Capítulo 1 : Ligeiramente nostálgico

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Meus avós sempre me ensinaram a não reclamar da vida por mais dura que fosse, mas de uns tempos para cá tudo começou a desmoronar em cima da minha cabeça.

Meu nome é Adam Kholer, estava prestes a completar 23 anos quando tudo aconteceu. Eu era aluno da Universidade Stanford em Palo Alto na Califórnia, mas naquela época acreditei que não chegaria a me formar, pois foi anunciado através de cartas o corte de gastos feito pela reitoria da universidade, começando é claro pelo dispensável, os bolsistas.

Cresci numa cidade pequena na Carolina do Norte, negligenciado por meu pai de quem eu nunca ouvi falar e a minha mãe, que pelo pouco que recordo era viciada em drogas. Em compensação, meus avós maternos me deram muito amor e carinho, me ensinaram a ser uma pessoa boa e honesta, mantendo a integridade acima de tudo. Éramos uma família muito humilde, meu avô, Alan Kholer, um artesão habilidoso capaz de fazer qualquer objeto esplendidamente detalhado em madeira. Maryann Kholer, minha avó, uma mulher doce, meiga e gentil, dedicava todo seu tempo a mim e as tarefas domésticas, ajudando sempre a administrar nossa minúscula lojinha no centro da cidade. Simply Wood (simplesmente madeira) era o nome da loja. Toda tarde depois do colégio eu ia para lá e ajudava-os a limpar, contar e repor o estoque e ajudar nas finanças, assim eu comecei a me interessar pelo ramo administrativo.

Apesar das nossas evidentes limitações financeiras, sempre pensei fora da caixa. Quando era um garoto, minhas brincadeiras sempre incluíam lojas e empresas das quais eu era o dono. Os meus avós sempre me incentivaram a estudar muito e ter ambição, contanto que não passasse por cima de ninguém para conseguir subir na vida. Essa era uma das lições mais valiosas deles, praticamente uma regra de ouro, a qual honro até hoje. O que ganhávamos com a loja era suficiente para nos manter, sem luxos, apenas o necessário e isso já era motivo de alegria para nós. Mesmo com a baixa condição monetária, meus avós pensavam no meu futuro e almejavam uma boa faculdade para mim. Diferente dos mais ricos que guardavam o fundo universitário de seus filhos no banco, eles me deram uma lata velha de tinta vazia, a qual meu avô tivera o prazer de decorar e sempre que sobravam umas moedinhas aqui e ali, eles colocavam dentro da lata e aquele dinheiro serviria para arcar com as despesas da faculdade.

Os anos foram passando e consequentemente a inflação subindo, Alan via-se com a corda no pescoço e se não fosse o apoio de Maryann, não sei o que poderia ter acontecido com ele. Infelizmente, as vendas não subiram junto ao preço do aluguel da loja, tivemos que fechar e devolvê-la para o dono. Eu tinha 14 anos e lembro ainda do tom carregado de dor arrastando as lágrimas do meu avô ao dizer:

— Foi necessário fechar — ele afagou meus fios de cabelo escorridos e enxugou as rugas de seu rosto cansado. — Mas isso não quer dizer que precisa desistir dos seus sonhos. Tenho fé que ainda vou te ver formado e sendo o grande administrador que nasceu para ser.

Suas palavras não saíram mais da minha mente desde aquele outono. Apesar das dificuldades que enfrentamos, nunca deixamos de tentar, eu me empenhei muito mais nos estudos e atividades extracurriculares, com a ajuda do orientador da escola, Franklin O'Connor, que me indicou todas as direções que precisava seguir se quisesse entrar em uma boa universidade. Meu avô continuou exercendo sua função e todos os dias, no sol ou chuva, ele tentava vender seus artesanatos de porta em porta enquanto minha avó tricotava, geralmente peças femininas como cachecóis, tiaras e afins. Houve um tempo que a nossa casa vivia cheia de mulheres, e ocasionalmente elas levavam suas filhas. Numa dessas eu conheci, Justine Larson.

Justine foi a garota com quem tive minha primeira experiência sexual aos 15 anos. Ela era dois anos mais velha que eu e confesso que aprendi bastante. Sua mãe sempre dizia à minha avó o quão Justine era inteligente e tirava ótimas notas na escola, mas era péssima em matemática, por coincidência minha matéria favorita. Desse modo, minha avó e eu, acabamos descobrindo um jeito proveitoso de termos uma renda extra, foi assim que me tornei o tutor de matemática da vizinhança. Isso contribuiu bastante para o meu currículo estudantil e o meu crescimento pessoal também, conheci muitas meninas interessantes. Não vou negar que a cada três delas com quem me envolvia sexualmente, eu me apaixonava por quatro. — Isso mesmo, eu quis dizer quatro. — Eu era e ainda sou muito romântico, a diferença é que agora sou bem mais pé no chão e não almejo casar e ter filhos com toda garota que se aproxima de mim. Fantasias de adolescente à parte.

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