Capítulo 8: Efeito Eloise

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Na verdade, foram duas noites incômodas no sofá. Selena não fez questão de olhar para mim. Eu sabia que tinha pisado feio na bola, mas nunca imaginei que passaríamos por isso, pelo menos não tão cedo assim.

Terça-feira pela tarde, quando estava no laboratório de informática da universidade, recebi o e-mail do assistente de Eloise. O motorista me buscaria às 06:00 p.m na sexta-feira indo direto para Pasadena, onde ela estaria me aguardando em um hotel. Além disso, anexado ao recado, uma lista de lojas de roupas masculinas em Palo Alto deixada como "sugestão" pela bela dama — sempre sutil.

Por amor e respeito enviei uma mensagem para Selly, antes de seguir, avisando-a sobre o que faria depois das aulas. Não fui surpreendido por ter sido ignorado, embora tenha me machucado um pouco.

— Como vai, Benjamin? — Cumprimentei-o ao entrar no carro.

— Bem, Sr. Kholer — acenou sutilmente.

— Por favor, só Adam — toquei seu ombro. — Se não se importar, poderia me levar...

— Tenho todos os endereços comigo — Benjamin riu.

— Deixa eu adivinhar, — respirei fundo — Eloise!?

— A própria — então rimos juntos.

Eu deveria saber que Eloise não fazia nada pela metade e suas sugestões não passavam de uma branda e distinta intimação. Antes mesmo que eu pudesse comunicar ao Benjamin o que faríamos à tarde, ela o fizera por mim e não acabou por ali. Todas as roupas haviam sido escolhidas anteriormente nas respectivas lojas de sua lista, o que restara para mim fora dizer o meu tamanho e passar o cartão.

Em duas horas terminei o que tinha para fazer e no caminho de volta comprei um lírio para Selly — sua flor preferida. — Permanecer distante dela não estava fazendo bem a mim, muito menos à nossa relação. Ao abrir a porta do apartamento respirei fundo, receoso de que o meu pedido de desculpas gerasse outra briga, pois eu não iria desistir do simpósio e muito menos desapontar Eloise.

Submersa em seus livros não moveu um músculo ao notar minha presença no quarto. Deixei as sacolas ao lado do guarda-roupas e joguei minha bolsa em qualquer lugar no chão. Caminhei até a cama segurando o lírio na mão direita e estendi o braço deixando as pétalas cobrirem as frases.

— Eu sinto muito, amor — disse no tom mais brando que consegui.

— Você sente muito por... — respondeu ainda imóvel.

— Por esquecer completamente do nosso aniversário — suspirei.

— Mas... — lia-me com tanta facilidade quanto seus livros.

— Ainda quero ir ao simpósio — afirmei por fim.

— Olha, Adam... — fechou o material e endireitou sua postura na cabeceira.

— Não quer que eu vá?

— Ficou louco!? — Balançou a cabeça. — Nunca pediria isso a você — respirei profundamente aliviado. — Não vou mentir, fiquei chateada com o modo como as coisas aconteceram e por ter esquecido completamente nosso aniversário, mas não atrasaria sua vida por nada no mundo.

— Você não me atrasa — segurei sua mão aberta pondo o lírio na palma. — Eu amo você, Selly.

— Eu sei — suspirou e cheirou as pétalas. — Desculpe por gritar e ignorar você.

— Passou — dei de ombros com um sorriso torto. — Senti saudades — beijei-lhe os lábios segurando em seu queixo.

— Acho que suas costas sentiram mais falta da cama — uma careta arrependida.

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