preocupação e agarrava-se a ela com força como se quisesse protege-la da diretora com quem falava.
— Eu a levarei para casa agora. — Disse ele. — Obrigado por ter me chamado, senhorita Thames.
— O bem estar de Li Ka Hua será sempre nossa prioridade enquanto ela estiver sob nossos cuidados, senhor Li.
Ele fez uma breve reverência com a cabeça e a diretora sorriu partindo pelo corredor oposto. Então, aquele era o pai dela, havia algumas semelhanças nos traços, imaginei como a mãe dela seria e se os olhos eram herança dela. Ele a conduziu até um sofá que ficava no hall, não notaram minha presença, de modo que Li Ka Hua pôde, enfim, chorar livremente aproveitando-se apenas da presença do pai. Ele gentilmente acariciou seu rosto enxugando as lágrimas que caíam por seu rosto.
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Olhos Vazios ✔ [EM REVISÃO]
Paranormal🏆ROMANCE VENCEDOR DO PRÊMIO WATTYS 2020 NA CATEGORIA FANTASIA!🏆 ATENÇÃO: GATILHO DE SUICÍDIO! Li Ka Hua esconde um segredo mortal. Filha do herdeiro de uma das mulheres mais poderosas da China, tudo que ela queria era sobreviver aos dois anos fina...