Capítulo 18: Vulnerável

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Seguir em frente sem olhar para trás.

Menos um contato na minha agenda.

Bem, acho que consigo sobreviver.

E não é que sobrevivi mesmo!? Não me importava mais tanto assim com as relações sociais quanto costumava. Na minha mente, eu só precisava manter uma coisa na homeostase — e creio que não existe necessidade de dizer o que era.

Quem precisa de shots de tequila quando se tem cerveja barata na geladeira? Ok. Também revirei os olhos, mas era ainda a minha realidade da época. Tirando o fracasso evidente da vida social, até que acadêmica e profissionalmente eu estava indo bem, e não conseguia esperar a hora para agradece-la da forma mais excitante que podia.

Numa sexta-feira à noite, cheguei do estágio ensopado pela chuva violenta e repentina que começara a cair ainda de tarde. Tremendo de frio, guardei a bicicleta e subi pelas escadas a fim de me aquecer. Livrei-me rapidamente das roupas para não ficar doente e peguei o primeiro pedaço de pano seco que vira jogado no sofá para poder me enxugar, foi quando recebi uma ligação.

— Se você não quer que eu vá embora e diga a ela que estava ocupado, é melhor descer em dois minutos — confuso desgrudei o celular da orelha e verifiquei o número.

— Christopher!? — Semicerrei o olhar.

— Não, é o Lúcifer — revirei os olhos. — Agora você tem um minuto e meio — e, obviamente, desligou na minha cara.

É evidente que se eu soubesse já estaria pronto, mas não seria a Eloise se fosse previsível demais. Nem ao menos tive tempo para tomar um banho descente, lavei só o necessário e mergulhei em perfume.

— Carteira. Celular. Ok — murmurei verificando os bolsos do moletom azul cobalto que vestira às pressas, tranquei a porta e desci correndo. — Um pouco de paciência não iria te matar — reclamei arquejante batendo a porta do carro.

— Tem sorte de eu ainda estar aqui — Christopher ligou o motor arrancando dali, e os para-brisas também. 

— Vai estar de bom humor algum dia? — Provoquei.

— Sim, — fixou o olhar malévolo na estrada — mas para que isso aconteça eu tenho que assumir sérios riscos de ir para a cadeia.

— Eu pagaria pra ver — esbocei um sorriso torto.

— Pode até pagar, mas se eu for parar na cadeira garanto que você não estará aqui pra ver isso — arregalei os olhos disfarçadamente.

Não tenho certeza se era realmente uma ameaça, mas decidi não o perturbar mais — a estrada deserta e a noite chuvosa pareciam ser o cenário perfeito para um crime com cara de acidente.

A tempestade não cessou por um minuto sequer, na outra cidade estava ainda mais frio do que em Palo Alto. Christopher guardou o carro na garagem, pelo menos assim eu não ficaria ensopado mais uma vez.

— Ela está na sala, — socou a porta de acesso ao interior da mansão — esperando por você — e revirou os olhos sumindo pelo corredor estreito.

Por um instante fiquei perdido, apenas algumas arandelas iluminavam o caminho e as obras de arte penduradas nas paredes. Percebi que todo o interior estava mal iluminado, imaginei que a chuva havia danificado algo no sistema elétrico da casa. Se não fosse o calor e a luz peculiar vinda da lareira acesa, não teria encontrado a sala de estar. Os móveis eram belíssimos e modernos, mas não tanto quanto a bela e poderosa mulher que estava sentada no encontro entre dois sofás enormes com revestimento branco de sarja, envolta completamente por um cobertor fino, bordô e reluzente.

A sociedade BeaumontOnde as histórias ganham vida. Descobre agora